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Professor da PUC-Rio e economista-chefe da Genial Investimentos, José Márcio Camargo escreve quinzenalmente

Opinião | Copom cria ‘muro de contenção’ para recuperar credibilidade e blindar nova diretoria

Sem a ajuda da política fiscal, a política monetária não será capaz de levar a economia brasileira de volta ao equilíbrio

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Em reunião na quarta-feira passada, o Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil (Copom) decidiu aumentar a taxa básica de juros da economia brasileira em 1,0 ponto de porcentagem. Ainda que a mediana das projeções dos analistas do mercado financeiro estava indicando um aumento menor, de 0,75 ponto de porcentagem, a expectativa de uma parte importante dos investidores era de aumento de 1,0 ponto de porcentagem.

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Ao mesmo tempo, o Comitê surpreendeu ao indicar que antevê mais dois reajustes de mesma magnitude nas próximas reuniões, o que levará a Selic a 14,25% em março de 2025. Quanto ao nível final da taxa no atual ciclo de política monetária, o Comitê indicou que vai depender do comportamento da taxa de inflação, principalmente de seus componentes mais sensíveis à política monetária.

O comunicado do Copom foi duro. Em especial, chamou a atenção para os efeitos negativos do pacote fiscal recentemente anunciado pelo governo sobre os preços dos ativos financeiros, as expectativas para a inflação, a taxa de câmbio e a inflação corrente.

Segundo os membros do Comitê, o cenário da economia brasileira entre as duas últimas reuniões foi caracterizado por desancoragem adicional de expectativas, elevação das projeções de inflação, dinamismo acima do esperado da atividade econômica e abertura do hiato do produto, o que exige uma política monetária ainda mais restritiva do que a vigente.

Copom prevê mais duas subidas de um ponto percentual nas próximas reuniões Foto: Dida Sampaio/Estadão

A decisão de antecipar dois novos reajustes da Selic em 1,0 ponto de porcentagem nas duas próximas reuniões tem, a nosso ver, dois objetivos principais: primeiro, dar um “choque de juros” para tentar recompor a credibilidade da autoridade monetária, que tem sido questionada pelos investidores. Segundo, criar um “muro de proteção” para a nova diretoria que toma posse em janeiro de 2025. Com a antecipação dos próximos movimentos do Comitê, a nova diretoria terá 90 dias durante os quais, provavelmente, será menos atacada pelos membros do Partido dos Trabalhadores e, quem sabe, até mesmo pelo próprio presidente da República.

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Entretanto, ao contrário das expectativas, a reação dos investidores foi bem menos positiva que o esperado. A curva de juros iniciou o dia com forte redução da inclinação, aumento das taxas de juros curtas e redução das longas, mas reverteu o sinal ao longo do dia. Da mesma forma, a taxa de câmbio iniciou o dia em queda e depois voltou a superar o nível de R$ 6,00 por dólar. São os primeiros sinais de que, sem a ajuda da política fiscal, a política monetária não será capaz de levar a economia brasileira de volta ao equilíbrio.

Opinião por José Márcio de Camargo

Professor aposentado do Departamento de Economia da PUC-Rio, é economista-chefe da Genial Investimentos

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