RIO - Sob a pressão do encarecimento da gasolina e das passagens aéreas, a inflação oficial no País teve ligeira aceleração na passagem de agosto para setembro. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) saiu de 0,23% para 0,26% no período, informou nesta quarta-feira, 11, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
No entanto, o resultado foi considerado benigno por economistas, vindo praticamente no piso das estimativas dos analistas do mercado financeiro ouvidos pelo Projeções Broadcast, que previam um aumento mediano de 0,32%. O impacto da elevação nos custos dos transportes foi parcialmente compensado por uma nova redução nos preços dos alimentos.
A surpresa baixista levou a algumas revisões para baixo nas estimativas para a inflação ao fim de 2023. A taxa de inflação acumulada em 12 meses subiu a 5,19% em setembro, terceira elevação consecutiva, para patamar que pode ter sido o pico no ano. A meta de inflação perseguida pelo Banco Central é de 3,25% ao fim de 2023, com teto de tolerância de 4,75%.
Após a divulgação, a agência de classificação de risco Austin Rating reduziu sua projeção para o IPCA de 2023, de 4,83% para 4,75%, ficando assim no teto da meta. Segundo Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, a surpresa em setembro foi decorrente de aumentos mais brandos que o esperado nos combustíveis e no grupo de saúde e cuidados pessoais.
“Isso configura de fato que a inflação vem perdendo força. O Banco Central com essa estratégia de uma política monetária ainda contracionista permite a inflação seguir convergindo pra meta tanto para 2023 quanto 2024 e 2025, isso é importante”, avaliou Agostini, em comentário em que prevê um novo corte de 0,50 ponto porcentual na taxa básica de juros, a Selic, na próxima reunião do Comitê de Política Monetária do BC, em 31 de outubro e 1º de novembro.
Para o economista André Perfeito, o resultado foi “muito bom e reitera uma visão mais benigna da política monetária”, com manutenção no ritmo e cortes de 0,50 ponto porcentual na Selic, dos atuais 12,75% para 11,75% ao final deste ano.
“O mercado deve manter as projeções de Selic em 9% ao final do ciclo e se isto realmente se confirmar devemos ter um PIB (Produto Interno Bruto) mais forte em 2024. Atualmente projeto PIB em 2% para o ano que vem, mas as chances hoje são maiores para 3%”, estimou Perfeito, em comentário. “O Brasil pode entrar num momento de euforia na conjunção de inflação sob controle, juros em queda, atividade ganhando força (massa salarial em alta) e o fato de ser uma economia ‘longe’ dos problemas geopolíticos atuais. Esta é uma situação inédita no sentido de certo deslocamento da dinâmica global, mas é uma hipótese que devemos considerar.”
Em setembro, três dos nove grupos de bens e serviços investigados no IPCA registraram deflação: além de alimentação, também recuaram os preços de artigos de residência e de comunicação. O índice de difusão, que mostra o porcentual de itens com aumentos de preços, desceu de 53% em agosto para 43% em setembro, o mais baixo desde julho de 2017.
“Um índice de difusão menor em relação ao mês anterior significa que a inflação está menos espalhada”, confirmou André Almeida, gerente do Sistema de Índices de Preços do IBGE.
Apenas as altas nos preços da gasolina e das passagens aéreas responderam juntas por cerca de 80% de toda a inflação oficial no País em setembro. A gasolina aumentou 2,80% em setembro, subitem com a maior contribuição individual, 0,14 ponto porcentual de impacto. As passagens aéreas subiram 13,47% em setembro, uma pressão adicional de 0,07 ponto porcentual.
Os combustíveis tiveram alta de 2,70% no mês. Além da gasolina, o óleo diesel ficou 10,11% mais caro, e o gás veicular subiu 0,66%. Já o preço do etanol caiu 0,62%.
A energia elétrica teve um aumento de 0,99%, e o plano de saúde ficou 0,71% mais caro.
Por outro lado, os preços dos alimentos completaram em setembro quatro meses seguidos de quedas, contribuindo para deter a inflação no País no período. O grupo Alimentação e bebidas acumulou uma redução de 2,65% nos últimos quatro meses: o custo da alimentação para consumo no domicílio acumulou queda de 4,01% entre junho e setembro, enquanto a alimentação fora do domicílio teve alta de 1,01%.
Os alimentos comprados nos supermercados caíram 1,02% apenas em setembro. As famílias pagaram menos pela batata-inglesa (-10,41%), cebola (-8,08%), ovo de galinha (-4,96%), leite longa vida (-4,06%) e carnes (-2,10%). André Almeida, do IBGE, lembra que quatro itens alimentícios figuram entre os cinco principais impactos negativos no IPCA de setembro: leite longa vida (-0,03 p.p.), batata-inglesa (-0,02 p.p.), ovo de galinha (-0,02 p.p.) e mamão (-0,01 p.p.).
“Os preços dos alimentos estão caindo por maior disponibilidade, maior oferta de produtos no mercado”, justificou Almeida. “A safra tem contribuído para uma maior disponibilidade dos alimentos no mercado. Tem maior oferta por maior safra, a maior produção tem contribuído para uma maior redução nos preços dos alimentos”, explicou, acrescentando que a redução de preços de algumas commodities também pode ter ajudado, além de uma queda nos custos de produção.
Os preços das carnes já acumulam uma redução de 11,55% de janeiro a setembro de 2023. As aves e ovos ficaram 7,93% mais baratos no ano, enquanto os óleos e gorduras já caíram 17,41%.
A LCA Consultores tinha reduzido nesta semana sua projeção para o IPCA de 2023, de uma alta de 5,0% para 4,8%, motivada por uma menor chance de reajuste nos combustíveis neste último trimestre do ano, diante de uma queda recente na defasagem entre os preços domésticos e os praticados no mercado internacional, mas também da evolução mais benigna dos preços agropecuários no atacado, que melhoram as perspectivas para o varejo.
“Com a divulgação deste IPCA de setembro, avaliamos que a probabilidade destes fatores ganhou força adicional, o que nos fez promover novo rebaixamento, para +4,7% (no IPCA 2023, dentro do teto da meta de inflação)”, escreveu Fábio Romão, economista da LCA, em relatório.
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