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Professor da PUC-Rio e economista-chefe da Genial Investimentos, José Márcio Camargo escreve quinzenalmente

Opinião|Decisões do governo são uma das razões da queda da taxa de investimentos em 2023

Tentativa de interferência na Vale mostra que Lula não entendeu as regras da economia de mercado

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A taxa de investimento da economia brasileira entrou em forte queda a partir do último trimestre de 2022. Entre o último trimestre de 2022 e o terceiro trimestre de 2023, a taxa de investimento caiu de 18,3% para 16,6% do PIB.

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No trimestre terminado em outubro, a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) caiu -8,5% em relação ao mesmo trimestre de 2022. Em 2023 até outubro, a FBCF caiu -3,4%.

A redução foi generalizada. No trimestre agosto-outubro, máquinas e equipamentos mostraram queda de -14,9%; construção civil, -1,3%; e outros ativos fixos, -11,0%; em relação ao mesmo período de 2022.

Nas últimas semanas, os investidores se viram diante de notícias de que o presidente Lula da Silva estaria tentando interferir na escolha do novo CEO da Vale, com o objetivo de colocar no cargo o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega.

Guido Mantega foi ministro da Fazenda durante os primeiros mandatos de Lula Foto: Celso Junior / AE

A Vale é uma empresa privada. A interferência do governo na escolha do CEO da empresa é algo totalmente inusitado. Mostra, no mínimo, que o presidente Lula (e seu partido, o PT) ainda não se conformou com a privatização da empresa e, mais importante, não entendeu as regras de uma economia de mercado.

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Após a repercussão negativa, o governo recuou. Entretanto, em contrapartida, anunciou que vai cobrar R$ 25,7 bilhões pela antecipação da renovação de concessões de ferrovias negociadas e realizadas no governo de Jair Bolsonaro. Os investidores viram essa tentativa de cobrança extra como uma penalização à empresa, por não aceitar a interferência do presidente.

Decisões desse tipo são uma das razões da queda da taxa de investimentos em 2023. Entretanto, ela não está isolada. A mudança do marco temporal das terras indígenas, a volta das invasões de terras pelo MST aprovadas pelo governo, o aumento da carga tributária sobre empresas, as incertezas decorrentes da reforma tributária ainda em andamento, as tentativas de interferir na Eletrobras, acabar com a autonomia do Banco Central, mudar o marco regulatório do saneamento, revogar a nova legislação trabalhista, que foram barradas pelo Congresso, são algumas das medidas que geram incerteza e reduzem os investimentos.

A evolução da taxa de investimento é preocupante. Sem investimento, a capacidade produtiva não cresce e o aumento de consumo acaba esbarrando no esgotamento dessa capacidade, o que gera pressão inflacionária e força o Banco Central a aumentar a taxa de juros.

Opinião por José Márcio de Camargo

Professor aposentado do Departamento de Economia da PUC-Rio, é economista-chefe da Genial Investimentos

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