Governar é gastar, segundo o padrão do lulopetismo, e aumento de preços é um efeito previsível da gastança. Fiel a essa tradição, o governo Lula subiu mais um degrau e elevou o patamar da inflação, com o resultado, atingido em fevereiro, de 5,06% em 12 meses. O avanço foi bem visível já no ano passado.
Depois de alguma oscilação, a alta de preços voltou em junho à faixa dos 4% anuais e aí ficou até janeiro, antes de mais uma ascensão. Entre 2001 e 2024, a inflação superou 4,5% em 18 anos. Projeções do mercado apontam mais um número alto no fim deste ano, provavelmente superior a 5%.
Não há sinal de uma séria preocupação com a alta geral de preços no Palácio do Planalto. O presidente da República até reagiu quando o custo da cesta básica deu um salto na virada do ano. Limitou-se, no entanto, a poucas medidas sem grande efeito, como o corte de impostos de importação. Ele também recomendou aos consumidores a busca de produtos mais baratos, como se esse cuidado fosse novidade para a maioria das donas de casa.

O aumento do emprego e da renda familiar facilitou a sobrevivência de milhões de famílias nos últimos dois anos, mas a economia perde vigor desde o final de 2024. O risco inflacionário, no entanto, permanece elevado, mesmo com as medidas de contenção do crédito anunciadas pelo Banco Central (BC). A perspectiva de uma supersafra de grãos tem sido apontada, em Brasília, como sinal de arrefecimento dos preços. Mas esse efeito, se ocorrer, ainda levará algum tempo para se tornar sensível.
Além disso, o governo já poderia ter interferido nas condições do mercado se dispusesse de estoques para regular a oferta. A formação e a manutenção de estoques foram, durante décadas, componentes indispensáveis das políticas de produção e de abastecimento.
Práticas desse tipo, no entanto, foram reduzidas ou abandonadas nos últimos anos, como se os governantes houvessem desaprendido lições importantes de administração econômica e de segurança.
Quando se trata de administração fiscal, isto é, das condução das contas públicas, a noção de segurança parece haver-se tornado quase irrelevante, na cúpula do governo.
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O déficit federal ficou dentro dos limites fixados pela assessoria presidencial, nos últimos dois anos, e o resultado negativo foi em parte justificado por ações excepcionais, como o apoio à população gaúcha afetada por enchentes. Não há notícia, no entanto, de um esforço voltado seriamente para a contenção de gastos e para a revisão das despesas públicas.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem até mostrado alguma preocupação com essas questões, mas a conversa logo se esfria. Revisão e racionalização de gastos são temas frequentes na gestão do setor privado, mas têm atraído, há anos, pouca atenção no governo federal.
Se alguém se ocupa dessas questões em algum ministério ou em alguma secretaria, o efeito desse trabalho permanece invisível, ou quase, mesmo para quem acompanha regularmente o dia a dia da administração central. Sem se mostrar interessado nesse tipo de assunto, o presidente Lula continua cuidando de seus interesses eleitorais e exercitando amplamente o poder de gastar.