A China investe mais em tecnologia que o Brasil e isso se reflete nas exportações dos dois países. Em 2008, o Brasil vendeu US$ 11,1 bilhões em produtos de alta tecnologia, o equivalente a 3% do que a China exportou desses itens para o mundo no mesmo ano. O gigante asiático é o país que mais exporta tecnologia de ponta, com destaque para eletrônicos, ultrapassando Estados Unidos, Alemanha e Japão. Em contrapartida, o Brasil ocupava a 27ª posição em um ranking de 42 países, conforme estudo da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp)."Não podemos nos iludir. Os produtos chineses deixaram de ser ruins. Hoje os iPhones e televisores de LCDs são feitos na China", destacou o diretor do departamento de competitividade e tecnologia da Fiesp, José Ricardo Roriz Coelho.O levantamento comparativo entre China e Brasil feito pela entidade aponta que as exportações de alta tecnologia respondiam por apenas 5,4% das vendas do Brasil em 2008. No mesmo ano, chegavam a 22,5% das vendas externas da China.Os chineses são conhecidos como fabricantes de produtos intensivos em mão de obra, como têxteis, calçados ou brinquedos. Mas as exportações de média-alta tecnologia (químicos, máquinas e carros) quase equivalem as vendas de baixa tecnologia.Outro indicador relevante é que o valor por quilo exportado de produtos de alta tecnologia pela China quase triplicou em oito anos, saindo de US$ 22 em 2000 para US$ 63,56 em 2008. Isso significa que produtos cada vez mais sofisticados integram a pauta de exportação chinesa.P&D. Os especialistas atribuem o bom desempenho da China na alta tecnologia a transferências de multinacionais para o País em busca de custos mais baratos e aos investimentos em pesquisa e tecnologia (P&D). Os gastos da China com P&D saíram de 0,9% do PIB em 2000 para 1,42% em 2008. No Brasil, estavam em 1,11% em 2008.Na média, os países ricos que integram a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) investem 2,2% em P&D. Nos EUA, chegam a 2,68%. Ainda assim, dado ao tamanho do PIB chinês, o investimento é expressivo.O número de patentes da China disparou em relação ao Brasil. Os dois países registravam 0,2 patente para cada 10 mil habitantes em 2000. O Brasil estava no mesmo patamar em 2008 e a China tinha subido para 1,1. Mas a maior disparidade está no número de engenheiros. Na China, são 4,6 engenheiros para cada 10 mil habitantes, o que significa que 40% dos 600 mil formandos do país por ano optam pela engenharia. No Brasil, apenas 8% dos 30 mil formandos se dedicam a essa área, o que significa 1,6 engenheiros para cada 10 mil habitantes.O secretário de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), Ronaldo Mota, destaca que os investimentos em inovação no Brasil tem crescido a um ritmo razoável, mas que o ideal é que atinjam 2% do PIB na próxima década."Uma diferença importante é que em vários países o investimento em P&D é do setor privado, enquanto no Brasil ainda é predominante o setor público", disse Mota. "Ambos os investimentos precisam crescer no Brasil, mas especialmente o do setor privado", completa.Segundo a chefe do departamento de programas e políticas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Helena Tenório, a demanda do setor privado por financiamento para inovação está alta, acompanhando o crescimento do País. "As condições macroeconômicas do Brasil melhoraram nos últimos anos, mas inovar é essencial para o País dar um salto no desenvolvimento".Carga tributária. Não é só o investimento em tecnologia que garante a competitividade chinesa. Outros tópicos também beneficiam o país asiático, como carga tributária baixa e previsibilidade no câmbio. Segundo o estudo da Fiesp, a carta tributária na China estava em 18,3% do PIB em 2008, enquanto no Brasil chegava a 35,8% naquele ano. Segundo Roriz, esse conjunto de fatores ajuda a explicar a discrepância entre Brasil e China em investimentos e exportações. Em 2008, a taxa de investimento da China chegou a 40,9% do PIB, comparado com 19% do Brasil. A participação chinesa nas exportações globais saiu de 7,58% em 1997 para 12,37% em 2008. No mesmo período, a fatia do Brasil no comércio mundial subiu de 1,08% para 1,36%.
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