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IPCA-15 menor do que o esperado significa alívio na inflação? O que dizem os economistas

Analistas do mercado financeiro avaliam o que segurou o índice, prévia da inflação oficial do mês, e projetam como ficam o trabalho do Banco Central e o juro para manter o IPCA dentro da meta

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Por Redação
Atualização:

Prévia da inflação oficial de setembro, que considera o período do dia 16 do mês anterior ao dia 15 do mês atual, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo - 15 (IPCA-15) surpreendeu o mercado nesta quarta-feira, 25. A variação divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) foi de 0,13%, enquanto o piso das estimativas coletadas pelo Projeções Broadcast era de 0,18%; e a mediana, de 0,28%. É a a taxa foi a mais branda em mais de um ano (desde julho de 2023). Isso significará uma redução na inflação fechada do mês e, por consequência, um alívio na pressão do juro?

Para saber a resposta, o Estadão/Broadcast consultou economistas do mercado financeiro. Confira as análises resumidas abaixo:

O que segurou o IPCA-15

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Em relatório, o economista-chefe para Brasil do Barclays, Roberto Secemski, destaca o aumento aquém do esperado no preço das passagens aéreas e as quedas nos preços de seguro de automóveis e ingressos para cinema como fatores que contribuíram para o resultado benigno da inflação.

Como exemplo, Secemski cita o resultado do núcleo Ex3, que agrega apenas itens selecionados de serviços e bens industriais do IPCA-15. Este indicador subiu 0,07% em setembro na margem. Em agosto, havia registrado avanço de 0,28%.

A desaceleração, diz o economista, foi provocada principalmente pelo núcleo de serviços, que ficou estável em setembro ante agosto, ante projeção do Barclays de alta de 0,34%.

“Se o seguro automotivo e os preços do cinema permanecessem estáveis, o núcleo dos serviços teria aumento mensal de 0,23%, ilustrando a contribuição substancial destes dois itens à surpresa para baixo nesta métrica”, acrescenta.

O economista pondera que os descontos nos cinemas devem ser revertidos, e que a queda no preço do seguro de automóvel ainda é uma reversão do aumento registrado em julho, após as enchentes no Rio Grande do Sul.

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Como influências que desaceleraram serviços nesta leitura, Alexandre Maluf, da XP Investimentos, destaca os subitens de cinema, teatros e concertos, com queda de 5,8%, e seguro voluntário de veículo, com deflação de 2,8%.

Em relação ao grupo de Alimentação e bebidas (-0,80% para 0,05%), o economista destaca a surpresa com Alimentação no domicílio (-1,30% para -0,01%) ainda estar em terreno negativo. “Esperávamos já efeito maior de secas, principalmente em frutas veio uma inflação um pouco menor e também em açúcar, por conta das queimadas”, avalia. “Ainda não apareceu no IPCA de setembro, então ele deve aparecer mais adiante”.

Em termos de composição, os núcleos do IPCA-15 vieram “extremamente melhores” e serviços subjacentes, considerados como “calcanhar de Aquiles do Banco Central” pela economista, vieram zerados. Entre as deflações, Andrea Damico, economista-chefe da Armor Capital, destaca cinema, seguro de automóvel, e bens industriais.

O dado, segundo Damico, mostra que a inflação ainda não reagiu a uma atividade econômica mais forte. “Acho que tem outros drivers importantes para a inflação e estamos vendo uma certa moderação das pressões subjacentes, seja de núcleos, seja de serviços subjacentes”, afirma.

O economista-sênior do Banco Inter, André Valério, destaca a deflação dos grupos Transportes (-0,08%), refletindo o recuo da gasolina, e Despesas Pessoais (-0,04%), contra as pressões altistas de Habitação (0,50%) e Alimentação e bebidas (0,05%). Nas aberturas, o destaque positivo vai para os serviços (0,29% para 0,17%), mesmo com a alta das passagens aéreas.

Alimentação foi um dos ingredientes do índice de inflação que surpreenderam positivamente os analistas Foto: Serjão Carvalho/Estadão

Qual é a previsão de IPCA de setembro?

“Temos que tomar cuidado para não extrapolar isso (o PCA-15) como uma tendência”, diz o economista Alexandre Maluf, da XP Investimentos.

O economista destaca como fatores a atividade econômica bastante aquecida, o mercado de trabalho apertado, os salários reais em elevação e as expectativas de inflação acima da meta. “Tudo isso sugere, pelo fundamento, que a inflação dos serviços, olhando para os próximos meses e trimestres, não deva ceder muito”, observa.

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Para o IPCA de setembro, o Barclarys estima um aumento de 0,45% — bem acima da leitura do IPCA-15, de 0,13% —, dada a expectativa de aceleração nos preços da energia em função da mudança na bandeira tarifária e a perspectiva de recuperação nos preços de alimentos após dois meses de deflação.

A expectativa do Citi para o IPCA fechado do mês é a mesma: de alta de 0,45%. O banco ainda prevê alta de 0,35% em outubro, 0,25% em novembro e 0,45% em dezembro.

O IPCA-15 de setembro apresentou um resultado positivo tanto do ponto de vista qualitativo, como quantitativo, com melhora substancial em todas as métricas, na avaliação do economista-sênior do Banco Inter, André Valério. Ele pondera, no entanto, que o IPCA cheio do mês deve apresentar uma piora de perfil.

(Isso é) devido à metodologia de cálculo que irá levar em consideração todo o período de vigência da bandeira vermelha (na tarifa de energia)”, diz. “A inflação de alimentos dá sinais de piora mais intensa na margem, o que também não foi capturado pelo IPCA-15″, detalha.

“Ainda assim, vemos a continuidade de uma dinâmica benigna, que deve se manter em meio ao ciclo de alta da Selic, recém iniciado pelo Banco Central”, ressalta o economista.

Para o índice cheio de setembro, Maluf espera que os preços administrados (0,81% para 0,16%) acelerem, influenciados por energia elétrica residencial. Para outubro, o cenário do economista é da mudança da bandeira vermelha 1 para vermelha 2.

O ceticismo sobre o cenário futuro da inflação se mantém, na avaliação do Citi, em relatório.

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“Consideramos que os salários estão em torno de 9% e que as queimadas que continuam ocorrendo pelo País devem impactar os preços dos alimentos nos próximos meses”, alerta o banco, que também chama atenção para a escalada dos preços de energia elétrica devido à escassez hídrica.

Como fica a projeção de inflação para o ano?

“Nossa previsão para o IPCA em 2024 de 4,1% ainda possui riscos de alta que podem levar a taxa para acima do teto da meta (4,5%)”, diz Roberto Secemski, do Barclays.

Na lista de condicionantes estão a possibilidade de a bandeira tarifária ser vermelha em dezembro - hoje o Barclays prevê bandeira amarela —, a permanência dos preços dos combustíveis nos níveis atuais - o banco espera redução — e choques climáticos capazes de aumentar os preços dos alimentos nas próximas semanas.

“Esse movimento é importante por si só, mas especialmente em um momento em que o crescimento tem surpreendido para cima, com mercado de trabalho aquecido”, escreveu o Bradesco.

Até o final do mês, porém, a expectativa do banco é que o acionamento da bandeira vermelha na energia continuará pressionando a inflação, assim como o reajuste nos cigarros.

A projeção do Bradesco é de alta de 4,4% para o IPCA de 2024 e de 4% para a média dos núcleos de inflação.

O Citi manteve a projeção de alta para o mesmo índice projetado pelo Bradesco: 4,4%.

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Como fica o juro?

A fotografia apresentada pelo IPCA-15 de setembro foi bastante positiva, mas insuficiente para impedir a intensificação do ritmo de aperto do Banco Central, que deve elevar a Selic em 0,50 ponto porcentual em novembro, na avaliação do head de macroeconomia da Kínitro Capital, João Savignon.

Ele considera que “sem dúvida” a divulgação desta quarta-feira, 25, apresentou um qualitativo benigno, já que houve desaceleração e resultados abaixo do esperado em métricas importantes, como os serviços subjacentes (4,73% para 4,0%, pelo critério da média móvel trimestral anualizada e dessazonalizada) e nos serviços intensivos em trabalho (4,4% para 3,6%).

Parte significativa dessas surpresas, explica Savignon, está muito relacionada a fatores pontuais e atípicos e por isso não deve, por ora, tirar do radar a preocupação com o nível da inflação tanto corrente quanto das expectativas à frente.

Entre as variações que surpreenderam para baixo no IPCA-15 de setembro ele enumera as passagens aéreas, energia elétrica, seguro de automóveis, cinema e cigarro.

Entre os pontos de atenção desta leitura, porém, Savignon chama a atenção para a inflação da alimentação no domicílio, que embora tenha registrado mais uma variação negativa (-0,01% em setembro, após -1,30% em agosto) acelerou acima das expectativas. “E já há uma pressão contratada para alimentos por causa das questões climáticas à frente”, ressalta.

Para o economista-chefe da G5 Partners, Luis Otavio de Sousa Leal, a leitura positiva do IPCA-15 de setembro não deverá “passar despercebida” pelos membros do Comitê de Política Monetária (Copom), especialmente em um momento como o atual, em que se discute a necessidade de elevar ou não o ritmo de alta nos juros.

“Certamente o BC não irá pautar as suas decisões futuras por um resultado pontual, ainda mais sendo este o IPCA-15, índice famoso por seus ‘falsos positivos’, mas, sem dúvida, esse é um resultado que não deverá passar despercebido pelo Copom”, escreveu o economista em nota.

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Para Leal, o IPCA-15 de setembro veio “muito melhor” que o esperado e, mais importante do que isso, essa surpresa não partiu apenas de um único vetor. “Não tivemos nenhum item, ou grupo específico, ao qual poderíamos atribuir a ‘culpa’ pelo resultado”, considera o economista.

Para além da surpresa no número cheio, Leal destaca que a métrica que tem sido mais citada pelo BC como determinante do processo inflacionário, os serviços subjacentes, passaram de 0,39% em agosto para variação zero em setembro, resultado mais baixo desde junho de 2020, no auge da pandemia.

O cenário da XP para a Selic é de duas altas de 0,50 ponto porcentual para as reuniões de novembro e dezembro do Copom, e uma alta de 0,25 ponto em janeiro de 2025, com Selic terminal de 12%. “Ainda existe um viés de alta em relação a nossa projeção de 12%, para levar a inflação à meta”, pontua o economista.

A surpresa positiva com o IPCA-15 não vai impedir que o BC continue subindo juros, mas contribui eventualmente para um ciclo de aperto monetário menor, na avaliação de Andrea Damico, economista-chefe da Armor Capital.

A economista afirma que o IPCA-15 foi “extremamente benigno” tanto em headline, que veio abaixo da mediana do mercado, quanto em composição.

A Armor Capital mantém um ciclo total de alta da Selic de 150 pontos-base. Além da alta de 25 pontos-base na reunião de setembro do Copom, a casa espera mais três elevações: duas de 50 pontos-base, e uma de 25 pontos-base.

Na projeção da Armor Capital, a Selic encerraria 2024 em 11,75%, e encerraria o ciclo de aperto monetário em 12% em janeiro de 2025. /Com Anna Scabello, Caroline Aragaki, Daniel Tozzi Mendes, Gabriela Jucá, Gustavo Nicoletta e Renata Pedini

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