Como um feriado tradicional leva o Japão a desperdiçar R$ 23 milhões em sushis descartados

Segundo a BBC, pesquisa revela que lojas de conveniência japonesas jogaram fora 947.121 rolos de ehomaki no feriado de Setsubun

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Foto do author Katharina Cruz

O feriado japonês Setsubun - que celebra a transição para a primavera - tem sido apontado como um dos eventos responsáveis por elevar o descarte de alimentos no Japão devido à venda de um sushi roll chamado ehomaki. Apenas neste ano, aproximadamente 55.657 lojas de conveniência do Japão jogaram fora 947.121 mil rolos de ehomaki. A soma total do gasto com eles fica entre 700 e 800 milhões de ienes (o equivalente a cerca de R$ 23,9 milhões), segundo uma pesquisa realizada por ativistas e pesquisadores japoneses para medir o nível de desperdício nessa data, disponível no site Yahoo Japan. As informações são da BBC.

Para a realização da pesquisa, Riko Morinaga e outros voluntários visitaram, durante o feriado de Setsubun, 101 lojas de conveniência em todo o Japão para registrar o número de rolos de ehomaki deixados nas prateleiras depois das 21h. Apenas na FamilyMart e na 7-Eleven (maiores redes de lojas de conveniência do país), ela contabilizou 72 rolos em uma loja e 93 rolos na outra.

FamilyMart é uma das maiores redes de lojas de conveniência do Japão; pesquisa aponta como esse setor contribuem para a questão de desperdício de alimentos no país.  Foto: FamilyMart via www.family.co.jp

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Segundo a reportagem da BBC, rolos de sushi ehomaki tornaram-se emblemáticos no problema mais amplo do desperdício de alimentos no Japão. A pesquisa resume como as lojas de conveniência do país – conhecidas pelo seu fornecimento confiável de alimentos perecíveis, como sushis, sanduíches e jantares pré-preparados – desempenham um papel descomunal na contribuição para a questão. Segundo Rumi Ide, pesquisador independente, ativista e jornalista que coordenou a pesquisa, muitas destas lojas ficam abertas 24 horas, 365 dias por ano, e, por trás da conveniência, está uma “enorme quantidade de desperdício, que os consumidores desconhecem”.

É difícil quantificar a dimensão exata do problema, porque as empresas de lojas de conveniência não são transparentes sobre as suas perdas. Representantes da 7-Eleven Japan e da Lawson disseram à BBC que não divulgam a quantidade de desperdício de alimentos gerada pelas suas lojas. Já os representantes da FamilyMart, outra grande cadeia, não responderam aos pedidos de entrevista, mas a empresa indica no seu site que as suas lojas geram 56.367 toneladas de desperdício alimentar por dia.

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Pressão por vendas

De acordo com Masafumi Kawano, presidente do Sindicato dos Funcionários da 7-Eleven Japão, ouvido pela BBC, os proprietários de lojas dizem enfrentar uma pressão para encomendar itens diários em excesso e também para vender mais itens sazonais, ano após ano. Em preparação para o Setsubun, por exemplo, Kawano relata que a sede da 7-Eleven enviou um aviso em dezembro incentivando todas as suas franquias a encomendarem 1,5 vez o número de ehomaki vendidos no ano anterior. O mesmo acontece com os bolos de Natal, normalmente consumidos no Japão nos dias 24 e 25 de dezembro. “Todos os anos, a sede estabelece uma meta maior para os bolos de Natal em comparação com o ano anterior”, disse Kawano.

A BBC informou que um porta-voz da 7-Eleven Japão negou a existência de quaisquer cotas para suas franquias. Kawano concordou que os comerciantes não são tecnicamente obrigados a seguir as instruções da sede, mas, segundo ele, na realidade, a maioria o faz. “É uma questão de estrutura de poder, quando a matriz diz alguma coisa, as filiais são quase forçadas a obedecer”, disse à emissora britânica.

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