Emprego recorde e repique da inflação marcaram o mês de agosto, contrastando com o menor dinamismo do consumo. Puxada pela indústria, a atividade econômica teve aumento mensal de 0,2% em agosto e de 2,5% em 12 meses, segundo o indicador do Banco Central (IBC-Br). No mês, a produção industrial cresceu 0,1%, sem compensar o recuo de 1,4% registrado em julho, e acumulou expansão de 2,4% em 12 meses, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Também segundo o instituto, a produção de serviços diminuiu 0,4% no mês, e as vendas do comércio varejista encolheram 0,3%, mas as duas atividades ainda apresentaram resultados positivos em 12 meses, com taxas de crescimento de 1,9% e 4%, respectivamente.
O desemprego baixou para 6,6% (7,3 milhões de pessoas) no trimestre encerrado em agosto. Foi a menor taxa para esse período na série estatística iniciada em 2012. Um ano antes, a desocupação afetava 7,8% da força de trabalho. Também o total de trabalhadores, 102,5 milhões, foi recorde. Esse contingente foi 2,9% maior que o registrado no período de junho a agosto de 2023.
A melhora das condições de emprego tende a fortalecer o consumo, mas esse efeito pode ser parcialmente prejudicado pelo aumento dos preços. Apesar da redução de 0,3% na taxa mensal e de 0,2% na média móvel trimestral, o volume de vendas do comércio varejista no período de janeiro a agosto foi 5,1% maior que o de um ano antes e o acumulado em 12 meses cresceu 4%. Esses dados também são do IBGE.
Fora das estatísticas oficiais, também os números da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostram um quadro positivo de emprego e salários. Sem resultado negativo há 11 meses, o emprego industrial aumentou 0,4% em agosto e superou por 3,1% o nível de um ano antes. O indicador da massa de salários teve aumento mensal de 1,5% e superou por 1,7% o nível de agosto do ano passado. Em oito meses, o faturamento real, isto é, descontada a inflação, foi 3,7% maior que o de janeiro a agosto de 2023. As horas de trabalho aumentaram 3,6% de um ano para outro e ficaram estáveis (+0,1%) entre julho e agosto deste ano.
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Gastos públicos em alta, incerteza quanto às contas federais e inflação ainda longe do centro da meta, fixado em 3%, limitam o otimismo dos analistas. A inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), ficou em 0,44% em setembro e acumulou a taxa de 4,42% em 12 meses, quase atingindo o limite de tolerância (4,5%). No ano, os preços já aumentaram 3,31%, superaram o objetivo central e ainda poderão ser pressionados nos dois meses e meio finais.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva continua mostrando pouco empenho em combater o desequilíbrio fiscal e em conter o risco inflacionário. Isso complica a tarefa do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e dificulta a adoção, pelo Banco Central (BC), de uma política monetária menos dura, com juros mais baixos e mais favorável à expansão do crédito e ao crescimento econômico. Se um novo aperto monetário prejudicar a expansão dos negócios e do emprego, a responsabilidade caberá principalmente ao presidente da República.
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