"Convivi mais de perto com Ricardo Boechat no Estadão, em fins da década de 80, início da de 90. Chegamos ao jornal na mesma época, ele como diretor da sucursal do Rio, eu como secretário de redação, na sede em São Paulo. O jornal, já mais do que centenário, vivia uma fase de grandes mudanças e inovações.
Logo ficou claro que Boechat, um obcecado pela notícia, focado em conseguir furos, não daria conta de dirigir sozinho uma redação grande como a da sucursal carioca. Assim, ao lado de Aluizio Maranhão e Suely Caldas, Boechat formou a trinca de ases do jornalismo que levou a sucursal a produzir reportagens espetaculares e premiadas.
A imagem que me vem à mente agora é a de um Boechat sempre irrequieto, nunca se levando pessoalmente muito a sério, o tempo todo com um telefone em cada ouvido ao mesmo tempo e um terceiro com alguém à espera para falar com ele. Até onde sei e acompanhei, isso nunca mudou.
As fontes, procuradas sem descanso por Boechat, forneciam o material da coluna Canal 3. A coluna era uma novidade dos novos tempos vividos pelo jornal, ousadamente inserida na mitológica página 3 - o espaço das Notas e Informações, nas quais o Estadão marca a sua opinião sobre os acontecimentos nacionais e internacionais.
Boechat foi um jornalista à antiga - e isto é um elogio -, mas não um jornalista antigo. Engraçado, barulhento, temperamento forte, mas humilde e solidário, reinventou-se a vida toda, atuando com talento e competência em todas as mídias. Era profissional até a raiz dos cabelos que já não tinha desde antes dos 40 anos."
*JOSÉ PAULO KUPFER É COLUNISTA DO PORTAL DO 'ESTADO'
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