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Deflação é mais um ponto positivo para o governo, mas jogo está longe de estar ganho; leia análise

Ministério da Fazenda coleciona vitórias neste início de governo, mas ainda tem uma série de batalhas muito difíceis pela frente

Foto do author Alexandre Calais
Atualização:

A deflação de 0,08% em junho é mais uma boa notícia para ser colocada em um caldeirão considerado bastante positivo para o governo neste ano. Junte-se aí a aprovação, na Câmara, da reforma tributária, na semana passada - talvez a notícia mais importante para a economia em muitos e muitos anos. Mas também houve outras vitórias, como a volta do voto de desempate para o governo no Carf - o tribunal que julga litígios envolvendo contribuintes e a Receita - e a aprovação do novo arcabouço fiscal (que ainda depende de uma votação na Câmara, mas que ninguém acredita que possa mudar muito).

O resultado do IPCA do mês passado chega em um momento importante para o governo. Em pouco mais de duas semanas, nos dias 1º e 2 de agosto, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central se reúne para definir os rumos da taxa de juros. O mercado já dá como certo que a Selic vá começar a cair nessa reunião, e essa deflação em junho deve corroborar essas apostas.

Banco Central pode iniciar em agosto o ciclo de cortes da Selic Foto: Wilton Júnior/Estadão

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A melhora no cenário pode ser captada nas projeções de analistas ouvidos pelo BC no Boletim Focus, que é divulgado semanalmente. Em janeiro, a previsão era que o PIB tivesse um crescimento de 0,8% este ano. Na pesquisa divulgada nesta segunda-feira, 10, esse número estava em 2,18%. No caso da inflação, a projeção em janeiro era de terminar 2023 em 5,31%. Agora, está em 4,95%, e caindo semana após semana.

Já há muitos economistas apostando até que o Banco Central pode entregar a inflação dentro da meta este ano. O objetivo perseguido é de 3,25%, com margem de tolerância de 1,5 ponto, para cima ou para baixo. Ou seja, se ficar em no máximo 4,75%, o BC terá cumprido seu papel, depois de dois anos seguidos de descumprimento.

É, em suma, um cenário muito melhor que o projetado no início do ano. Mas o jogo está muito, muito longe de estar ganho. Há muitas batalhas pela frente esperando o ministro Fernando Haddad.

Uma delas é colocar de pé o arcabouço fiscal, o projeto criado para substituir o teto de gastos, e que vai dar limites aos gastos do governo. Da forma como ficou, será necessário um aumento de arrecadação bastante robusto no ano que vem - estimado em mais de R$ 150 bilhões. Algumas vitórias, como a volta do voto de desempate pró-governo no Carf, ajudam nesse sentido, mas ainda não está claro de onde vai vir todo esse dinheiro. Não será uma tarefa fácil.

Outra é evitar que o projeto de reforma tributária seja ainda mais desfigurado no Senado. Na Câmara, foi necessária uma série de concessões a grupos de interesse para que o projeto fosse aprovado, resultando em um número excessivo de produtos e serviços beneficiados com alíquotas mais baixas. Esse jogo de interesses deve continuar no Senado, e é preciso evitar que o projeto se esburaque ainda mais.

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Ainda dentro da reforma tributária, uma nova batalha deve começar em breve: a mudança dos impostos sobre a renda, como IRPF, IRPJ e CSLL. Haddad já informou que não vai esperar a reforma tributária aprovada na Câmara passar no Senado para enviar a proposta de mudança sobre a tributação da renda. Mas haverá temas espinhosos no caminho, como a cobrança sobre lucros e dividendos e o fim de benefícios fiscais.

O governo tem mesmo de comemorar o que já conseguiu até aqui, foi mais do que se esperava. Mas o trabalho está só no início, se o objetivo é mesmo criar uma forma de desenvolvimento que se sustente no longo prazo, e não aos soluços, como é, infelizmente, o normal no Brasil.

*Editor de Economia

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