A semana que terminou foi de muita incerteza e certo desânimo. Nos Estados Unidos, apesar da crescente percepção de uma aterrissagem suave na economia, a comunicação do Fed indicou que a política monetária seguirá restritiva por um bom tempo, o que levou a altas significativas nos juros mais longos. Em consequência, o dólar valorizou-se fortemente frente a outras moedas.
Simultaneamente, aqui no Brasil, pioraram as expectativas com relação ao resultado fiscal do próximo ano, além do desconforto com a consulta feita ao STF sobre o tratamento dos precatórios que foram pedalados pelo governo anterior. Como resultado, o real se desvalorizou e os juros futuros subiram.
Tudo isso recoloca a questão se será possível retomar um crescimento mais sustentável e inclusivo. Claro que ninguém tem hoje a resposta. Mas acho muito cedo para declarar o jogo perdido. Digo isso porque, apesar das evidentes dificuldades e dos muitos desafios (que inclui a aprovação de uma reforma tributária minimamente razoável), o bom desempenho da economia no primeiro semestre deixou algumas mensagens.
Acho errado supor que experiências passadas — e traumáticas — se repetirão automaticamente. Em outras palavras, não é por que a esquerda voltou à Presidência da República que teremos necessariamente um governo “Dilma 3″. Basta olhar que Lula segue dando suporte, nos momentos decisivos, à pauta que vem da área econômica.
O mundo mudou muito. Hoje, os cidadãos aprenderam que não dá mais para conviver com inflação alta. O expansionismo fiscal não é a linha central da política econômica, ainda mais em um governo fraco perante um Congresso conservador.
A maioria não mais considera que o Estado é a solução para tudo, e boa parte da população jovem quer empreender. Muitas reformas foram aprovadas e estão absorvidas, inclusive o Banco Central agora independente.
Consolidou-se uma forte e sistemática expansão do agronegócio, da produção de petróleo e da mineração. Projetos de descarbonização e de energia sustentável adicionarão mais uma frente na qual o País e parte da indústria têm evidente competitividade.
Como resultado, o comércio exterior cresceu muito e se consolidou como motor de desenvolvimento. É só considerar a projeção de US$ 95 bilhões de saldo comercial, fundamental para entender por que poderemos crescer até 3,5% neste ano.
Se as autoridades econômicas conseguirem reforçar e melhorar a perspectiva fiscal do próximo exercício e o Congresso aprovar a tributária, deveremos ter um cenário bem mais construtivo antes de encerrar 2023.
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