O caminho do Banco Central está mais difícil do que o mercado financeiro levava a crer há algumas semanas. A ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada nesta terça-feira, 26, reforçou o cenário de que a autoridade monetária não deve acelerar o ritmo de corte da taxa básica de juros (Selic) - atualmente, em 12,75% ao ano.
Se ainda havia quem apostasse em aceleração da queda de juros neste ano após o comunicado, já não há mais depois da ata. O roteiro a ser seguido nas reuniões de novembro e dezembro parece desenhado: cortes de 0,5 ponto porcentual na taxa básica em cada encontro, levando a Selic para 11,75% ao fim deste ano. Nas últimas semanas, surgiram no radar projeções mais otimistas, de um recuo de 0,75 ponto, em pelo menos uma das reuniões.
As últimas projeções do mercado mostram que o Banco Central assumiria riscos ao dar um passo maior no corte de juros. No relatório Focus, as previsões de inflação para os próximos três anos estão acima da meta. Elas até recuaram em relação ao momento de mais incerteza dos investidores com o governo Lula, mas essa queda não ocorre mais. Para 2024 e 2025, por exemplo, as previsões para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) estão estacionadas em 3,86% e 3,50%, respectivamente. O centro da meta - que deve ser perseguido pela autoridade monetária - é de 3%.
Nesta quarta-feira, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), que serve como uma prévia da inflação oficial no País, voltou a mostrar uma aceleração. Em 12 meses, a taxa chegou a 5%.
As projeções e os dados recentes de inflação contam apenas parte desse caminho que deve ser mais difícil para o Banco Central. No exterior, o preço do petróleo voltou a subir e existe uma incerteza em relação ao nível das taxas de juros nos Estados Unidos. Não está descartada a possibilidade de uma nova alta pelo Federal Reserve, o que pode obrigar o BC brasileiro a manter os juros mais altos, para evitar um diferencial tão baixo com a principal economia do mundo.
No campo doméstico, a dúvida é se a equipe econômica vai ser capaz de entregar os resultados fiscais prometidos. A ata do BC destacou a “importância da firme persecução dessas metas”. O governo promete um primário zero no ano que vem, mas depende do Congresso para conseguir ampliar as receitas em R$ 168,5 bilhões e alcançar esse número mágico.
Com um cenário certo de frustração de receita, o mercado não acredita no cumprimento da meta fiscal e se vale dos sinais de esforço da equipe econômica para tentar reduzir ao máximo o déficit das contas públicas.
Num ano em que Lula trouxe o tema da política monetária para o centro do debate político, facilitar o caminho do BC vai passar, em boa medida, pela capacidade do governo de entregar o resultado fiscal prometido - ou chegar perto dele. Sem poder contar com as receitas planejadas, o governo estará disposto a rever despesas e, eventualmente, mexer com grupos de interesse por um número fiscal melhor?
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