Passadas as oscilações mais extremas provocadas pela influência do Bônus de Itaipu sobre as contas de luz, a prévia da inflação oficial do País desacelerou de 1,23% em fevereiro para 0,64% em março. Porém, os aumentos nos custos dos alimentos e dos transportes ainda pressionaram o orçamento das famílias. Os dados são do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), divulgados nesta quinta-feira, 27, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O resultado fez a inflação acumulada em 12 meses acelerar pelo segundo mês consecutivo, de 4,96% em fevereiro para 5,26% em março, afastando-se mais da meta de inflação de 3,00% perseguida pelo Banco Central, cujo teto de tolerância é de 4,50%.
“Podemos dizer que o IPCA-15, como resultado mensal visto isoladamente, foi bom. Mostrou desaceleração com relação ao mês anterior e veio abaixo do esperado pelo mercado. Entretanto, as boas notícias acabam aí. No acumulado do ano já chegamos a 1,99%, acima dos 1,46% do mesmo período do ano passado”, avaliou Luis Otávio Leal, economista-chefe da gestora de recursos G5 Partners, em comentário.
Leal espera que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central eleve a taxa básica de juros, a Selic, dos atuais 14,25% ao ano até o patamar de 15,50% ao ano.

Para a estrategista de macroeconomia Sara Paixão, da InvestSmart XP, o IPCA-15 de março trouxe surpresas positivas, como uma disseminação menor de aumentos entre os itens investigados, mas não muda a percepção de que o Copom permanecerá aumentando os juros nas próximas reuniões, até chegar ao patamar de 15% ao ano, em junho.
“É importante dizer que, apesar da surpresa positiva, ainda é um aumento grande para variação mensal, que distancia a inflação cada vez mais da meta. Ademais, até a reunião de maio ainda teremos a divulgação de dados de atividade econômica, mercado de trabalho e inflação, que também podem alterar a percepção do mercado, já que o Copom deixou o cenário em aberto”, ponderou Paixão, em comentário.
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No mês de março, as altas de preços da alimentação (1,09%) e dos transportes (0,92%) responderam por cerca de dois terços de toda a inflação apurada pelo IPCA-15.
A alimentação para consumo no domicílio avançou 1,25%, ante 0,63% em fevereiro. As famílias pagaram mais pelo ovo de galinha (19,44%), tomate (12,57%), café moído (8,53%) e frutas (1,96%). Já a alimentação fora de casa subiu 0,66%: a refeição fora de casa aumentou 0,62%, e o lanche avançou 0,68%.
Em transportes, os combustíveis subiram 1,88%. Houve aumentos nos preços do etanol (2,17%), óleo diesel (2,77%), gás veicular (0,08%) e gasolina (1,83%, subitem de maior pressão em março, uma contribuição individual de 0,10 ponto porcentual).
As passagens aéreas também aumentaram, 7,02%, um impacto de 0,05 ponto porcentual na inflação. O trem teve alta de 1,90%, devido ao reajuste de 7,04% nas tarifas no Rio de Janeiro a partir de 2 de fevereiro, e o ônibus intermunicipal avançou 0,46%, em decorrência do reajuste médio de 14% em Porto Alegre a partir de 1º de fevereiro.
“O dado de hoje veio abaixo da nossa expectativa e com qualitativo melhor do que o esperado por nós. A surpresa baixista foi concentrada em industriais, disseminada entre os itens do grupo, sugerindo que o repasse da depreciação cambial pode ser menos intenso do que esperávamos”, opinou Luciana Rabelo, em relatório do Departamento de Pesquisa Macroeconômica do Itaú Unibanco.