Com o fim da quarentena de seis meses que teve de cumprir após deixar o governo, o ex-ministro da Economia Paulo Guedes começou a definir seu futuro na iniciativa privada. Ele ainda está negociando as atividades que deverá exercer nas áreas financeira e empresarial, mas já acertou sua participação como dirigente de uma das principais organizações internacionais de defesa do livre mercado e da democracia.
Segundo apurou o Estadão, Guedes, de 73 anos, aceitou o convite feito por Mario Vargas Llosa, prêmio Nobel de Literatura em 2010 e colunista do jornal, para ser o representante e o diretor no Brasil da Fundación Internacional para la Libertad (FIL), da qual o escritor peruano é o presidente e foi um dos fundadores, em 2002, e para integrar o conselho global da entidade.
Sua primeira missão será criar a base local da FIL, voltada para a defesa da democracia, do Estado de Direito e da livre iniciativa, e começar a organizar suas atividades no País. Ele pretende lançar também, conforme apurou o Estadão, um fórum internacional de empresários para promover a economia de mercado, reforçando a atuação da organização na área.
Admirador do trabalho feito por Guedes no governo, com foco na implementação de uma agenda liberal, Llosa, de 87 anos, conheceu pessoalmente o ex-ministro em evento realizado pela FIL em Madri em 2021, para debater as relações entre o Brasil e a Espanha, no qual ele foi palestrante.
Desde então, a relação com Guedes – que foi um dos fundadores do Instituto Millenium no Brasil, centro de estudos também voltado à defesa das liberdades e da economia de mercado – aprofundou-se, culminando agora com o convite para ele dirigir a entidade no País, considerado fundamental por Llosa para a definição do futuro da América Latina, frequentemente ameaçada pelo populismo, que às vezes se transforma em autoritarismos e até em ditaduras.
Com sede na capital espanhola e ramificações por quase toda a América Latina, a FIL não tem ligação com partidos políticos e promove seminários, palestras e encontros nos países em que atua, para divulgar suas ideias. Das cerca de quarenta organizações associadas à organização, destacam-se a Atlas Network, dos Estados Unidos, a Riedrich Naumann Foundation for Freedom, da Alemanha, e a Associación de Iberoamericanos por La Libertad, da Espanha, além do Instituto de Estudos Empresariais (IEE) e da plataforma Fronteiras do Pensamento, do Brasil.
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O conselho diretor do FIL inclui também representantes de organizações de defesa da democracia e das liberdades de vários países, entre eles cientista político brasileiro Fernando Schüler, curador do Fronteiras do Pensamento. O mesmo acontece com o conselho acadêmico e com o conselho de empresários da entidade, coordenado por Álvaro Vargas Llosa, filho do escritor, que tem Salim Mattar, um dos fundadores da Localiza e ex-secretário Especial de Desestatização, entre seus integrantes.
Outras atividades
Como já foi divulgado, Guedes deverá exercer também outras atividades, mas até o momento, de acordo com informações obtidas pelo Estadão, não “bateu o martelo” com ninguém. Não apenas porque sua quarentena só acabou agora, mas também porque ainda está discutindo possíveis conflitos de interesse com os envolvidos.
A participação do ex-ministro no conselho global de um grande grupo financeiro americano, dada como certa há algumas semanas, acabou não se concretizando por ora, em razão de questões relacionadas ao atual cenário político-institucional do País. Também permanece indefinida sua participação num grupo da área de educação, na qual ele atuou por muitos anos, primeiro como comandante do Ibmec, onde criou o primeiro MBA executivo em finanças, e depois como investidor em grandes empresas do setor, como Abril Educação e Ânima.
No momento, a negociação mais adiantada envolve sua participação no fundo de private equity que o ex-presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) Gustavo Montezano está montando, dedicado a investimentos em empresas inovadoras que atuam em transição energética e preservação de recursos naturais – áreas-chave nas conversas lideradas pelo ex-ministro para adesão do Brasil à OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico).
Guedes deverá participar também como integrante do conselho de administração da Legend, empresa financeira que tem como investidor o banco BTG Pactual, do qual ele foi um dos fundadores, e como sócio o financista Sérgio Eraldo Salles Pinto, seu amigo e ex-parceiro na Bozano Investimentos. Agora, como a Legend está negociando uma fusão com o family office do empresário Elie Horn, fundador da construtora Cyrela, que era um dos principais investidores do antigo fundo de private equity de Guedes, ele deve aguardar a definição do negócio, como apurou o Estadão, para formalizar sua participação.
Também estão bem encaminhadas as negociações para Guedes atuar como consultor sênior de dois fundos internacionais, um americano, dedicado a investimentos em empresas inovadoras nas áreas de inteligência artificial e segurança da informação, e outro, com sede num país do Oriente Médio, voltado para investimentos em infraestrutura. A tendência, porém, é ele fechar com apenas um deles.
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