A proposta do Nova Indústria Brasil é muito abrangente. Seus autores dizem que aprenderam com o passado, apontando que não existirá a ligação direta entre Tesouro e BNDES, como ocorreu na década passada. Embora isso não seja 100% correto, é certo que houve algum avanço.
A ideia das missões, concebida por Mariana Mazzucato, é criativa. Entretanto, ela não garante que dessa vez a política vai dar certo. A ambição da proposta é enorme, as metas não são claras e inúmeros são seus objetivos. Só a missão 3, “infraestrutura, saneamento, moradia e mobilidade sustentáveis para integração produtiva e o bem-estar das cidades”, abarca um belo pedaço do País e da economia.
Argumenta-se que os países ricos estão fazendo política industrial. Mas, entre outras coisas, eles têm excelentes sistemas educacionais e são abertos à economia internacional, o que evidentemente não é o caso do Brasil. Como podemos fazer tudo o que se propõe sem considerar esses dois elementos?
Além disso, os instrumentos elencados são os mesmos de sempre, incluindo subvenções, créditos tributários, requisitos de conteúdo local, margem de preferência e compras governamentais. O histórico de sua aplicação não é recomendável.
Mas, para mim, o que mais chamou a atenção foi que, após a enfática afirmação que aprenderam com o passado, o BNDES acena com um novo programa naval, que será puxado pela Petrobras, como o executivo da Transpetro já mencionou inúmeras vezes. Como o último desastre do programa naval ocorreu há poucos anos, pergunta-se qual foi o progresso que poderia justificar a construção competitiva de “navios do futuro”, mencionados pelo presidente do banco. Os estaleiros melhoraram sua estrutura de capital, o quadro da mão de obra, o seu nível tecnológico?
Ao contrário, as empresas do setor têm passado por crise e estagnação. O ilustre público merece, pelo menos, um estudo justificando por que agora vai.
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Milei é mais um do tipo “contra tudo que está aí” que arrisca e ganha a eleição. Chega ao poder sem preparo ou com alguma proposta que faça sentido.
Assume um país com grave desarranjo fiscal e sem reservas cambiais. Desvaloriza o dólar, resultando na maior inflação do mundo. Também não tem maioria no Parlamento.
Apresenta um projeto com 664 artigos (!!!!) que tem de tudo. Bastante reduzido, toda parte econômica saiu da lei. Não se sabe o que vai sobrar até a votação final no Senado.
Não tem condições de dar certo.
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