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Pleno emprego, inflação baixa, salários em alta: o Japão vive um problema econômico

Índice de preços no país deve encerrar 2023 em 2%; banco central local estima que salários terão de subir, pelo menos, 3% para alcançar essa meta

Na contramão do restante do mundo desenvolvido, o Japão, imerso em 15 anos de constante queda de preços, vive o problema de precisar subir a inflação para uma taxa sustentável de 2%. Sem isso, o país pode ingressar numa perigosa desinflação. O índice de preços do Japão atingiu 4,0% em dezembro devido a uma situação extraordinária: o choque de energia e de commodities provocado pela invasão militar da Rússia na Ucrânia há um ano.

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Mas os aumentos expressivos desses produtos estão se dissipando e a perspectiva é de que o índice de preços ao consumidor caia pela metade, atingindo a meta de 2,0% determinada pelo banco central (BoJ, na sigla em inglês) no final de 2023. O problema é que, economistas estimam que o número ficará menor em 2024. Takahiro Sekido, estrategista-chefe para o Japão e economista para mercados globais do Banco MUFG, por exemplo, projeta 1,3% de inflação no ano que vem.

”O BoJ quer confirmar a conexão de alta dos salários com o aumento da inflação e para isso é necessário um crescimento firme na remuneração dos trabalhadores no Japão”, afirmou Sekido. Para ele, os salários subirão 3% neste ano, acima da expansão de 2,3% registrada em 2022. Com uma taxa de desemprego que deverá atingir 2,0% neste ano e ficar neste nível em 2024, o Japão tem uma perspectiva de que a escassez de mão-de-obra continuará no médio prazo.

Em tais circunstâncias, é provável que as empresas aumentem os salários para realizar contratações. “As companhias no país estão com boas condições financeiras que permitem conceder reajustes. No caso das indústrias, muitas delas são exportadoras de eletroeletrônicos e de carros e estão sendo beneficiadas pela desvalorização do iene ante o dólar, o que fortaleceu o faturamento”, disse o estrategista do MUFG, baseado em Tóquio.

Inflação do Japão está hoje em 4% por causa da pressão de preços de energia, mas dever cair para 2% no fim do ano Foto: Hiro Komae/AP Photo

Além das exportações estarem ajudando o bom desempenho da economia do Japão, cujo PIB deverá crescer 1,3% neste ano e 1,1% em 2024, segundo Sekido, o grande reforço para o nível de atividade nos próximos trimestres continuará vindo da política monetária acomodatícia, com os juros estáveis em -0,10% até o final do próximo ano.

Pressão desinflacionária

A dificuldade de empresas encontrarem trabalhadores no mercado de trabalho do Japão, causada principalmente pelo declínio da população, leva o banco central a apontar que é necessário um aumento dos salários de 3% para que a inflação alcance a meta de 2,0%.”No Japão, muitas pessoas não compram hoje porque acreditam que os preços ficarão mais baixos amanhã. É uma questão cultural. Esse é o principal motivo que deverá levar o BoJ a manter os juros em -0,1% até o final de 2024. A taxa negativa não é favorável à poupança de consumidores e estimula empresas a ampliarem investimentos”, disse Chong Hoon Park, diretor de pesquisas econômicas para o Japão e Coreia do Sul do banco Standard Chartered.

Dois elementos podem ajudar as companhias a ter receitas mais fortes no curto prazo e subir as remunerações dos seus funcionários: a abertura da economia da China, que é um grande parceiro comercial do Japão, e o desempenho positivo da demanda agregada na Europa, que poderá evitar uma recessão neste ano, como apontam muitos especialistas internacionais.

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Desta forma, Park prevê que os salários devem subir 2,6% neste ano, acima da alta 1,7% estimada por ele para a inflação. Para 2024, como o índice de preços ao consumidor projetado em 1,0%, ele acredita que o aumento dos salários será um pouco menor e avançará 2,0%. “A economia do Japão pode também ser beneficiada por um grande influxo de turistas chineses no curto prazo, com o fim da política de covid-zero adotada pelo governo de Pequim”, comentou Chong Hoon Park. Ele prevê estabilidade na taxa de desemprego no Japão até o início de 2025, atingindo 2,5% em dezembro deste ano e 2,4% no encerramento de 2024.

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