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Professor da FEA-USP e membro da Academia Paulista de Letras, José Pastore escreve mensalmente

Opinião | Embrapa precisa de mais recursos e se livrar das amarras que a impedem de captar investimentos

Recursos para as pesquisas diminuíram 80% nos últimos dez anos e empresa está perdendo a necessária agilidade para se manter na fronteira da pesquisa científica

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Foto do author José Pastore

Em 1972, tive a honra de coordenar o Grupo de Trabalho que propôs a criação da Embrapa, legalizada em 1973. Definimos três critérios vitais para a operação da nova empresa: (1) admitir e promover pesquisadores somente pelo critério de mérito; (2) manter uma administração leve e renovável; e (3) ter flexibilidade para interagir com o setor produtivo.

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Ao longo de 52 anos, a Embrapa deu uma contribuição fantástica para o desenvolvimento da agropecuária brasileira – hoje, destaque mundial em produtividade e modernidade. A empresa formou um corpo técnico invejável. Atualmente, é uma das mais festejadas instituições de pesquisa no mundo. Suas inovações são as principais responsáveis pela contribuição de 27% da agropecuária no PIB nacional.

Todavia, em decorrência de um forte enrijecimento das regras das empresas estatais, a Embrapa não conseguiu manter sua administração leve e renovável, e tampouco dispor da flexibilidade para interagir e captar recursos de quem se beneficia diretamente dos seus conhecimentos – os produtores. Os recursos para as pesquisas diminuíram 80% nos últimos dez anos. Consequentemente, a Embrapa está perdendo a necessária agilidade para se manter na fronteira da pesquisa científica.

Um diagnóstico preciso e detalhado dessa situação foi entregue ao ministro da Agricultura, que tem a urgente missão de afastar os constrangimentos que impedem a Embrapa de manter sua destacada liderança no mundo tecnológico (Roberto Rodrigues e colaboradores, Relatório do Grupo de Estudos Avançados de Aprimoramento do Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária, Brasília, 2024).

Embrapa deu uma contribuição fantástica para o desenvolvimento da agropecuária brasileira Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado

A implementação das medidas propostas nesse documento é urgentíssima. Muitas delas estão sendo implementadas pela atual diretoria. Mas, a Embrapa precisa de mais recursos, e, além disso, se livrar das amarras administrativas que a impedem de captar investimentos. Impõe-se também a reorganização dos seus 43 centros de pesquisa. Neles, é imperioso mesclar os métodos convencionais de pesquisa com as ferramentas digitais que dispensam grandes laboratórios e abundância de pessoal auxiliar.

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É isso que li no referido relatório, assinado por renomados conhecedores da pesquisa agrícola. A transformação apontada exige uma liderança firme, como a do ministro Carlos Fávaro, que é produtor, parlamentar e conhecedor dos meandros da administração pública. Ele pode ajudar a revitalizar os princípios vitais acima indicados.

Opinião por José Pastore

Professor da FEA-USP, presidente do Conselho de Emprego e Relações do Trabalho da FecomercioSP. É membro da Academia Paulista de Letras

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