RIO E SÃO PAULO - Os reajustes nos preços da gasolina, passagens aéreas e energia elétrica pressionaram a inflação oficial no País em julho. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acelerou de uma alta de 0,21% em junho para um avanço de 0,38%, informou nesta sexta-feira, 9, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Como consequência, a taxa acumulada em 12 meses acelerou pelo terceiro mês consecutivo, passando de 4,23% em junho para 4,50% em julho, alcançando assim o teto de tolerância da meta de inflação perseguida pelo Banco Central (BC) em 2024 – a meta é de 3,0%.
Os números devem pressionar o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC ao fim deste ano, já que houve “piora significativa na qualidade” do cenário inflacionário, avaliou o economista-chefe da corretora Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi.
“Devemos ver uma continuidade desse momentum negativo ao longo do segundo semestre de 2024. Cenário ruim para o Copom, vai ser pressionado no fim desse ano, não sei se o suficiente pra subir juros, mas vai suar frio”, afirmou Borsoi.
Embora a taxa do IPCA de julho tenha ficado ligeiramente acima do consenso, a abertura dos números ficaram em linha com o esperado, avaliou a economista-chefe da gestora Galápagos Capital, Tatiana Pinheiro. Os preços dos serviços seguem pressionados, mas o espalhamento de aumentos entre os itens pesquisados foi baixo, em grande parte por conta da deflação de alimentos. Nesse cenário, a economista-chefe considera que “o principal fator para a expectativa do mercado com relação à decisão monetária de setembro está no comportamento da taxa de câmbio”.
“Prospectivamente, o mercado de trabalho aquecido e o fortalecimento do dólar provavelmente permanecerão como ventos contrários ao arrefecimento da inflação no Brasil”, adiciona a gestora de recursos G5 Partners, em relatório.
Embora a inflação no País tenha acelerado na passagem de junho para julho, os aumentos de preços na economia foram menos espalhados, concentrados em itens com peso importante na cesta de consumo das famílias, como a gasolina e a energia elétrica residencial, ponderou André Almeida, gerente do Sistema Nacional de Índices de Preços do IBGE. O índice de difusão do IPCA, que mostra o porcentual de itens com aumentos de preços, desceu de 52% em junho para 47% em julho.
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“No mês de julho, a gente pode dizer que a inflação foi menos espalhada entre os subitens que compõem o IPCA”, disse Almeida. “Embora a gente tenha tido um menor espalhamento do fenômeno inflacionário dentro dos subitens que compõem o IPCA, o impacto final é composto por uma combinação da variação de preços mais o peso dos subitens”, justificou.
A gasolina aumentou 3,15%, item de maior impacto sobre o IPCA do mês, 0,16 ponto porcentual. As passagens aéreas subiram 19,39% em julho, segunda maior pressão, 0,11 ponto porcentual. A energia elétrica residencial subiu 1,93%, resultando numa pressão de 0,08 ponto porcentual sobre a inflação. Ou seja, a gasolina, a passagem aérea e a energia elétrica somaram uma pressão de 0,35 ponto porcentual no IPCA, o equivalente a 93% de toda a inflação do mês.
“Essas altas possuem um impacto maior no resultado final”, disse Almeida.
Para agosto, porém, o pesquisador do IBGE prevê que o IPCA absorva uma influência baixista na energia elétrica advinda tanto do retorno em vigor da bandeira tarifária verde, que elimina cobranças extras sobre a conta de luz, quanto de reduções de tarifas de energia em São Paulo, Belém e Vitória.
Além da trégua na conta de luz, o economista Fábio Romão, da LCA Consultores, espera também uma diluição dos reajustes anunciados em julho no gás de botijão e na gasolina, com efeitos também no etanol, o que levaria a inflação a arrefecer para uma alta de 0,15% em agosto.
Alimentos mais baratos
Em julho, o que ajudou a frear o resultado do IPCA foi uma redução de 1,00% no custo de Alimentação e bebidas, queda mais aguda desde agosto de 2017, detendo a inflação em -0,22 ponto porcentual. No entanto, o grupo vinha de uma sequência de nove meses consecutivos de aumentos, período em que acumulou uma elevação de 6,87%.
“O que ajuda a explicar essa queda no mês de julho é principalmente uma maior oferta desses alimentos em geral”, explicou André Almeida, do IBGE.
O pesquisador disse que houve uma intensificação da safra de inverno, lembrando ainda que o clima é mais favorável às lavouras atualmente do que no início do ano, especialmente para itens de hortifrúti.
O custo da alimentação no domicílio caiu 1,51% em julho. Ficaram mais baratos o tomate (-31,24%), cenoura (-27,43%), cebola (-8,97%), batata inglesa (-7,48%) e frutas (-2,84%). Entre os subitens com altas de preços, os destaques foram os avanços no café moído (3,27%), alho (2,97%) e pão francês (0,67%).
Já a alimentação fora de casa aumentou 0,39% em julho: o lanche subiu 0,74%; enquanto a refeição avançou 0,24%.
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