A decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de indicar para a presidência do IBGE o economista Marcio Pochmann – considerado uma espécie de “terraplanista econômico” por alguns de seus pares – é um exemplo emblemático do jeito PT de governar.
A ministra do Planejamento, Simone Tebet (MDB-RS), a quem o IBGE está vinculado, afirmou que terá “prazer em atender ao pedido de Lula” nomeando Pochmann, depois de ter dito que não havia sido consultada sobre a questão. Mas o caso é mais um sinal de que, na prática, a tal da “frente ampla” que apoiou a candidatura de Lula só serviu mesmo para pavimentar a volta do PT ao poder e para ajudar a superar as resistências ao partido existentes na sociedade, principalmente depois dos escândalos de corrupção revelados pela Lava Jato.
Renegada a uma função secundária no governo, que ela resolveu aceitar também após um pedido pessoal de Lula, embora reivindicasse o ministério da Educação ou o do Desenvolvimento Social, ocupados no fim pelos petistas Camilo Santana e Wellington Dias, Tebet sentiu novamente na pele o que significam as pretensões hegemônicas do PT.
Leia também
Quem acreditou que desta vez seria diferente, como Tebet, cujo apoio foi considerado fundamental para a vitória de Lula por uma diferença de apenas dois milhões de votos em relação ao ex-presidente Jair Bolsonaro, que buscava a reeleição, agora está sendo confrontado com a dura e crua realidade.
Na verdade, a indicação de Pochmann representa apenas um novo ingrediente do coquetel indigesto que o governo Lula está preparando para a economia do País. Ele inclui o descaso pelo controle de gastos, o desrespeito à Lei das Estatais, que limita a nomeação de políticos e dirigentes partidários para a direção de empresas públicas, o combate à autonomia do Banco Central e a paralisação das privatizações, além da volta do protecionismo e do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), ancorado na velha ideia de cabe ao Estado alavancar os investimentos no País.
Tudo isso temperado pelo retorno da “diplomacia bolivariana”, marcada por elogios a “ditaduras amigas”, como Venezuela, Nicarágua e Cuba, pela visão de que “a Ucrânia também tem culpa na guerra”, embora ela tenha sido deflagrada pela invasão do território ucraniano pela Rússia, e pela promessa de usar os recursos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para financiar um gasoduto na Argentina do peronista Alberto Fernández.
É certo que o choro é livre, mas agora é tarde para verter lágrimas pelos rumos tomados pelo atual governo. Muito do que está acontecendo era previsível e só não se deu conta de que isso ocorreria quem não quis. Mas, se serve de consolo, faltam “só” 1.252 dias para o mandato de Lula acabar.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.