Após o ruído gerado pela decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) em maio, em razão do placar dividido de cinco a quatro pelos quatro membros do Comitê que votaram pela queda de -0,5 ponto de porcentagem, tendo sido indicados pelo atual governo, a reunião do órgão da semana passada dominou o cenário da economia brasileira.
O placar dividido em linhas aparentemente ideológicas da reunião de maio criou entre os investidores a percepção de que os novos diretores, a partir de janeiro de 2025, quando muda a presidência do Banco Central, terão um comportamento menos comprometido com a meta para a inflação que a diretoria atual.
O resultado foi uma desancoragem das expectativas para a inflação. Entre a reunião de maio e a última segunda-feira, as expectativas para a inflação em 2024 passaram de 3,72% para 3,98%, enquanto as expectativas para 2025 saíram de 3,66% para 3,85% no mesmo intervalo. As de 2026 saíram de 3,50% para 3,60%. Somente as expectativas para 2027 permaneceram estáveis em 3,5% ao ano. Todas acima da meta de 3,0% do Banco Central.
Simultaneamente, o real mostrou desvalorização de 9,5% ao longo deste período, e as taxas de juros dos títulos longos do Tesouro mostraram forte crescimento.
A avaliação dos investidores antes da reunião da semana passada era de que o Copom iria manter a taxa Selic constante e a grande maioria dos investidores antecipava um placar unânime. A pergunta que ficou no ar é como as declarações do presidente Lula iriam afetar os membros do Comitê por ele indicados. No final, a decisão de manutenção da taxa Selic, por unanimidade, saiu vencedora, apesar das pressões do governo.
Este foi um primeiro sinal de independência destes diretores. Entretanto, a questão é qual o real significado desta decisão? Será que, apesar das pressões do presidente Lula e do PT, a nova diretoria vai conseguir resistir?
A independência do Banco Central cumpre um papel fundamental neste processo. Uma vez escolhido e aprovado pelo Senado Federal, o novo presidente terá um mandato de quatro anos ao longo do qual somente poderá ser demitido mediante aprovação do próprio Senado. Isto significa que estará totalmente fora do alcance do presidente da República, como ocorre hoje. Poderá ser completamente independente se quiser.
Diante desta dúvida e do cenário fiscal cada vez mais desafiador, nossas projeções apontam que as expectativas para a inflação deverão permanecer em trajetória de elevação, o que inviabiliza uma redução da taxa de juros no horizonte relevante da política monetária.
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