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Análise|Inflação no teto da meta reforça preocupação do Banco Central e fragiliza ataques de Lula

IBGE divulga o IPCA de julho, com alta de 4,5% nos últimos 12 meses, no limite da margem de tolerância do regime de metas

Foto do author Alvaro Gribel
Atualização:

BRASÍLIA - A inflação em julho veio um pouco acima do previsto pelo mercado financeiro (0,38%, ante projeção de 0,35% em média, segundo o Projeções Broadcast). Isso fez com que a taxa acumulada em 12 meses voltasse para 4,5%, exatamente o limite de tolerância da meta, que é de 3%, mas com margem de 1,5 ponto para cima ou para baixo.

Os números reforçam a preocupação do Banco Central com a inflação e enfraquecem os ataques do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de integrantes do PT à instituição. Há motivos para o receio pelo BC, porque a inflação corrente está no teto, e as expectativas de inflação estão subindo semana a semana. Esse combo (presente e futuro) é o pior possível para a condução da política de juros.

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Para 2024, o mercado prevê o IPCA em 4,12%. Em janeiro, a mesma previsão estava em 3,9%. A maior deterioração, contudo, aconteceu com as projeções de 2025, que saíram de 3,5% para 3,98%, no mesmo período. Para os próximos anos, não há previsão, pelo mercado, de que o IPCA voltará para a meta de 3%. Até 2028, os números mostram inflação em 3,5%, meio ponto acima da meta. Tudo isso é problema.

A inflação de serviços é outro motivo de cautela. Se por um lado o desemprego baixo é tudo que o País deseja, por outro, significa que há menos gente disponível para trabalhar, principalmente em setores intensivos em mão de obra. O IPCA divulgado hoje mostra que esse tipo de inflação está pressionada.

Segundo o economista Leonardo Costa, do ASA, os chamados “serviços subjacentes”, que excluem itens mais voláteis e têm forte influência do mercado de trabalho, subiram 6,3% na média móvel dos últimos três meses.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (E), e o presidente Lula Foto: Wilton Junior/Estadão

“Parte desse movimento é explicada pela alta dos serviços veiculares, contudo, o movimento é mais amplo que a surpresa com esse grupo, indicando dificuldade na desaceleração dos serviços, o que pode ser explicado pelo ritmo aquecido do mercado de trabalho e da atividade doméstica”, afirmou.

Impacto do dólar

Alguns produtos estão subindo fortemente por causa da alta do dólar, principalmente os ligados ao setor de energia. Os combustíveis para veículos, por exemplo, subiram na média 9,08% nos últimos 12 meses, com aumento de 9,27% da gasolina e de 18,14% do óleo diesel.

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Mesmo com essas altas, a Associação Brasileira dos Importadores de Energia (Abicom) calcula que a gasolina no Brasil está 6% mais baixa do que no mercado internacional e o diesel, 8%. Que o governo não cometa o erro de segurar preços usando o caixa da Petrobras.

Outro grupo que sofre essa influência, segundo análise do Itaú Unibanco, são os produtos industriais.

“O IPCA de julho veio em linha com a nossa expectativa, mostrando uma aceleração significativa dos serviços subjacentes, indicando que o melhor momento qualitativo da inflação parece ter ficado para trás. Esperamos que o componente de serviços siga pressionado, refletindo o mercado de trabalho apertado, assim como os preços industriais, refletindo o câmbio mais depreciado”, disse o banco em relatório a clientes.

Para o economista Eduardo Velho, da JF Trust Gestora de Recursos, que há alguns meses prevê a inflação no teto da meta, há uma piora na composição do índice, agravado pela alta do dólar.

“Minha projeção central de 4,47% para o IPCA de 2024 já está virando um piso. A inflação, com esse dólar, pode caminhar para 5%. Claramente a inflação de 2025 está muito otimista, tanto do mercado quanto pelo Banco Central”, disse.

Política fiscal é saída para evitar alta dos juros

Além do cenário externo, que tem fortalecido a moeda americana, há também as incertezas do próprio Brasil influenciando o enfraquecimento do real.

O presidente Lula resiste em autorizar os cortes de gastos necessários para reequilibrar o arcabouço fiscal, além de passar mensagens dúbias sobre a condução do Banco Central a partir do ano que vem, quando sete dos nove diretores do banco, incluindo o seu presidente, terão sido indicados por Lula.

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Ao Banco Central, cabe levar a inflação para a meta de 3%, ainda que tenha de adotar o remédio amargo de subir a taxa Selic. O presidente Lula poderia ajudar nesse trabalho, autorizando a agenda de cortes de gastos defendida pelos Ministérios da Fazenda e do Planejamento.

Análise por Alvaro Gribel

Repórter especial e colunista do Estadão em Brasília. Há mais de 15 anos acompanha os principais assuntos macroeconômicos no Brasil e no mundo. Foi colunista e coordenador de economia no Globo.

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