Análise | Indústria reage, mas falta garantir uma nova fase de crescimento

O deslanche de uma nova fase de crescimento e modernização da indústria depende de algumas condições políticas; será indispensável evitar tentações à repetição de erros do passado

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Foto do author Rolf Kuntz
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Com vitalidade raramente observada na década anterior, a indústria cresceu 2,2% nos 12 meses até julho e produziu em sete meses 3,2% mais que um ano antes, liderada pelo setor automobilístico. O recuo mensal de 1,4% em julho, depois de um avanço de 4,3% no mês anterior, foi insuficiente para ofuscar os ganhos acumulados a partir de 2023. A produção caiu em seis dos dez anos entre 2014 e 2023, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Isso bastaria, mesmo sem a crescente importância da agropecuária, para diminuir o peso do setor industrial na economia brasileira.

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Só um crescimento firme e prolongado levará a indústria a recobrar a posição perdida na maior parte do século 21. No trimestre móvel encerrado em julho, a produção da indústria geral ficou 15,5% abaixo do pico alcançado em maio de 2011. Afetadas por um tombo maior, as fábricas de bens de capital – máquinas e equipamentos – produziram 26,7% menos que em abril de 2013. Empresas industriais compram apenas uma parte desses bens, destinados também a outros setores e à exportação. Mas o prolongado recuo do segmento de bens de capital é em boa parte explicável pelo menor investimento produtivo do setor fabril.

Embora já se observe alguma reação da indústria, o governo pode ter argumentos a favor de uma nova política industrial. Já esboçada no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, essa política poderá ser desfigurada se o presidente Luiz Inácio Lula da Silva intervier de forma voluntarista, como tem feito, por exemplo, na Petrobras. Detê-lo poderá ser uma tarefa complicada, se ele se entusiasmar com alguma ideia. A missão caberá principalmente ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Será indispensável ao governo Lula evitar a repetição de erros cometidos em políticas industriais Foto: Ricardo Stuckert/PR

Para qualquer política industrial também, será necessária, muito provavelmente, uma boa articulação com o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Será indispensável, naturalmente, evitar a repetição de erros cometidos em políticas industriais. Há exemplos bem conhecidos e a política dos campeões nacionais é um dos casos mais notáveis. Alguns ministros e técnicos do Executivo devem ter o necessário conhecimento desses casos para evitar sua repetição.

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Algumas tentações muito perigosas poderiam constar de manuais básicos de industrialização. Exemplos bem conhecidos são as escolhas de campeões nacionais, os benefícios fiscais sem rigorosa cobrança de contrapartida, o protecionismo excessivo e políticas prolongadas de atração regional. Muito dinheiro público foi desperdiçado na distribuição de incentivos mal planejados e mal concedidos. Barreiras alfandegárias mal administradas propiciaram condições muito cômodas a grupos empresariais privilegiados, com grandes custos para o Tesouro e distorções enormes na operação dos mercados.

Uma boa articulação dos ministérios do Planejamento, do Desenvolvimento e da Fazenda poderá, desta vez, evitar a reedição desse conjunto de erros ou de sua maior parte. Mas políticas eficientes e saudáveis podem depender de negociações com parlamentares e da contenção, nem sempre fácil, dos impulsos presidenciais. Estas são algumas condições políticas para o deslanche e o bom desdobramento de uma nova fase de crescimento e modernização da indústria.

Análise por Rolf Kuntz

Jornalista

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