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Economista e sócio da MB Associados

Opinião|Reflexões sobre o lado positivo e o lado negativo do crescimento do PIB no 2º trimestre

Exceto pelo agronegócio, praticamente todos os setores da economia cresceram bem; ruim desses dados é que crescimento não é sustentável

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Foto do author José Roberto Mendonça de Barros

Os resultados do PIB foram bons, mas há uma característica que gostaria de registrar já de partida. Importantes gastos foram antecipados para o início de 2024, especialmente precatórios, o que não se repetirá. Certamente, a intenção foi dar uma força para a atividade econômica, o que foi bem-sucedido, uma vez que a expansão fiscal certamente explica parte dos bons resultados alcançados na atividade.

Ao mesmo tempo, estamos em ano eleitoral, quando Estados e municípios antecipam ferozmente seus gastos para terminar obras antes do pleito.

Bom desempenho da construção civil é excelente indicador, mas taxa de investimento ainda é muito baixa, inferior a 17%. Foto: Filipe Araujo/AE

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O lado positivo dos dados é que, exceto pelo agronegócio, que sofreu bastante este ano com os fenômenos climáticos, praticamente todos os setores da economia cresceram bem. O agro crescer pouco não me preocupa, pois ele vai se ajustar e continuar sua trajetória vitoriosa, como tratamos no nosso último artigo. O importante é que a economia das grandes cidades, e não apenas do interior, está crescendo bastante. O bom desempenho da construção civil é um excelente indicador desse fato.

O ruim desses dados é que este crescimento não é sustentável. A taxa de investimento ainda é muito baixa, inferior a 17%. Com isso, é impossível sustentar expansão mais significativa. Em segundo lugar, o desarranjo das finanças públicas e o crescimento da dívida não permitem que a taxa de juros baixe para níveis que estimulem o desenvolvimento.

Finalmente, a inflação já encostou no teto da meta, com a decisão da bandeira vermelha na tarifa de energia elétrica a partir de setembro. Isso sugere que o Banco Central provavelmente vai aumentar os juros na próxima reunião do Copom.

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Esses três elementos são faces do mesmo fenômeno e sugerem que temos um bom resultado do PIB, mas que não é sustentável.

E não temos um claro rumo nem no governo, que insiste em privilegiar ideias antigas que já deram errado, nem no Congresso. Os congressistas parecem muito mais preocupados com a engenharia de sua reeleição, através de um volume inacreditável de emendas paroquiais, e se mostram particularmente abertos a qualquer lobby bem organizado, seja para liberar jogo, armas, cigarro eletrônico ou térmicas a carvão.

A própria sociedade civil rendeu-se à polarização e às suas bolhas e diminuiu muito a atividade dos seus centros de pensamento. Muita gente discute o que acontecerá na semana que vem, na próxima reunião do Copom, mas não presta atenção ao futuro do país que está se decidindo hoje.

Opinião por José Roberto Mendonça de Barros

Economista e sócio da MB Associados

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