Em reunião na quarta-feira passada, o Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil (Copom) decidiu aumentar a taxa básica de juros da economia brasileira em 1,0 ponto de porcentagem. Ainda que a mediana das projeções dos analistas do mercado financeiro estava indicando um aumento menor, de 0,75 ponto de porcentagem, a expectativa de uma parte importante dos investidores era de aumento de 1,0 ponto de porcentagem.
Ao mesmo tempo, o Comitê surpreendeu ao indicar que antevê mais dois reajustes de mesma magnitude nas próximas reuniões, o que levará a Selic a 14,25% em março de 2025. Quanto ao nível final da taxa no atual ciclo de política monetária, o Comitê indicou que vai depender do comportamento da taxa de inflação, principalmente de seus componentes mais sensíveis à política monetária.
O comunicado do Copom foi duro. Em especial, chamou a atenção para os efeitos negativos do pacote fiscal recentemente anunciado pelo governo sobre os preços dos ativos financeiros, as expectativas para a inflação, a taxa de câmbio e a inflação corrente.
Segundo os membros do Comitê, o cenário da economia brasileira entre as duas últimas reuniões foi caracterizado por desancoragem adicional de expectativas, elevação das projeções de inflação, dinamismo acima do esperado da atividade econômica e abertura do hiato do produto, o que exige uma política monetária ainda mais restritiva do que a vigente.
A decisão de antecipar dois novos reajustes da Selic em 1,0 ponto de porcentagem nas duas próximas reuniões tem, a nosso ver, dois objetivos principais: primeiro, dar um “choque de juros” para tentar recompor a credibilidade da autoridade monetária, que tem sido questionada pelos investidores. Segundo, criar um “muro de proteção” para a nova diretoria que toma posse em janeiro de 2025. Com a antecipação dos próximos movimentos do Comitê, a nova diretoria terá 90 dias durante os quais, provavelmente, será menos atacada pelos membros do Partido dos Trabalhadores e, quem sabe, até mesmo pelo próprio presidente da República.
Entretanto, ao contrário das expectativas, a reação dos investidores foi bem menos positiva que o esperado. A curva de juros iniciou o dia com forte redução da inclinação, aumento das taxas de juros curtas e redução das longas, mas reverteu o sinal ao longo do dia. Da mesma forma, a taxa de câmbio iniciou o dia em queda e depois voltou a superar o nível de R$ 6,00 por dólar. São os primeiros sinais de que, sem a ajuda da política fiscal, a política monetária não será capaz de levar a economia brasileira de volta ao equilíbrio.
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