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Economista e sócio da MB Associados

Opinião | Criptomoedas terão pouco futuro se não se submeterem a uma regulação

É evidente que as criptomoedas não se qualificam como verdadeiras moedas, pois a insegurança e a volatilidade as impedem que sejam relevantes como reserva de valor ou meio de troca

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Foto do author José Roberto Mendonça de Barros
Atualização:

O título “Criptomoedas: ajuste ou algo pior?” foi usado em fevereiro deste ano. Reproduzo aqui um trecho daquele artigo: “A drástica mudança do Fed trará um inevitável ajuste de preços dos ativos. Duas classes chamam mais a atenção: as empresas de TI e as criptomoedas. As criptomoedas têm bases frágeis, nascidas de ideias libertárias que sonham em privatizar a moeda. É uma ingênua ilusão imaginar que os países emissores de moedas mais transacionadas irão permitir. As criptomoedas têm tudo para ser o novo subprime, só que agora como um ativo que se tornou global”.

De lá para cá, as criptomoedas continuaram a atrair investidores – profissionais e pequenos –, em meio a uma sucessão de problemas em várias das moedas, gerando enormes prejuízos em todos os casos. Luna/Terra, Solana, Ethereum e muitas outras colapsaram. O recente caso da implosão da FTX/Alameda foi o último exemplo, o pior até agora.

Criptomoedas continuaram a atrair investidores – profissionais e pequenos –, em meio a uma sucessão de problemas em várias das moedas. FOTO: Reuters Foto: Reuters

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O valor dessa classe de ativos caiu de mais de US$ 3 trilhões, no ano passado, para menos de US$ 1 trilhão atualmente. Uma grande perda, que afeta milhares de investidores, tanto no caixa quanto no valor de seu patrimônio.

No meio dessas tragédias, coisas primárias como a utilização ilegal de aplicações dos clientes em operações fracassadas continuaram existindo. No caso da FTX, uma quantidade enorme de recursos foi perdida ou roubada.

Ademais, uma proporção não desprezível dos negócios faz parte de atividades ilegais de todas as ordens.

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A regulação parece ser a única saída. Primeiro: separar “trading” de serviços. Segundo: separar dinheiro dos investidores de recursos próprios das plataformas para suas operações, o chamado “chinese wall”. Terceiro: a sede das empresas não poderia estar em lugares inacessíveis aos reguladores, como é o caso da FTX e de outras. Este é o cardápio mínimo.

Na essência, é cada vez mais evidente que as criptomoedas não se qualificam como verdadeiras moedas, pois a insegurança e a volatilidade as impedem que sejam relevantes como reserva de valor ou meio de troca em transações.

Está cada vez mais claro que ou as criptomoedas se submetem a uma regulação ou terão pouco futuro. No mínimo, teriam de ser absolutamente rigorosas na governança dos recursos de clientes, como parece ser o caso da Coinbase.

Mas essas regras podem liquidar o sonho das “finanças descentralizadas” de levar a uma revolução, apesar dos tropeços recentes. A mim, parece que apenas a fé quase religiosa de muitos (bem ao sabor dos tempos atuais) move essa classe de ativos para frente.

Opinião por José Roberto Mendonça de Barros

Economista e sócio da MB Associados

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