Os resultados do PIB foram bons, mas há uma característica que gostaria de registrar já de partida. Importantes gastos foram antecipados para o início de 2024, especialmente precatórios, o que não se repetirá. Certamente, a intenção foi dar uma força para a atividade econômica, o que foi bem-sucedido, uma vez que a expansão fiscal certamente explica parte dos bons resultados alcançados na atividade.
Ao mesmo tempo, estamos em ano eleitoral, quando Estados e municípios antecipam ferozmente seus gastos para terminar obras antes do pleito.
O lado positivo dos dados é que, exceto pelo agronegócio, que sofreu bastante este ano com os fenômenos climáticos, praticamente todos os setores da economia cresceram bem. O agro crescer pouco não me preocupa, pois ele vai se ajustar e continuar sua trajetória vitoriosa, como tratamos no nosso último artigo. O importante é que a economia das grandes cidades, e não apenas do interior, está crescendo bastante. O bom desempenho da construção civil é um excelente indicador desse fato.
O ruim desses dados é que este crescimento não é sustentável. A taxa de investimento ainda é muito baixa, inferior a 17%. Com isso, é impossível sustentar expansão mais significativa. Em segundo lugar, o desarranjo das finanças públicas e o crescimento da dívida não permitem que a taxa de juros baixe para níveis que estimulem o desenvolvimento.
Finalmente, a inflação já encostou no teto da meta, com a decisão da bandeira vermelha na tarifa de energia elétrica a partir de setembro. Isso sugere que o Banco Central provavelmente vai aumentar os juros na próxima reunião do Copom.
Esses três elementos são faces do mesmo fenômeno e sugerem que temos um bom resultado do PIB, mas que não é sustentável.
E não temos um claro rumo nem no governo, que insiste em privilegiar ideias antigas que já deram errado, nem no Congresso. Os congressistas parecem muito mais preocupados com a engenharia de sua reeleição, através de um volume inacreditável de emendas paroquiais, e se mostram particularmente abertos a qualquer lobby bem organizado, seja para liberar jogo, armas, cigarro eletrônico ou térmicas a carvão.
A própria sociedade civil rendeu-se à polarização e às suas bolhas e diminuiu muito a atividade dos seus centros de pensamento. Muita gente discute o que acontecerá na semana que vem, na próxima reunião do Copom, mas não presta atenção ao futuro do país que está se decidindo hoje.
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