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Indústria debate gargalos e potencial da bioeconomia para novos negócios no Brasil

Caminhos para superar barreiras e a nova estratégia nacional para o setor estiveram no centro da discussão em evento no RJ sobre política industrial e inovação

Por Leandro Becker
Atualização:

RIO - A falta de dinheiro e de políticas públicas é um dos principais entraves para o Brasil aproveitar mais o potencial da bioeconomia na indústria. Os caminhos para superar essas barreiras e abrir mercados estiveram no centro de um dos três painéis do CNN Talks, realizado nesta quinta-feira, 15, no Rio de Janeiro (RJ). O evento, com apoio da Confederação Nacional da Indústria (CNI), da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), teve como tema a nova política industrial e o papel da inovação para a transformação.

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O recente decreto do governo federal que criou a estratégia nacional de bioeconomia foi apontado no primeiro painel do dia, que tratou de neoindustrialização e impulsionamento da área, como um passo importante para ações que incentivem a inovação na indústria. “A bioeconomia é uma das fronteiras mais promissoras, pois é onde sustentabilidade e tecnologia se encontram”, destacou Luiz Césio Caetano, vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan).

Diretor de Desenvolvimento Produtivo, Inovação e Comércio Exterior do BNDES, José Luis Gordon defendeu políticas públicas que coloquem a indústria no centro da agenda de desenvolvimento econômico e elencou quatro pilares para isso se tornar realidade: apoio à inovação, aumento das exportações, ganho de produtividade e incentivo à chamada “indústria verde”, que inclui a bioeconomia.

“Queremos que a indústria cresça e gere mais emprego e renda para o país, e isso passa por uma combinação entre esses fatores que não só valorize o potencial que já existe como permita ao país atrair investimentos de fora, em especial a partir da nossa matriz energética renovável e sustentável”, afirmou.

No evento, o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL-RJ) definiu a capacidade de diálogo como ponto-chave para fortalecer o setor industrial Foto: Pedro Kirilos/Estadão

Apesar de admitir que o recurso ainda poderia ser maior, o diretor ressaltou o crescimento na oferta de crédito e incentivos por parte do BNDES, principalmente para inovação. “Esse apoio é importante para diversas áreas. Na saúde, por exemplo, há possibilidade de usar a bioeconomia brasileira para desenvolver novos medicamentos. Então, tudo isso também faz com que mais empresas possam investir no Brasil”, salientou.

Questionado sobre juros, Gordon observou que o BNDES tem trabalhado para oferecer taxas diferenciadas para inovação industrial. Ele ainda destacou medidas recentes como aportes via Fundo Clima e a lei que instituiu a Letra de Crédito do Desenvolvimento (LCD) como apoios importantes para a indústria e a bioeconomia. “É uma forma de atuar diretamente sem afetar o fiscal e, ao mesmo tempo, ajudar o setor empresarial em medidas como descarbonizar, investir em biocombustíveis e outros eixos importantes”, frisou.

O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), que também esteve presente no evento, classificou a capacidade de diálogo como outro ponto-chave para fortalecer o setor industrial. “O diálogo que temos hoje, mesmo que não se concorde sempre, é um grande ativo, especialmente pelo esforço conjunto que tem sido feito para poder botar em prática o que é pactuado. E procuramos reforçar isso com ações, como, por exemplo, o esforço para modernização da gestão e os avanços em governança digital, para tornar tudo mais rápido e efetivo, o que ajuda, sobretudo, a indústria tecnológica”, observou.

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Resíduos de palmito

O painel sobre neoindustrialização e impulsionamento da bioeconomia também apresentou dois cases do setor industrial brasilleiro. O primeiro deles foi da startup Biosolvit, que desenvolveu um absorvedor natural de petróleo a partir de resíduos da extração da casca do palmito. O sistema pode ser utilizado para conter vazamentos ou derramamento de óleos, como combustíveis, tanto em estradas quanto no mar.

CEO da Biosolvit, Guilhermo Queiroz explicou que a ideia surgiu a partir da constatação que os resíduos da produção de palmito representavam 97% da massa da palmeira. “Vimos uma oportunidade para transformar esse resíduo em negócio com alto valor agregado”, explicou. O passo seguinte foi estruturar o sistema para isso, o que contou com apoio de pesquisadores de universidades e parceiros.

Queiroz contou que o absorvedor natural é ao menos três vezes mais eficiente do que outros existentes no mercado. “Conseguimos criar um produto que absorve 34 vezes o peso dele em menos de 15 minutos. Ao reduzir o tempo e aumentar a capacidade de absorção, o cliente que usa a tecnologia também diminui o tempo de ação do agente contaminante no meio ambiente”, pontuou.

Para ele, exemplos como esses mostram que o Brasil tem condição de ser protagonista em sustentabilidade e liderar uma transformação na indústria a partir da bioeconomia. “Não acreditamos que atuar com sustentabilidade custa mais caro, pelo contrário. E oferecer mais incentivos, como estimular o investimento privado em empresas inovadoras, é um caminho que pode trazer grande impacto”, ressaltou.

‘Vírus do bem’

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O segundo case apresentado no painel foi da Microbiotec, empresa que surgiu em 2020 como spin-off acadêmica da Universidade Federal de Viçosa (UFV), com apoio de um grupo de investimento de São Paulo. O diretor-executivo da empresa, Sergio Kuriyama, disse que a base do negócio são os bacteriófagos, o que chamou de “vírus do bem”.

Segundo ele, esses vírus estão presentes em muitos lugares e, através deles, é possível combater bactérias nocivas para a saúde humana. Isso faz com que sejam, por exemplo, uma alternativa aos antibióticos. “São uma solução sustentável, pois tiramos esse vírus do meio ambiente e, com tecnologia, conseguimos agir sobre as bactérias que queremos combater, como a salmonella. E essa aplicação pode ser muito mais ampla”, destacou.

Kuriyama contou que a empresa está desenvolvendo quatro produtos e já conta com a parceria de empresas de grande porte, como a Petrobras, por exemplo. “Vejo potencial gigantesco, principalmente a partir da nova estratégia nacional de bioeconomia, de produzirmos tecnologias que vão competir no mercado internacional. E isso pode alavancar o Brasil para outro patamar em termos de indústria”, concluiu.

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