Indústria brasileira cresce 0,1% em outubro e inicia quarto trimestre estagnada, mostra IBGE

Apesar do início do ciclo de afrouxamento, juros elevados permanecem afetando decisões de consumo e investimentos, ajudando a manter a tendência de menor dinamismo na produção

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RIO - A indústria brasileira iniciou o quarto trimestre estagnada. A produção cresceu apenas 0,1% em outubro ante setembro, após já ter ficado estável (0,0%) no mês anterior. Os dados são da Pesquisa Industrial Mensal - Produção Física, divulgados nesta sexta-feira, 1º, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

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“Os resultados da produção industrial até outubro foram caracterizados por variações pouco expressivas. De forma geral, registraram-se altas e baixas moderadas, que acabam se anulando nos resultados acumulados no ano”, resumiu a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Apesar do início do ciclo de afrouxamento monetário, os juros elevados permanecem afetando decisões de consumo e investimentos, ajudando a manter a tendência de menor dinamismo na produção industrial brasileira ao longo de 2023, justificou André Macedo, gerente da Coordenação de Indústria do IBGE.

“Esse é um fator importante a ser considerado para que a gente entenda essa característica de menor intensidade do setor industrial ao longo de 2023″, afirmou Macedo.

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Indústria brasileira chegou a outubro operando 1,6% aquém do patamar de fevereiro de 2020, no pré-pandemia de covid-19 Foto: Rodolfo Buhrer/La Imagem

Apesar do início em agosto dos cortes na taxa básica de juros, a Selic, a política monetária permanece restritiva, trazendo ainda reflexos negativos para o setor industrial, avaliou o pesquisador.

“A taxa de juros mais elevada afeta o comportamento das famílias em decisões de consumo, afeta a produção”, disse Macedo. “No caso de empresas, afeta a confiança, decisões do empresariado de investimentos.”

Ele reconhece, porém, que o efeito positivo sobre a atividade econômica do afrouxamento monetário já em curso pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central se dá com alguma defasagem de tempo.

“De fato, tem defasagem em relação a tomadas de decisões e efeitos não só na produção industrial, mas na economia. É possível que venha a acontecer, mas a gente não tem como afirmar”, ponderou Macedo. “A gente sabe que tem ali uma defasagem temporal. A trajetória descendente da taxa de juros claro que tem reflexo sobre confiança não só do consumidor, mas também do empresariado. Você tem algumas notícias que trazem algum alento, mas isso ainda não tem efeito direto sobre a trajetória do setor industrial ao longo de 2023.”

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A expansão de 1,6% registrada na produção de alimentos deu a principal contribuição para manter o desempenho da produção industrial ainda em território positivo em outubro ante setembro. Houve avanços em 14 dos 25 ramos pesquisados.

Além da contribuição decisiva dos alimentos, as demais principais influências positivas sobre o total da indústria partiram de produtos farmacêuticos (3,7%), máquinas e equipamentos (2,4%), produtos de metal (2,3%), veículos (0,9%), bebidas (1,6%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (2,3%) e produtos de borracha e de material plástico (1,3%).

Na direção oposta, entre as 11 atividades com recuo na produção, os destaques negativos foram derivados do petróleo e biocombustíveis (-1,4%) e indústrias extrativas (-1,1%). Houve perdas relevantes também em equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-2,6%) e impressão e reprodução de gravações (-5,8%).

“A heterogeneidade da indústria segue relevante, com alguns setores mostrando crescimento e outros com quedas relevantes. Isso fica evidente quando olhamos o desempenho das indústrias extrativas, que crescem 3,7% em 12 meses, e as indústrias de transformação, que caem 0,7% no mesmo período”, frisou João Savignon, chefe de pesquisa macroeconômica da gestora de recursos Kínitro Capital, em comentário. “De fato, a indústria segue estagnada em 2023, operando literalmente de lado desde meados de 2021.”

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A indústria brasileira chegou a outubro operando 1,6% aquém do patamar de fevereiro de 2020, no pré-pandemia de covid-19. Apenas sete das 25 atividades investigadas funcionam em nível superior ao pré-crise sanitária: outros equipamentos de transporte (11,9%), derivados do petróleo (10,5%), produtos do fumo (9,0%), extrativas (5,1%), máquinas e equipamentos (4,1%), impressão e reprodução de gravações (1,8%) e produtos alimentícios (1,6%).

No extremo oposto, os segmentos mais distantes do patamar pré-pandemia foram móveis (-29,6%), artigos de vestuário e acessórios (-29,0%), produtos diversos (-21,7%), máquinas e materiais elétricos (-20,8%), equipamentos de informática (-19,4%), couro e calçados (-19,1%) e veículos (-19,0%).

“Há um espaço importante ainda a ser recuperado por esse setor industrial das perdas relevantes do passado recente”, disse André Macedo, do IBGE.

Em outubro, a produção da indústria brasileira como um todo operava 18,1% aquém do pico alcançado em maio de 2011. Na categoria de bens de capital, a produção está 37,0% abaixo do pico registrado em abril de 2013, enquanto os bens de consumo duráveis operam 42,2% abaixo do ápice de março de 2011. Os bens intermediários estão 15,3% aquém do auge de maio de 2011, e os bens semiduráveis e não duráveis operam em nível 13,5% inferior ao pico de junho de 2013.

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Macedo confirmou ainda que o aumento sazonal da demanda por bens de consumo industriais na reta final do ano não ajudou a aumentar a produção.

“A parte de bens de consumo, que é bem atrelada a essas encomendas do fim do ano, ela marca dois meses seguidos de queda (na produção)”, frisou.

O pesquisador lembrou que a seca severa no estado do Amazonas prejudicou a produção de indústrias de bens de consumo na região da Zona Franca de Manaus. O transporte de matérias-primas foi afetado, atingindo especialmente a produção de bens de consumo duráveis, como os eletroeletrônicos.

“Mas a perda nessa categoria econômica (duráveis) não deriva só de fator pontual, tem uma conjuntura por trás”, disse Macedo. “A questão do crédito, a taxa de inadimplência, o maior endividamento são fatores importantes para compreender a perda que bens duráveis têm em relação a patamares anteriores.”

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