Os analistas especializados na tradução do "coponês" - o idioma peculiar das comunicações do Comitê de Política Monetária (Copom) - dividiram-se depois da leitura da ata da reunião da semana passada, divulgada ontem, em que os diretores do Banco Central decidiram elevar a taxa básica de juros em 0,5 ponto, para 12,75% ao ano. Quase todos perceberam o tom relativamente brando das mensagens transmitidas, mas, se uma minoria continuou a apostar numa alta de apenas 0,25% em abril, encerrado o atual ciclo em 13% ao ano, a maior parte considerou que ainda haverá altas de 0,5 ponto, no fim do próximo mês, e da mais 0,25 ponto em junho, com os juros básicos estacionando em 13,5%. Na percepção de consenso, o Copom transmitiu a ideia de que pioraram as expectativas para a inflação de 2015, mas há sinais de descompressão para 2016. Mesmo com a concentração do desrepresamento dos preços administrados neste ano, o que tenderia a distender o quadro inflacionário a partir de 2016, o centro da meta é outra história ainda distante no horizonte, Dois preços - os administrados e a taxa de câmbio - mantêm a inflação acima do teto da meta e impulsionam a alta este ano. Sem os fortes ajustes pelos quais ambos estão passado, nas projeções da LCA Consultores, por exemplo, a variação do IPCA já poderia estar rodando hoje abaixo de 5%, em 12 meses. A avaliação mais otimista do Copom para a trajetória da inflação depois de 2015 se articula com expectativas em relação a duas variáveis não observáveis e, portanto, sujeita às chuvas e trovoadas dos modelos adotados para dimensioná-las. A primeira deriva do quadro recessivo previsto para 2015, que estaria jogando o produto potencial para o chamado terreno desinflacionário. Cria-se, nesse tipo de situação, em que o nível de atividade evolui abaixo do seu potencial e a pressão sobre os preços arrefece, espaço para aliviar a política monetária. A outra variável, que opera no mesmo sentido, é o superávit primário estrutural, também dependente da apuração do PIB potencial, que está sendo visto pelo Copom como caminhando da zona de neutralidade para a de contração. Restam as incertezas em relação ao câmbio. O fim do atual ciclo de altas da taxa básica e até mesmo o início de uma trajetória de redução dos juros, a partir do último trimestre do ano, ficarão na dependência do que vier a ocorrer com as cotações do dólar.
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