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Iracemápolis (SP) aguarda fábrica da GWM com ceticismo, após decepção com Mercedes-Benz

Empresários afirmam que montadora alemã não chegou a movimentar economia local

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Foto do author Luciana Dyniewicz

ENVIADA ESPECIAL A IRACEMÁPOLIS (SP) - “A população está cautelosa.” É assim que o empresário Luiz Henrique Camargo resume o sentimento da população de Iracemápolis (a 165 km de São Paulo) em relação à chegada da montadora chinesa GWM à cidade. Frustrados com a experiência que tiveram com a Mercedes-Benz no município, moradores dizem temer ter uma nova decepção com promessas de geração de emprego e desenvolvimento econômico que não se concretizam.

“Temos expectativa de que a cidade cresça com a vinda da GWM, mas também temos cuidado, porque nossa primeira experiência não foi muito boa. Quando a Mercedes chegou, ela vendeu um sonho. Houve a expectativa de que todo mundo iria ganhar mais. Mas, infelizmente, ela não conseguiu entregar o que nos prometeu”, diz o empresário, sócio de três supermercados no município.

Trabalhadores testam linha de montagem que foi da Mercedes e que passará a produzir carros da GWM Foto: Taba Benedicto/ Estadão

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A empresa alemã chegou a Iracemápolis em 2016, após investir R$ 600 milhões (cerca de R$ 915 milhões, em valores atualizados) em uma fábrica com capacidade para produzir 20 mil carros por ano e empregar 750 pessoas. À época, estimava-se que outros 2,3 mil empregos seriam gerados indiretamente na cidade.

A planta fechou pouco menos de cinco anos depois, não tendo ultrapassado a marca de 14 mil veículos produzidos por ano. Quando anunciou que encerraria as atividades em Iracemápolis, a unidade da empresa empregava 370 pessoas.

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Luiz Henrique Camargo: 'A população está cautelosa' Foto: Taba Benedicto/ Estadão

Procurada, a Mercedes não quis comentar o assunto. A GWM afirmou, em nota assinada por seu diretor de assuntos institucionais, Ricardo Bastos, que o impacto de sua operação será “bem diferente” do que foi o da montadora alemã.

“A Mercedes produzia 7 mil unidades por ano e gerava 370 empregos diretos. A nova fábrica da GWM começará com 35 mil unidades/ano e vai gerar 900 empregos diretos, tudo isso só no primeiro ano. Mas a meta é chegar a 50 mil carros em três anos”, destacou. O executivo acrescentou que o índice de nacionalização será “muito maior” e que a planta será destinada também para exportação e terá um centro de engenharia e desenvolvimento a partir de 2025.

A GWM pretende inaugurar sua fábrica no Brasil no primeiro semestre de 2025 — após dois anos de atraso. Por ora, seus corredores estão, de modo geral, vazios. A unidade, na qual R$ 10 bilhões devem ser investidos até 2032, usará grande parte das máquinas que eram da Mercedes. Os equipamentos vêm sendo testados e recebendo modificações para produzirem os veículos da chinesa.

Movimento no comércio local

Moradores da cidade afirmam que um dos motivos para a fábrica da Mercedes não ter impulsionado a economia é que parte dos trabalhadores eram de outras cidades da região — como Limeira e Piracicaba — e iam e voltavam diariamente, não movimentando a economia local. Alguns restaurantes, no entanto, se beneficiaram da presença da alemã. São eles que estão, novamente, otimistas.

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Dono do maior restaurante de Iracemápolis, Elizandro Silveira aumentou suas vendas em 35% quando a fábrica da Mercedes estava em construção. Vendia marmitas para a empresa distribuir entre os trabalhadores da obra e refeições para os executivos em sua unidade no centro da cidade.

Quando a alemã fechou as portas, o faturamento caiu menos que o esperado: 10%. Agora, Silveira espera um novo aquecimento nas vendas e, se elas se concretizarem, deve abrir uma segunda unidade com 400 lugares — o restaurante atual tem capacidade para 250 pessoas.

Silveira, no entanto, é uma exceção. No comércio, é difícil encontrar alguém fazendo planos devido à chegada da GWM. “Temos uma expectativa boa para o comércio e para a cidade. Mas, por enquanto, não sentimos aumento nas vendas, apesar de notarmos chineses na loja”, diz Priscila Cotinguiba, funcionária de supermercado. “Quando a Mercedes chegou, não percebemos também nenhuma melhora. Quando foi embora, a mesma coisa, não teve diferença”, acrescenta.

Para movimentar economia local, GWM não pode apenas montar kits, deve produzir na cidade, avalia Celso Domiciano Foto: Taba Benedicto/ Estadão

Presidente da associação comercial do município, Celso Domiciano, destaca que o motor da economia de Iracemápolis é a indústria sucroalcooleira — há uma usina do grupo São Martinho na cidade. Ele também afirma que nada mudou no município com a abertura e o fechamento da Mercedes. Agora, diz haver uma esperança de crescimento econômico que só deve se concretizar se a GWM fabricar veículos, não apenas montar kits prontos (conhecidos como CKDs) importados da China.

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Ainda que a saída da Mercedes de Iracemápolis não tenha tido um impacto significativo entre os comerciantes, houve consequências para a cidade. Isso porque, com o fim da operação da fábrica, o repasse de ICMS ao município caiu 20%, segundo a prefeita, Nelita Michel (PL). A arrecadação com ISS diminuiu 15%.

Diante dessa queda de recursos, a Prefeitura só conseguiu manter investimentos porque recebeu R$ 8 milhões via emendas parlamentares, afirma Michel. Ela se diz otimista com a volta de uma montadora à cidade e destaca que, neste ano, a arrecadação gerada por fornecedores da GWM já deve corresponder entre 2% e 2,5% do total do ISS.

“Ainda não sabemos como vai ser a operação fiscal da GWM, mas a expectativa é que tenhamos algo similar ao da Mercedes”, acrescenta.

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