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Investimentos em lítio poderão chegar a R$ 15 bilhões até 2030, diz ministério

Preços do carbonato de lítio e do hidróxido de lítio subiram 280% em 2021, segundo a consultoria PwC

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Atualização:

RIO - O Ministério de Minas e Energia (MME) calcula que a produção de lítio e seus derivados, um dos insumos que deverão ser mais demandados numa economia de baixo carbono, poderá receber investimentos de cerca de R$ 15 bilhões até 2030. E isso apenas na região do Vale do Jequitinhonha, no norte de Minas Gerais. Segundo o MME, a região “concentra a maior parte das reservas minerais conhecidas para produção de lítio no País”.

A exploração mineral do lítio é relativamente simples, mas o negócio só faz sentido com o beneficiamento. O mineral é abundante na natureza, especialmente em regiões áridas, como os salares do Chile, da Bolívia e da Argentina, os desertos da Austrália e o semiárido do Brasil. Em usinas, o mineral passa por processos metalúrgicos e químicos que resultam nos insumos para a fabricação das baterias. A demanda está em alta, seja para equipar eletroeletrônicos ou para eletrificar os motores dos carros. Um índice que acompanha os preços médios mensais do carbonato de lítio e do hidróxido de lítio registrou alta de 280% em 2021, diz o relatório da PwC.

Mineração de lítio em Nazareno, Minas Gerais Foto: Washington Alves/Light Press/Estadão Conteúdo

As plantas de beneficiamento precisam ficar próximas dos recursos minerais, mas as fábricas de bateria precisam estar no entorno das fábricas de carros e demais equipamentos. Ou seja, o jogo global é produzir os insumos nas regiões em que o mineral é abundante e exportar para as fábricas de baterias na Ásia, na Europa e nos Estados Unidos. Como as plantas de processamento do lítio exigem consumo de eletricidade e água, a vantagem competitiva do Brasil é, novamente, a matriz energética renovável e a possibilidade de reciclar recursos hídricos.

Terceira empresa no Brasil

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Para Ana Cabral-Gardner, codiretora executiva da Sigma Lithium, o Brasil tem potencial para se tornar um dos principais fornecedores globais de produtos de lítio. Com o capital aberto no Canadá e nos Estados Unidos, a empresa trabalha para que a planta em construção no Vale do Jequitinhonha comece a produzir em dezembro, após um investimento total de R$ 1,2 bilhão.

Esse investimento resultará numa capacidade de produção de 37 mil toneladas de carbonato de lítio equivalente (LCE, na sigla em inglês) por ano. Uma segunda fase de investimentos, de mais R$ 500 milhões, prevê elevar a capacidade para 72 mil toneladas/ano até o fim de 2024.

A líder de mercado, a americana Albermale, que produz produtos de lítio no Chile e desenvolve, na Austrália, mais uma planta de beneficiamento, deverá chegar a 2024 com uma produção de 202 mil toneladas de LCE por ano. Segundo Cabral-Gardner, a Sigma Lithuim já anunciou uma terceira fase de investimentos, mas ainda não há estimativa de expansão da capacidade.

A Sigma Lithium se tornará a terceira empresa a produzir derivados de lítio no País. Atualmente, são duas. Uma é a Companhia Brasileira de Lítio (CBL), que hoje vende o material para a produção de graxas, lubrificantes e medicamentos, e também está mirando a eletrificação dos carros, com uma planta de beneficiamento em Divisa Alegre, no norte de Minas. A outra é a mineradora AMG Brasil, que explora lítio desde 2018, e investiu US$ 160 milhões para construir uma planta de beneficiamento, em Nazareno (MG). De acordo com dados compilados pela Sigma Lithium, o Brasil chegará a 2024 com capacidade de produção de 98,4 mil toneladas de LCE.

Investimentos

Segundo Cabral-Gardner, o Brasil entrou de vez na corrida global do lítio após um decreto do MME, publicado no início de julho, eliminar entraves para a exportação dos produtos de lítio – antes, segundo a executiva, a venda desses produtos seguia regras análogas a de minerais e insumos radioativos.

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A liberalização deverá atrair investimentos. A estimativa de R$ 15 bilhões a serem aplicados em projetos no norte de Minas foi feita pelo MME ao anunciar a publicação da portaria. “São esperados mais de 7 mil empregos diretos apenas na mineração e mais de 84 mil empregos diretos e indiretos ao longo das cadeias produtivas. Somente na mineração, espera-se pagamentos de salários que somarão R$ 440 milhões por ano, além de mais R$ 100 milhões anuais de arrecadação de royalties”, informou o MME no início de julho.

A revolução no setor mineral está no radar até mesmo de pequenas mineradoras nacionais. Desde o início de 2021, aproveitando o boom nas cotações, essas empresas vêm tirando da gaveta projetos de aumento de produção de minério de ferro de menor escala.

No caso da Atlântica Minas Mineração, a ideia é investir paralelamente. Ao mesmo tempo que desenvolve minas de minério de ferro, a mineradora aposta em sondagens, nas regiões do Triângulo Mineiro e do norte de Minas, de áreas para a produção de fosfato, terras raras e grafite, conta Maurício Índio do Brasil, sócio-fundador da empresa. No médio prazo, a meta é ter uma produção total em que o minério de ferro ocupe metade do portfólio e minerais demandados pela transição energética fiquem com a outra metade.

Segundo o empresário, a estratégia é complementar, porque, enquanto os projetos de minério de ferro requerem mais tempo, com licenciamento ambiental mais demorado e escala maior, os investimentos nos outros minerais têm prazos menores, inclusive de licenciamento, escala menor, mas maior valor agregado. “É uma mudança de mercado, temos que ir de acordo com as tendências”, diz Índio do Brasil, sem revelar valores investidos.

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