Com a volta de Trump ao poder, o cenário global é o mais incerto e perigoso dos últimos anos. As primeiras semanas do governo mostraram em certa medida o que se esperava: uma intensa utilização de ordens executivas, políticas muito duras quanto aos imigrantes e o anúncio de variadas tarifas de importação.
Entretanto, as barreiras ao comércio colocadas sobre o Canadá e o México, muito elevadas, rapidamente foram suspensas por um mês, padrão que se repetiu no caso do aço e do alumínio.
As restrições sobre a China foram inferiores ao esperado e uma interminável lista de novos impostos permanece no radar, incluindo países da Europa e do Brics, um sistema de tarifas recíprocas para produtos como carros, chips, madeira etc.

O resultado é que existe hoje uma enorme incerteza sobre o que será efetivamente aplicado e se haverá ou não retaliações feitas por outras nações. E até mesmo há dúvida se os acordos feitos serão honrados, depois da rejeição por Trump de um acordo com México e Canadá por ele mesmo patrocinado no seu primeiro governo.
Essa incerteza já produz um efeito ruim sobre a operação das cadeias produtivas. Como qualquer cenário é possível, a dúvida leva à paralisia nas decisões. Sistemas de suprimento não podem ser alterados instantaneamente e sem custos. Até conhecermos o desenho final dos impostos, vivemos um momento tão bem definido pelo presidente da Ford americana: “Até agora só tivemos caos e elevação de custos”. A euforia dos empresários não financeiros desapareceu e o próprio fato de que o mercado financeiro está “andando de lado” reflete essa perplexidade.
Na mesma direção vai a tentativa de desmonte da máquina pública, sem qualquer avaliação mais cuidadosa. Aparentemente, os resultados obtidos serão modestos frente aos problemas criados.
A conferir.
Serão meses dominados pela incerteza e pela confusão.
Nesse meio tempo, o crescimento econômico de todos ficará algo comprometido.
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No plano internacional, além da guerra tarifária, é evidente que Trump quer substituir um mundo baseado em regras, arduamente construído, por um outro guiado por poucos líderes poderosos.
Mas aqui também o improviso prevalece. A ideia de sumir com mais de 2 milhões de pessoas, para em seguida fazer de Gaza um resort, é tão evidentemente impraticável que fica impossível saber o que vai acontecer numa região-chave para o equilíbrio global.
O move fast and break things (se mova rápido e quebre barreiras, em tradução livre), sem saber o que vem depois, não vai dar muito certo.