Inflação surpreende e Wall Street reforça aposta por corte de juros nos EUA

Queda no índice leva analistas do mercado financeiro a considerar uma virada na política monetária do Fed, o banco central americano, já em setembro

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Foto do author Aline Bronzati
Atualização:

NOVA YORK - A inflação nos Estados Unidos em junho surpreendeu para o bem e fez Wall Street ampliar a aposta pelo esperado início do corte de juros no país. É quase unânime a expectativa de que a virada na chave da política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) venha em setembro. Ao menos um corte é esperado para este ano, depois do atraso causado pela resistência dos preços na maior economia do mundo. Para os mais otimistas, os dados sustentam até três reduções nas taxas.

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O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) dos EUA teve queda de 0,1% em junho na comparação com maio, informou nesta quinta-feira, 11, o Departamento do Trabalho americano. O resultado surpreendeu analistas consultados pelo Projeções Broadcast, que esperavam alta de 0,1% no período.

O núcleo do CPI, que exclui os voláteis preços de alimentos e energia, também foi um condutor de boas notícias. Subiu 0,1% em junho ante maio, também aquém da alta de 0,2% prevista por Wall Street. No ano, O CPI foi a 3% e o núcleo a 3,3% em junho, desacelerando frente a maio, quando os indicadores tiveram incremento anual de 3,3% e 3,4%, respectivamente.

Falas do presidente do Fed, Jerome Powell, nesta semana, já haviam sido interpretadas como apontando uma maior inclinação da autoridade a começar a cortar os juros nos EUA Foto: Bonnie Cash/BONNIE CASH

“O CPI de junho incentivará os mercados a aumentar a probabilidade de um corte de taxa em setembro pelo Federal Reserve”, avaliou o guru e conselheiro econômico da Allianz, Mohamed El-Erian, em seu perfil no ‘X’ (antigo Twitter).

E foi exatamente o que aconteceu. Após o CPI, as chances de o Fed acionar a sua tesoura pela primeira vez em setembro quebrarem o patamar dos 90%, conforme levantamento da plataforma americana CME Group.

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Na prática, o CPI de junho foi música para Wall Street. “Aumente a música, porque a festa da guinada do Fed parece que vai começar oficialmente depois da leitura suave do CPI de junho de hoje”, diz o economista do canadense CIBC Economics, Ali Jaffery.

Qual setor influenciou

Dentre os pontos positivos do indicador, está o setor de serviços, com a queda dos preços de habitação, com a esperada trégua no aluguel, fora baixas importantes em hospedagem e tarifas aéreas. Os seguros de automóveis não ajudaram, mas os segmentos de carros alugados e manutenção e reparação de veículos vieram abaixo do esperado, segundo o Itaú Unibanco, que espera dois cortes de juros por parte do Fed neste ano.

“Os dados de inflação de hoje mantiveram a porta muito aberta para uma abordagem equilibrada, e uma guinada para a próxima reunião do Fed. É bem provável que o Comitê (FOMC) inicie o corte gradual das taxas em setembro”, afirma o diretor de investimentos de renda fixa global da BlackRock, Rick Rieder.

Os primeiros sinais do “pivô” do Fed, ou seja, uma mudança na postura da autoridade monetária rumo ao início da flexibilização monetária nos EUA, podem vir já na reunião de julho, prevê a economista-chefe para os EUA da High Frequency Economics (HFE), Rubeela Farooqi. Seria o primeiro passo para o Fed começar a cortar em setembro, como a maioria de Wall Street prevê.

Quanto cairia o juro

Nesta semana, as falas do presidente do Fed, Jerome Powell, foram interpretadas como mais ‘dovish’, ou seja, apontando uma maior inclinação da autoridade a começar a cortar os juros nos EUA. Ele disse que a inflação americana está apresentando melhora em linha com o previsto, mas que não precisa esperar que retorne à meta de 2% ao ano para começar a reduzir as taxas. Uma fraqueza adicional no mercado de trabalho poderia ser uma razão para dar o pontapé no corte de juros.

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“Conforme fazemos progresso na inflação e no emprego, uma redução nos juros parece provável”, disse Powell, ao ser sabatinado por senadores americanos, nesta semana.

Atualmente, os chamados ‘Fed Funds’, que são os juros básicos americanos, estão 5,25% e 5,50% ao ano, no maior patamar desde 2001. As taxas já foram mantidas sete vezes consecutivas em meio à resistência da inflação nos EUA e que obrigou o Fed a capitanear o maior aperto monetário da história americana recente para conter a disparada dos preços na esteira da covid-19.

Mais cético, o Bank of America ainda espera que o Fed comece a cortar as taxas apenas em dezembro, na sua última reunião de 2024, após as eleições presidenciais nos EUA. Admite, contudo, que há riscos crescentes de a autoridade começar a agir antes após os melhores sinais vindo da inflação no país. Por sua vez, o holandês ING, mais otimista que a maioria, vê no CPI melhor que o previsto em junho razões para reafirmar a expectativa de três cortes de juros neste ano.

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