JBS corre contra o tempo para quitar R$ 18 bi em dívidas

Para o banco JP Morgan, empresa, que é a maior produtora de carne do mundo, deve perder até 30% do seu mercado no Mercosul

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Por Alexa Salomão e Josette Goulart

Desde que a delação dos irmãos Batista veio a público, os analistas de mercado financeiro se calaram. A justificativa é que os indicadores da JBS teriam “virado pó”. Não é apenas o futuro da empresa que é considerado incerto. Pelo que foi narrado pelos próprios controladores, o passado tornou-se nebuloso, dado que ainda não é possível definir se os esquemas de corrupção distorceram os resultados anteriores. Mas há um dado concreto para todos: a JBS tem um buraco de R$ 8 bilhões para cobrir neste ano.

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Vencem, agora em 2017, R$ 18 bilhões em dívidas de curto prazo – quase um terço da dívida de R$ 58,4 bilhões do grupo, um montante considerado bastante elevado. A empresa tem a opção de usar o caixa, abastecido por R$ 10 bilhões, mas precisa correr contra o tempo para conseguir o restante. Mergulhada em seus próprios relatos de ilegalidades, prestando contas a órgãos reguladores no Brasil e nos Estados Unidos, negociando multas bilionárias e sofrendo pressão dos políticos que denunciou, dificilmente terá socorro de bancos, públicos ou privados, ou credibilidade para captar no mercado. Terá de recorrer a medidas emergenciais, afirmam analistas.

Estratégia. Ciente do tamanho da encrenca, antes mesmo de a delação vir a público, a JBS montou uma estratégia para se resguardar. Parou de comprar bois à vista. A mudança desagradou aos pecuaristas, mas o pagamento a prazo para a gigantesca estrutura de abate da JBS segura no caixa R$ 1 bilhão por mês, aliviando a necessidade de capital de giro. O próximo passo, projetam consultores do setor, é o grupo começar a encolher. “A expectativa é que a JBS venda ativos, abrindo mão, num primeiro momento, de negócios que não são ligados à carne”, diz José Carlos Hausknecht, sócio da MB Agro Consultoria. 

Na semana passada, a J&F, holding que controla a JBS e outras empresas da família, começou a buscar bancos para vender a Alpargatas, do setor de calçados e têxteis; a Eldorado, fabricante de celulose; e a Vigor, empresa de lácteos. A Eldorado é considerada o negócio mais atraente e viável. “Os chineses, que têm dinheiro, não temem adquirir ativos com risco de esqueletos e estão com demanda crescente em seu próprio território, teriam enorme interesse em pagar um preço justo pela Eldorado”, diz uma fonte do setor financeiro. 

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Venda. Os analistas do JP Morgan, entre os poucos que se arriscaram a divulgar relatórios sobre a empresa, defendem outra ideia: a redução de compra de boi e da criação de aves e suínos. Acreditam que a empresa vá encolher e perder até 30% do mercado de carnes no Mercosul. No Brasil, toda estrutura tem 80 unidades de produção, 47 centros de distribuição, fora as 24 unidades de processamento de couro e três confinamentos. 

Em um e-mail enviado a clientes, os analistas do BTG Pactual também apontam preocupação com os R$ 8 bilhões a descoberto. Eles entendem, no entanto, que, como as linhas de curto prazo são formadas basicamente por crédito à exportação, lastreadas na produção, a dívida pode ser paga mais facilmente. 

No mercado financeiro, a projeção é que as ações da empresa na Bolsa paulista sigam com instabilidade. O papel, que chegou a R$ 12,46 em setembro de 2016, fez um mergulho na terça-feira pós-delação. Caiu assustadores 31%, para R$ 5,98. Depois, engatou movimentos de alta. No balanço da semana, a queda foi de 11,48% – o papel fechou a R$ 7,71 na sexta-feira. 

“Investidores com perspectiva de longo prazo já estão fora do papel, ele agora é especulativo”, diz Eduardo Roche, sócio da Canepa Gestora de Recursos. O movimento de alta da ação ao longo da semana, segundo relatos do mercado, teve duas razões. A primeira foi ficar claro que as multas e punições financeiras não vão recair exclusivamente sobre a JBS. A holding J&F assumiu a responsabilidade. O movimento também teria sido impulsionado pela ação de “gringos” com apetite ao risco. “Sinceramente, não sei o que eles estão vendo – ou não estão vendo”, diz Roche.

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Existe ainda o temor em relação a eventuais revisões dos balanços. A delação revela, por exemplo, que a empresa chegou a depositar de 1% a 3% do valor das exportações em offshores para pagar propinas. Surgem as dúvidas: Qual valor foi registrado? Foi inflado? Ajustaram ao desconto da propina? Também incomoda a revelação do pagamento de propina para liberação de recursos no BNDES. O dinheiro pode ser lícito, mas a forma como foi obtido envolveu corrupção. Ninguém consegue dimensionar as consequências.

Novos cortes. Os analistas do banco JP Morgan acreditam que a JBS, dona da marca Friboi, vai perder 30% do mercado de carne no Mercosul e a receita da Seara, empresa do grupo que atua no mercado de aves, deve cair 15%. Nesse cenário, o frigorífico Minerva é o que está mais preparado em termos de caixa para abocanhar a parte do mercado que será deixada para trás pelo JBS, que agora precisa resolver sua situação financeira.

A atividade dos frigoríficos é intensiva de capital e sua liquidez chega a ser mais importante do que até mesmo o tamanho da dívida da companhia. Segundo o JP Morgan, certamente a atividade de carne será a mais afetada. O JBS não tem uma atuação tão forte no ramo de aves. Isso significa que a BRF, que é a maior do País no setor, também vai se beneficiar, mas não tanto quanto a Minerva.