Depois de anunciar, há exatamente um ano, que iria reforçar sua atuação no varejo, com a venda de notebooks e tablets, a Itautec, empresa do grupo Itaúsa, decidiu mudar drasticamente sua estratégia. A empresa divulgou, ontem, que vai parar de fabricar computadores e que vendeu 70% dos negócios de automação e prestação de serviços de tecnologia para a japonesa Oki Electric, por R$ 100 milhões. Para cumprir contratos já firmados, a Itautec vai manter a produção de PCs, notebooks e tablets por pelo menos mais seis meses na fábrica de Jundiaí. Até o fim de agosto, a empresa terá de entregar 90 mil equipamentos e, nos últimos quatro meses do ano, mais 15 mil. A produção deve ser terceirizada, mas a empresa garante que continuará prestando serviços de atendimento ao consumidor, manutenção e garantia dos produtos. Questionado sobre o que fez a companhia optar por uma mudança tão radical, o presidente da Itautec, Henri Penchas, não usou meias palavras para responder: "nada como a realidade para nos mostrar que estávamos no caminho errado". Desde 2010, a receita da empresa tem se mantido praticamente inalterada, na casa de R$ 1,5 bilhão, e o lucro líquido, que já chegou a R$ 100 milhões em 2007, foi de apenas R$ 1,5 milhão no ano passado. "Um lucro desses e nada é a mesma coisa." Com mais de quatro décadas no Grupo Itaúsa, o executivo assumiu a presidência da Itautec no fim de abril, a pedido dos acionistas, para dar um jeito na companhia. Penchas substituiu Mário Anseloni, ex-HP, contratado em fevereiro de 2010, justamente para fortalecer a presença da empresa no mercado de computadores. "Não fazia sentido concorrer com as gigantes desse setor", disse o presidente. "Produzimos 500 mil equipamentos por ano, enquanto eles fazem milhões." O tablet, desenvolvido pela Itautec há seis meses, nem chegou a ser vendido. Embora a área de computadores representasse 45% do faturamento da Itautec, nos últimos anos, o segmento vinha perdendo espaço no lucro da empresa. "Com os custos elevados e sem escala, chegamos a ter prejuízo." Parte da explicação para a decisão tomada pelo Grupo Itaúsa está no momento crítico pelo qual passa o mercado de PCs. As vendas mundiais de laptops e desktops recuaram 13,9% no primeiro trimestre de 2013, na comparação com o mesmo período do ano passado. Essa queda, calculada pela consultoria IDC, é a maior desde 1994. "O mercado de PCs está cada vez mais se aproximando ao de commodities, pois poucas marcas têm um diferencial", diz o analista da Frost & Sullivan, Fernando Belfort. Essa dificuldade, enfrentada mundialmente, afeta em particular os fabricantes brasileiros. Competir com marcas asiáticas, como Samsung e Lenovo, faz a batalha ser árdua.Um resultado dessa briga é a queda de cerca de 8% no preço dos PCs no Brasil em 2012. "É um cenário nada saudável que faz o lucro das empresas locais encolherem", diz Bruno Freitas, gerente de pesquisa da IDC.Venda. A nova empresa, resultante da venda para a japonesa Oki, vai se dedicar ao setor de automação, que inclui a fabricação de caixas eletrônicos, e de prestação de serviços tecnológicos. A multinacional está entre as líderes na fabricação de equipamentos de telecomunicação no Japão. Com a Oki controlando a fabricação de caixas eletrônicos da Itautec, os equipamentos devem ganhar novas funções, como a que faz o câmbio de moedas no próprio caixa e a recicladora, que aproveita o dinheiro de depósito para operações de saques - o que ainda não existe no Brasil. Como 97% do capital da Itautec pertence à Itaúsa e a fundações ligadas ao grupo, os japoneses devem fechar o capital da empresa até o fim do ano.
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