O cenário turbulento e incerto, com inflação alta, dúvidas em relação ao novo arcabouço fiscal e crises nos bancos estrangeiros, pede cautela ao investidor, apontam especialistas consultados pelo Estadão. Ainda que a taxa básica de juros, a Selic, tenha se mantido em 13,75% na decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) desta quarta-feira, 22, o que já era esperado pelo mercado, a sugestão é prestar atenção aos eventos futuros e como eles podem impactar a carteira de investimentos.
A inflação, cada vez mais longe da meta, e o déficit fiscal só serão endereçados quando o governo tiver um “plano de voo”, definido pelo novo arcabouço fiscal, diz Josian Teixeira, diretor e gestor de recursos da Lifetime Asset Management. Segundo o especialista, uma das principais dúvidas do momento é se o arcabouço fiscal será bem desenhado e bem comprado pelo mercado. “Para o investidor conservador, é recomendado esperar um pouco mais para se ter noção do horizonte. Já o mais agressivo pode apostar que o arcabouço será entregue com boas expectativas e diversificar a carteira com ativos de risco”, afirma Teixeira.
Além das novas regras fiscais no mercado interno, o investidor deve levar em conta as crises do mercado externo. “Tivemos sinais de recessão e quebra de bancos nos Estados Unidos, tudo isso torna muito difícil saber em que ponto do ciclo estamos. É preciso prestar atenção em como esses eventos impactam a política monetária americana, o que reflete no nosso mercado”, explica Paulo Minari, sócio da gestora Oriz.
Apesar das decisões monetárias americanas afetarem o investidor, especialmente em ativos de risco, Alexandre Espirito Santo, economista-chefe da Órama afirma ser “improvável termos uma crise sistêmica bancária que acabe transbordando para cá”, ao mencionar a quebra dos bancos americanos. Nesse sentido, o especialista acredita que as decisões do BC em relação aos juros devem permanecer mais atreladas ao cenário econômico interno.
Antes de qualquer decisão, o investidor deve voltar ao clichê e primeiro definir o planejamento da sua carteira de acordo com os seus objetivos e perfil de risco, diz Alexandre Brito, sócio e gestor da Finacap Investimentos. Após esse entendimento será possível avaliar o contexto e decidir de forma mais sólida quais opções de investimento são mais interessantes.
Renda fixa
Entre os especialistas, é unânime que os investimentos pós-fixados em renda fixa permanecem como a principal aposta nesse contexto de alta da Selic, como os Certificados de Depósito Bancário (CDBs), as Letras de Crédito do Agronegócio (LCA) e Letras de Crédito Imobiliário (LCI). Esse tipo de investimento é considerado o mais conservador e seguro.
No mercado, é esperado pela maioria um corte da taxa apenas no segundo semestre deste ano. Dessa forma, os títulos públicos atrelados à inflação, como o Tesouro IPCA + 6,4% ou superior, também estão interessantes, especialmente para quem tem um perfil mais conservador, aponta aponta Teixeira.
Entre os principais produtos da renda fixa, o CDB 110%, a LCA e a LCI se destacam com uma rentabilidade real positiva, segundo cálculos do professor de Finanças da Fundação Getúlio Vargas Fabio Gallo. Ele considerou a projeção da inflação de 5,95%, como consta do último Boletim Focus divulgado pelo Banco Central.
Brito aponta que a redução da Selic já começou a ser precificada pelo mercado, projetada entre setembro e novembro deste ano. Com a redução, os investimentos pós-fixados começam a ter uma rentabilidade menor. Por isso, é uma estratégia possível, para quem consegue lidar com mais risco, ter parte da carteira em pré-fixados, que estão com taxas atrativas.
Minari também recomenda investimentos em renda fixa em dólar, aproveitando a alta dos juros nos Estados Unidos.
Renda variável
Para os investidores mais agressivos, que apostam que as novas regras fiscais serão bem recebidas e as incertezas passageiras, é recomendado diversificar a carteira o quanto for possível, investindo em empresas Triple A com taxas atrativas, diz Teixeira.
“A nossa avaliação é que a Bolsa brasileira tem boas oportunidades e está a preços aviltados”, afirma Alexandre Espirito Santo, da Órama. “O ideal é que você aloque uma porcentagem pequena do seu portfólio, especialmente para aqueles que não são muito afeitos a riscos”, explica. O grande movimento de saída devido à alta da Selic faz com que ações sejam encontradas com “desconto”, indicando um bom momento para compra, diz Brito, da Finacap Investimentos.
É o caso dos bancos brasileiros, que mesmo que sólidos e de boa estrutura, estão mal precificados no mercado, impactados também pelas crises bancárias no exterior, afirma Teixeira.
Para os menos pessimistas em relação ao cenário econômico, são boas opções os fundos imobiliários, fundos de infraestrutura e empresas de energia, diz Minari.
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