No momento em que o Banco Central puxa os juros para 13,25% ao ano e indica nova alta de um ponto porcentual na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), em março, para tentar domar a escalada de preços e evitar o superaquecimento da economia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva age para colocar mais lenha na fogueira inflacionária.
Como se não bastasse a pressão já colocada sobre a inflação pela gastança sem lastro promovida pelo governo, Lula agora quer turbinar a demanda, com a liberação do uso de parte do FGTS como garantia de empréstimos consignados contratados por trabalhadores do setor privado, que costumam pagar juros mais altos nas operações do que o funcionalismo público.

A medida, discutida com banqueiros pelo presidente e pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, até seria uma boa ideia se o quadro econômico fosse outro. Afinal, o dinheiro do FGTS é do próprio trabalhador e todas as propostas para que ele possa usar sua poupança para melhorar sua vida são sempre bem-vindas.
Mas hoje, com a inflação mostrando suas garras, como qualquer brasileiro pode sentir no bolso, através da escalada dos preços dos alimentos e de outros produtos, a proposta de Lula deverá dificultar ainda mais o trabalho do BC, já bastante comprometido pela política fiscal expansionista praticada pelo governo.
Diante de sua queda contínua na aprovação popular, segundo as pesquisas de opinião, e da aproximação das eleições de 2026, Lula mostra com mais essa medida que pretende alavancar o crescimento econômico a todo o custo, sempre colocando à frente o interesse político de curto prazo – e o problema é que a fatura vai acabar sobrando para todos nós mais adiante, como já aconteceu no governo Dilma.
Contido em seus ímpetos perdulários pelas restrições orçamentárias e pela dificuldade de promover novos gastos à margem do Orçamento, como tem ocorrido, Lula não se fez de rogado. Foi buscar uma alternativa que não envolvesse gastos públicos, o que não deixa de ser um avanço, para injetar mais dinheiro na economia.
De um jeito ou de outro, porém, isso vai jogar ainda mais pressão sobre a política monetária, que já está se mostrando limitada para conter a inflação sem apoio fiscal, e poderá prolongar o ciclo de alta dos juros além do que vêm projetando os economistas. Deverá aprofundar também a crise de credibilidade que atinge a política econômica do governo e a deterioração das expectativas em relação ao cenário que se desenha para a economia em 2025 e nos próximos anos.
Leia também
Como se pode observar, a “lógica” econômica petista é realmente peculiar. Até quando Lula e Haddad acham que estão dando uma “tacada de mestre”, ao viabilizar o uso do FGTS como garantia de empréstimos a juros mais baixos, eles estão fazendo a coisa na hora errada.
Ironicamente, até ontem ou anteontem, o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, vociferava por aí contra o saque-aniversário do FGTS – idealizado pelo ex-secretário de Polícia Econômica Adolfo Sachsida na gestão do ex-ministro Paulo Guedes – sob o argumento de que o dispositivo comprometia a poupança popular e reduzia os recursos disponíveis para a construção civil a juros de pai para filho.
Inadimplentes
No governo passado, o PT e seus aliados também “bombardearam” o uso do Auxílio Brasil para a realização de empréstimos consignados a taxas reduzidas e não sossegaram enquanto a modalidade não foi suspensa pela Caixa. Agora, quando uma proposta semelhante vem do chefão petista, vale tudo, ainda que ela também afete o volume de recursos disponíveis para a setor de construção e que parte da poupança dos trabalhadores seja eventualmente comprometida para que os inadimplentes possam quitar seus “papagaios”.