Os resultados recordes das elétricas em 2001 - ano marcado pelo racionamento de energia, que reduziu o consumo em boa parte do País - não estão sendo suficientes para animar os investidores na empreitada de novos projetos. Além da indefinição do cenário regulatório, as eleições presidenciais vêm contribuindo com a posição mais conservadora das empresas, principalmente estrangeiras. Junta-se a isso o fato de algumas controladoras de subsidiárias brasileiras estarem enfrentando dificuldades em seus países de origem. Os projetos em andamento continuam sendo tocados, mas as companhias estão prorrogando novos empreendimentos até que o cenário comece a se clarear, casos da EDP Brasil e da Alliant Energy. As duas empresas estão trabalhando apenas nos projetos definidos anteriormente e incluídos no orçamento de 2002. Segundo o diretor-presidente da EDP, Eduardo Bernini, "a programação deste ano sofreu poucas mudanças, mas não há nada de novo." Para o analista da Tendências Consultoria, Armando Franco, a previsão é que esta paralisia se mantenha, pelo menos, até o fim do segundo semestre, quando já estará definido o novo governo. As empresas temem que a próxima administração dê outro rumo ao setor elétrico, diferentemente do que está sendo discutido hoje no Projeto de Revitalização. Na área de geração, os investidores ainda esperam que as privatizações sejam reiniciadas. Há um outro fator, de origem externa, ao qual os analistas atribuem menor apetite dos empreendedores. É que, em razão de uma liquidez estreita e de uma disponibilidade de crédito mais restrita, estão revendo suas previsões de expansão de atividades em mercados emergentes. É o caso da americana AES e da espanhola Endesa, que anunciaram revisão nas estratégias para a América Latina. Outra que reduziu seus aportes para o Brasil foi a Pensylvania Power Light (PPL), que corre o risco até mesmo de perder a concessão da Cemar, do Maranhão, por causa da falta de capacidade de honrar os compromissos no mercado. A quebra da Enron acabou colocando as empresas mundiais de energia em dúvida. O que provocou grandes transtornos para os grupos internacionais. Roberto Lima Neto, da Câmara Brasileira de Investidores em Energia Elétrica (CBIEE), explica que as empresas deixaram de ter uma fonte farta de recursos no mercado financeiro. E agora não têm de onde tirar o dinheiro para se financiar ou renegociar suas dívidas. "Algumas empresas, como as americanas, dependiam mais do mercado finananceiro do que outras." Alto risco O resultado disso respingou nas subsidiárias brasileiras, que têm apresentado alto grau de endividamento. Conseqüentemente, os investimentos também são reduzidos. A Eletropaulo - controlada pela AES, que está em dificuldade - destinou este ano apenas cerca de R$ 250 milhões à expansão da rede, segundo informação do ex-presidente da empresa Luiz David Travesso. Mesmo com o lucro R$ 567 milhões, a empresa está tendo problemas para honrar seus compromissos, em especial com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Depois de muitas negociações, na semana passada a distribuidora parece ter conseguido refinanciar suas dívidas com a instituição. Segundo a agência de rating Standard & Poor´s, "a Eletropaulo tem apresentado uma carga crescente de endividamento e também de alto risco de refinanciamento de curto prazo". Na análise da agência, por causa das altas taxas de juros, a distribuidora optou por não fixar sua dívida a prazo e tem usado os financiamentos de curto prazo para rolar seus débitos.
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