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Professor da PUC-Rio e economista-chefe da Genial Investimentos, José Márcio Camargo escreve quinzenalmente

Opinião | O que o Brasil terá se persistir impasse entre BC e Executivo: mais desemprego e mais inflação

Se o Banco Central deixar de perseguir o juro que leva a inflação à meta, os preços vão subir ainda mais; se o Executivo mudar de postura para uma política contracionista, teremos mais desemprego

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Foto do author José Márcio de Camargo

Os dados de atividade da economia brasileira no quarto trimestre de 2024 indicaram um provável início de desaceleração da atividade, possivelmente em razão da política monetária fortemente contracionista adotada pelo Banco Central.

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Por outro lado, os dados ainda sólidos do mercado de trabalho, geração de empregos formais bem acima das expectativas e estabilidade da taxa de desemprego, assim como o IBC-Br do mês de janeiro de 2025 (0,89%), indicam que essa desaceleração, se efetivamente está ocorrendo, é ainda tênue e gradual, incapaz de reverter a trajetória de aceleração da taxa de inflação.

Para que a desaceleração da atividade consiga ter um efeito desinflacionário importante, será necessário um mercado de trabalho menos apertado, capaz de reduzir a pressão sobre os preços dos serviços, e, ao mesmo tempo, reverter a trajetória de desvalorização cambial que persistiu ao longo de 2024, o que exige uma política fiscal mais contracionista.

Se o impasse persistir, teremos o que na teoria dos jogos se caracteriza como um equilíbrio de Nash, mais desemprego e mais inflação  Foto: Werther Santana/Estadão

Manter a política monetária contracionista, capaz de reverter a desancoragem das expectativas e ajudar na desaceleração da economia, vai demandar taxas de juros ainda mais elevadas do que as hoje vigentes. Porém, sem a ajuda de uma política fiscal contracionista, que sinalize a estabilização da relação dívida/PIB num horizonte relativamente curto, a política monetária sozinha não conseguirá atingir esse objetivo.

Entretanto, os sinais já apontam na direção de políticas fiscal e parafiscal expansionistas. Programas como o Vale-Gás, o Pé-de-Meia, a medida provisória que facilita a concessão de crédito consignado para os trabalhadores do setor privado, a liberalização dos recursos do FGTS para os trabalhadores que foram demitidos desde 2020 e que não conseguiram sacar o saldo total quando da demissão por terem optado pelo saque-aniversário, o que significa uma transferência de renda de aproximadamente R$ 12 bilhões para esses trabalhadores, estão já definidos.

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De um lado, temos um Banco Central contracionista, aumentando a taxa de juros para desacelerar a atividade e cumprir seu mandato, que é atingir a meta para a inflação. De outro, um Executivo implementando políticas fiscal e parafiscal fortemente expansionistas com o objetivo de manter o nível de atividade aquecido e evitar um aumento do desemprego.

Se o Banco Central deixar de perseguir a taxa de juros que leva a inflação para a meta, teremos mais inflação. Se o Executivo adotar políticas fiscal e parafiscal contracionistas, teremos mais desemprego. Se o impasse persistir, teremos o que na teoria dos jogos se caracteriza como um equilíbrio de Nash, mais desemprego e mais inflação.

Opinião por José Márcio de Camargo

Professor aposentado do Departamento de Economia da PUC-Rio, é economista-chefe da Genial Investimentos

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