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Opinião | Alta da Selic: duas visões que pouco se falam e que expressam queixas mútuas

Avanço na revisão das regras e no volume de gastos é absolutamente necessário e disso vai depender o desempenho futuro do País

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Foto do author José Roberto Mendonça de Barros

Atingido por uma inesperada covid, não escrevi a coluna do dia 22 passado, quando a discussão da elevação da Selic pegou fogo.

Mas ainda é tempo de nos ocuparmos do assunto e o farei chamando a atenção para dizer que está em curso um diálogo de surdos, expresso em duas visões que pouco se falam e que expressam queixas mútuas.

Em setembro, o Copom aumentou a taxa Selic para 10,75% ao ano Foto: Rafael de Matos Carvalho

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A visão do grosso dos analistas pode ser resumida assim: a política fiscal tem sido excessivamente expansionista e utiliza até uma certa criatividade. Ademais, não param de surgir novos projetos, como o do Vale Gás. O arcabouço perdeu o suporte e tudo depende da arrecadação, parte da qual é temporária.

A projeção do resultado fiscal negativo implica em elevação paulatina da dívida, mesmo quando o gasto está legalmente excluído do resultado fiscal. A dívida pressiona o prêmio de risco, eleva o câmbio e desancora a inflação futura, o que acaba por levar à elevação da taxa Selic, o que piora o déficit nominal.

Em algum momento bateríamos no muro.

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Por outro lado, o governo argumenta corretamente que o impulso fiscal será reduzido no segundo semestre deste ano. As autoridades apegam-se muito à observação de que, ao contrário do que o mercado dizia em junho, a meta zero não vai mudar. Entretanto, mesmo assim, o déficit será de algo como R$ 70 bilhões. As autoridades também colocam, corretamente, que boa parte da expansão vem do Congresso e é difícil de compensá-la.

Nesse sentido, a revisão da nota e da perspectiva realizada pela Moody´s é bem-vinda por dar crédito ao crescimento e ao avanço de certas reformas (como a Reforma Tributária). Mais ainda, a agência deu um período, um crédito de confiança de 12 a 18 meses para o avanço da melhora fiscal. Seria, então, bem-vindo que outros agentes pudessem fazer movimento semelhante.

Como se vê, são duas visões bem diversas e que são expressas com várias reclamações de incompreensão.

Entretanto, os analistas têm mais razão que o governo, porque a dívida vai mesmo continuar crescendo, embora possa fazê-lo a taxas menores. Mas a questão é que essa trajetória não trará sustentabilidade no crescimento, na elevação dos investimentos e na melhora da produtividade.

O avanço na revisão das regras e no volume de gastos é absolutamente necessário e disso vai depender o desempenho futuro do País.

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Opinião por José Roberto Mendonça de Barros

Economista e sócio da MB Associados

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