Depois do café e da carne, os ovos de Páscoa podem entrar para grupo dos vilões da inflação neste ano. Em 12 meses até dezembro de 2024, o preço do cacau no mercado internacional, a matéria-prima básica para a produção do chocolate, subiu 189%. O cacau foi a commodity agrícola que mais aumentou de preço, à frente do café (140,3%), do leite (22,6%), do milho (9,3%) e do trigo (9%), segundo levantamento da Associação Brasileira da Indústria de Alimentação (Abia).
Os preços do cacau foram pressionados pela redução na safra da Costa do Marfim, que é o maior produtor. “Vai ter impacto na indústria de chocolate”, afirmou o presidente do conselho da entidade, Gustavo Bastos, durante a divulgação do desempenho do setor em 2024. Ele observou que parte desse aumento de custo, não a totalidade, deve ser repassada para o preço do chocolate. No entanto, ele ressalvou que é cedo para prever quanto os ovos de chocolate ficarão mais caros nesta Páscoa.

A tendência, disse o executivo, é de que os preços dos ovos de Páscoa sigam o mercado de chocolate como um todo. No momento, a indústria negocia os repasses com o varejo.
Por conta dessa pressão de custo e da menor oferta de cacau, o representante da indústria acredita que os fabricantes poderão ampliar a presença de outros itens nos ovos de Páscoa, como biscoitos, por exemplo, a fim de reduzir o impacto da alta de preços ao consumidor. No entanto, ele ponderou que o provável aumento não deve ser “absurdo, acima da inflação, a ponto de impossibilitar que todo mundo tenha seu ovinho de Páscoa no domingo”.
Inflação
O ano de 2024 foi desafiador para indústria de alimentos devido à pressão inflacionária provocada por problemas climáticos que afetaram a produção agropecuária, além do aumento das embalagens, energia e da desvalorização do câmbio.
Os custos da indústria subiram 9,3% nas contas da Abia, enquanto a inflação dos alimentos industrializados teve alta de 7,7% no mesmo período, segundo dados do IPCA.
O presidente da entidade, João Dornellas, ressaltou que a indústria não repassou integralmente os aumentos de custos para o consumidor final e que absorveu a maior parte dessa pressão com ampliação de volumes, maior eficiência e maior investimento, sobretudo em inovação.
No ano passado, o setor atingiu investimento recorde. Foram aplicados R$ 38,7 bilhões, a maior parte (R$ 24,9 bilhões) em inovação e aumento da capacidade e o restante em fusões e aquisições. Hoje a indústria de alimentos utiliza 75% da capacidade instalada nas fábricas.
De parte da Abia, a entidade reforçou com o governo a meta interna de investimentos de R$ 120 bilhões entre 2023 e 2026. O presidente executivo destacou que entre 2023 e 2024, 62% do objetivo já foi cumprido. “Esse investimento foi muito bem recebido pelo presidente (Lula), porque gera emprego e renda. Quando você contrata novas plantas, permite uma produção mais eficiente. Estamos trabalhando contra esse aumento de preço que poderia chegar ao consumidor”, afirmou. Ele acredita que a meta da entidade de investimentos na indústria deve ser ultrapassada, apesar do cenário de juros altos.
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Segundo Dornellas, a entidade já se reuniu com o governo federal com o intuito de propor medidas para conter a inflação de alimentos. As sugestões incluíram melhorias na infraestrutura logística e de transportes e reduções tarifárias na importação de matérias-primas utilizadas nas embalagens, e foram muito bem recebidas por ministros.
No ano passado, a indústria brasileira de alimentos e bebidas registrou aumento de 9,98% no faturamento para R$ 1,277 trilhões. Os volumes produzidos em 2024 cresceram 3,2% em comparação com 2023, para 283 milhões de toneladas. Desse total, 72%, ou R$ 918 bilhões, são provenientes do mercado interno e 28% do comércio exterior (US$ 66,3 bilhões). As vendas reais totais (mercado interno e exportações) apresentaram expansão de 6,1% em 2024.
Para este ano, a expectativa da entidade é um crescimento de 2% a 2,5% nas vendas reais, descontadas a inflação. Esse cenário é projetado diante de uma expectativa de um Produto Interno Bruto (PIB) de 1,8% a 2,2%.