Publicidade

Inflação fica em 1,06% em abril, a maior para o mês desde 1996

Setores de alimentação e bebidas, com alta no consumo em domicílio, e transportes, com gasolina subindo 2,48%, impulsionaram resultado

PUBLICIDADE

RIO - Turbinada por novos aumentos nos preços dos combustíveis e dos alimentos, a inflação oficial no País alcançou 1,06% em abril, a mais acentuada para o mês desde 1996, segundo os dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),

A taxa acumulada em 12 meses subiu a 12,13%, o resultado mais elevado desde outubro de 2003, afastando-se ainda mais da meta de inflação perseguida pelo Banco Central este ano, de 3,5%, que tem teto de tolerância de 5%.

"A gente vê, pelas aberturas do IPCA, que o quadro continua bastante preocupante", avaliou o economista Daniel Lima, do Banco ABC Brasil.

Para Lima, o cenário de curto prazo impõe uma tendência de revisão de sua projeção de inflação para este ano, dos atuais 8,4% para um nível próximo de 9,0%.

Publicidade

Mulher em supermercado;IBGE divulgou os resultados do IPCA de abril Foto: Dida Sampaio/ Estadão

PUBLICIDADE

“A inflação não está muito pior do que no mês passado, mas continua ruim. Se desconsiderar os fatores específicos, andou de lado. A qualidade dos números é bastante negativa e não dá sinais de que vai ter grandes alívios tão cedo”, disse o economista Luis Menon, da gestora de recursos Garde Asset Management.

Alimentos e transportes puxam alta

No mês de abril, houve alívio na conta de luz, que recuou 6,27% pelo fim da vigência da bandeira tarifária de Escassez Hídrica. Desde 16 de abril, passou a vigorar a bandeira tarifária verde, extinguindo a cobrança extra que acrescentava R$ 14,20 a cada 100Kwh consumidos, em vigor desde setembro do ano passado.

No entanto, os gastos com alimentos e transportes pesaram mais no bolso das famílias. Os aumentos de 2,06% nos preços de alimentação e bebidas e de 1,91% no gasto com deslocamento responderam juntos por certa de 80% do IPCA do mês.

Publicidade

As famílias pagaram mais pelo leite longa vida (10,31%), batata-inglesa (18,28%), tomate (10,18%), óleo de soja (8,24%), pão francês (4,52%) e carnes (1,02%).

Guerra na Ucrânia

Segundo André Almeida, analista do Sistema de Índices de Preços do IBGE, o encarecimento dos alimentos ocorre pela pressão da valorização de commodities e de problemas climáticos em algumas lavouras. A guerra na Ucrânia afetou o bolso do consumidor brasileiro via encarecimento de grãos como a soja e o trigo, que se refletiram em aumentos de preços do óleo de soja e do pão francês, mas também de produtos de origem animal, por conta da elevação no custo da ração.

“Conflitos internacionais podem acabar gerando influência no preço das commodities. A gente tem subitens que acabam influenciados pelo preço das commodities: óleo de soja, pão francês, as carnes”, enumerou Almeida. “A soja e o milho são insumos para ração animal, então a alta dessas commodities acaba influenciando nos preços das carnes. Os alimentos in natura é mais questão da oferta”, completou.

Publicidade

Os combustíveis ficaram 3,20% mais caros, os grandes vilões da inflação de abril, seguidos pelos remédios, que subiram 6,13% e contribuíram com 0,19 ponto porcentual para o IPCA após autorização de reajuste nos medicamentos.

Índice de difusão

O índice de difusão do IPCA, que mostra o porcentual de itens com aumentos de preços, avançou a 78,25% em abril, taxa mais elevada desde janeiro de 2003.

 “Um dos fatores que a gente pode mencionar e podem influenciar numa maior disseminação na alta de preços é de fato um aumento de custos pela economia. E isso muito influenciado por fatores relacionados: frete, alta dos combustíveis. A energia elétrica recuou agora, mas vinha mais cara. Todos os fatores que podem afetar aumento de custos podem acabar numa maior disseminação (da inflação)”, justificou Almeida.

Publicidade

 Os combustíveis foram responsáveis diretamente por 0,25 ponto porcentual da inflação de abril. No entanto, as elevações nesses preços costumam levar a uma disseminação de altas em outros produtos e serviços da economia, contou Almeida.

A gasolina subiu 2,48% em abril, um impacto de 0,17 ponto porcentual no IPCA. Houve altas também nos preços do etanol (8,44% e impacto de 0,07 ponto porcentual), óleo diesel (4,74% e impacto direto de 0,01 ponto porcentual) e gás veicular (0,24%, com impacto próximo de zero, pelo peso pequeno que tem no índice).

Apenas de janeiro a abril de 2022, os combustíveis acumulam uma alta de 7,75%, com impacto direto de 0,61 ponto porcentual na inflação. A gasolina subiu 7,84%, uma contribuição de 0,52 ponto porcentual; o etanol teve alta de 3,08% e impacto de 0,03 ponto porcentual; o diesel, 23,88% e impacto de 0,06 ponto porcentual; e gás veicular, 7,52% e 0,01 ponto porcentual.

“Os combustíveis são usados para frete para diversos produtos. Então a alta de combustíveis pode influenciar sim a alta de preços de outros subitens também”, afirmou Almeida, sobre a existência de impactos indiretos do encarecimento dos combustíveis sobre a inflação.

Publicidade

A LCA Consultores lembrou que a Petrobras reajustou esta semana o preço do óleo diesel nas refinarias, na esteira das recentes pressões de câmbio e de petróleo.

“Ainda que, diretamente, seu impacto no IPCA seja modesto pelo seu pequeno peso (0,28% em abr/22) - sobretudo quando comparado à gasolina (6,73%) -, o diesel tem muitos desdobramentos indiretos na formação dos preços”, escreveu o economista Fabio Romão, da LCA Consultores, em relatório.

A LCA Consultores espera que o IPCA desacelere a 0,62% em maio, absorvendo ainda parte dos efeitos sobre a conta de luz do acionamento da bandeira verde em substituição à de Escassez Hídrica, mas também via uma desaceleração no ritmo de aumentos dos alimentos, combustíveis e produtos farmacêuticos.

“Em resumo, o resultado deste IPCA de abril somente veio a reforçar a elevação que promovemos ontem no IPCA esperado para 2022, de +8,0% para +9,0%”, concluiu Romão.

Publicidade

(Colaboraram Cícero Cotrim e Guilherme Bianchini)

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.