Comida cara, inflação persistente e menor crescimento formam o quadro desenhado pelos últimos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e pelas novas projeções do Banco Central (BC), apresentadas em seu relatório trimestral de política monetária.
Se quiser garantir uma economia mais saudável neste ano e no próximo – a metade final de seu terceiro mandato –, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva terá de reduzir a gastança eleitoral e cuidar mais do equilíbrio das contas públicas.
A inflação mensal diminuiu de 1,23% em fevereiro para 0,64% em março, mas a taxa acumulada em 12 meses subiu de 4,96% para 5,26%, mantendo-se longe da meta de 3% e ainda superando o teto (4,5%) fixado pela política oficial. Os números são do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo–15 (IPCA-15), medido entre o meio de um mês e o meio do mês seguinte.

Como sempre, a onda inflacionária foi mais prejudicial às famílias de renda baixa e média baixa. Neste caso, no entanto, a alta de preços foi especialmente danosa, porque foi puxada pelo encarecimento do item alimentação e bebidas, com variação mensal de 1,09% e de 7,30% em 12 meses. Com elevação de 0,92% em março e 5,35% em um ano, o custo dos transportes, também muito importante para a maioria da população, afetou severamente o orçamento dos brasileiros.
Pelas projeções citadas no relatório do BC, a inflação anual deverá cair para 5,1% no final de 2025 e para 3,7% em 2026, mantendo-se, portanto, acima da meta central. Segundo o mesmo documento, a estimativa de crescimento econômico em 2025 passou de 2,1% para 1,9%, num quadro de preços ainda desarranjados. Ao resumir o cenário, o relatório qualifica como “desafiadora” a convergência para a meta.
Contrariando uma velha prática brasileira, tradicionalmente apoiada pela esquerda, o governo do presidente Lula se absteve, até agora, de intervir diretamente no sistema de preços, preferindo recorrer à importação de alimentos. Além disso, comprometeu-se a reforçar o financiamento da próxima safra de grãos e a cuidar da formação de estoques, um costume pouco seguido nos últimos dez anos.
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Formar e manter estoques oficiais são ações costumeiras no mundo civilizado, adotadas no Brasil por mais de meio século, relaxadas há algum tempo e agora aparentemente redescobertas. Preservar reservas de alimentos é em primeiro lugar um procedimento de segurança interna. Mas pode ser também componente de uma estratégia comercial seguida de forma rotineira e mais valorizada em outros tempos.
Pensar nesse tipo de estratégia, no entanto, envolve alguma atenção ao longo prazo, um tipo de preocupação fora dos padrões observados mais comumente em Brasília. Equilíbrio das contas públicas é um exemplo de objetivo importante a longo prazo e, frequentemente, também nos prazos mais curtos. Falta difundir esse tipo de preocupação nos níveis mais altos da legislação e da administração nacionais.