Apesar da pressão de aumentos nos alimentos, plano de saúde e medicamentos, a prévia da inflação oficial no País surpreendeu positivamente em abril. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) desacelerou de uma alta 0,36% em março para um avanço de 0,21% neste mês, informou nesta sexta-feira, 26, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A taxa, a mais baixa para meses de abril desde 2020, ficou aquém das estimativas da maioria dos analistas do mercado financeiro ouvidos pelo Estadão/Broadcast – que esperavam uma alta mediana de 0,29%. O resultado fez a inflação acumulada em 12 meses arrefecer de 4,14% em março para 3,77% em abril, a mais branda desde julho de 2023.
Apesar do desempenho considerado benigno, ainda não há consenso nas apostas sobre a magnitude de corte da taxa básica de juros, a Selic, na reunião de maio do Comitê de Política Monetária do Banco Central. O economista-chefe da corretora Monte Bravo, Luciano Costa, cita o aumento da incerteza do cenário global e dos riscos fiscais, além dos receios com a inflação de serviços, para um corte mais brando, de 0,25 ponto porcentual, no próximo dia 8.
“A redução do ritmo de cortes para 25 pontos-base (0,25 ponto porcentual) permitirá ao Banco Central avaliar a evolução das incertezas ao longo dos próximos meses”, afirmou Costa, acrescentando que tal estratégia deverá permitir a continuidade do ciclo de redução dos juros, levando a taxa Selic dos atuais 10,75% ao ano para 9,50%.
Para a economista-chefe da gestora de recursos B. Side Investimentos, Helena Veronese, o resultado em si do IPCA-15 de abril sugere um quadro de inflação menos pressionada, permitindo novo corte de 0,50 ponto porcentual na Selic.
“Com o IPCA-15 é possível se pensar em redução de 0,50 ponto da Selic, mas o que vai definir o tamanho do juro no final são o fiscal e o cenário externo”, complementou Veronese, acrescentando que a questão fiscal segue no radar da autoridade monetária.
Em abril, os gastos 0,61% maiores com alimentos e 0,78% superiores com despesas de saúde turbinaram a prévia da inflação do mês. Os preços dos alimentos reduziram o ritmo de alta em relação a março, mas o avanço registrado em abril ainda respondeu por quase 60% de toda a inflação medida pelo IPCA-15. O principal vilão foi o tomate, com uma alta de 17,87%, responsável sozinho por cerca de 25% da inflação de abril.
Também houve pressão dos produtos farmacêuticos, que ficaram 1,36% mais caros, após a autorização do reajuste de até 4,50% nos preços dos medicamentos a partir de 31 de março, e do plano de saúde, que encareceu 0,77%.
Por outro lado, as famílias gastaram 0,49% menos com transportes. As passagens aéreas ficaram 12,20% mais baratas. Houve reduções também na gasolina (-0,11%), gás veicular (-0,97%), óleo diesel (-0,43%) e ônibus urbano (-0,05%).
A LCA Consultores prevê que o IPCA fechado de abril acelere para 0,36%, com aumentos mais significativos em alimentos in natura, medicamentos, artigos de residência e itens de vestuário. O IPCA-15 repetiria em maio o mesmo avanço de 0,36%, arrefecendo a uma alta de 0,15% em junho. O economista Fábio Romão, da LCA, espera que os preços de alimentos para consumo no domicílio entrem em deflação a partir de maio, com intensificação dessa tendência sazonal em junho.
No fechamento de 2024, a LCA estima que o IPCA fique em 3,7%, portanto, dentro do teto de tolerância (de 4,50%) da meta de inflação perseguida pelo Banco Central em 2024, que é de 3,0%. Já a Tendências Consultoria Integrada projeta uma alta de 3,8% no IPCA deste ano. O quadro inflacionário permanece benigno, mas há riscos à frente, alerta Matheus Ferreira, analista da Tendências.
“Os sinais de aperto adicional do mercado de trabalho, os estímulos em curso à demanda e as expectativas de inflação desancoradas ainda representam riscos à dinâmica inflacionária”, escreveu Ferreira.
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