Depois de meses de intensa disputa política, o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Josué Gomes, e o empresário Paulo Skaf divulgaram uma nota conjunta na tarde desta quinta-feira, 26, e encerraram a crise interna na instituição que se arrastou nos últimos meses. No comunicado, os dois falam em superar as divergências e abandonar eventuais diferenças.
“Conclamamos a todos que abandonem eventuais diferenças e se unam a nós nesta jornada, com a certeza de que estamos fazendo o melhor pela Fiesp e pelo Brasil”, afirma o comunicado divulgado pelos dois.
Na segunda-feira, numa reunião convocada por Josué, já houve uma sinalização em favor de um diálogo. Um dos pontos discutidos tratou do aumento da participação de sindicatos nos conselhos e departamentos da Fiesp, uma das cobranças da oposição e que deve se concretizar a partir de agora.
“Acreditamos que a participação de todos os sindicatos filiados, por meio de suas lideranças, seja fundamental para o bom funcionamento da entidade. Também é fundamental que o reconhecimento àqueles setores formados por empresas pequenas e médias, fundamentais empregadoras, seja contínuo e representativo”, informa a nota desta quinta.
Com a promessa de uma gestão mais ampla e abrangente, contemplando todos os sindicatos, a oposição considera encerrada a disputa pelo comando da Fiesp.
Crise longa
A crise envolvendo o comando da Fiesp é longa e se arrasta desde o ano passado. Sindicatos menores perderam o acesso fluído à entidade e atenção que recebiam na época da administração Skaf e passaram a pedir a saída de Josué do comando.
Nos bastidores, Skaf foi o principal articulador para a saída de Josué. Ele chegou a comandar três reuniões na sua casa para construir a estratégia para tirar o herdeiro da Coteminas do comando da entidade. Skaf comandou a Fiesp por 18 anos e patrocinou a candidatura do herdeiro da Coteminas.
Na sexta-feira passada, numa guerra de narrativas, a oposição chegou a nomear Elias Miguel Haddad - um dos vice-presidentes da entidade - como novo comandante da Fiesp. A decisão provocou uma forte reação de Josué. Em resposta, num comunicado, o empresário disse que havia um “escuso propósito de destituir um presidente regularmente eleito”.
Os opositores de Josué se valeram de uma assembleia realizada em 16 de janeiro que votou pela saída do executivo. A defesa do empresário sempre tratou a decisão como um “golpe”. O executivo participou de uma assembleia anterior, convocada por ele para o mesmo dia, apenas para explicar pontos questionados da sua gestão, como a acusação de que tinha pouco interesse por assuntos setoriais.
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A ruptura entre Josué e Skaf se concretizou com o manifesto a favor da democracia, divulgado em agosto do ano passado nos principais jornais do País. Uma parte da entidade avaliou que a carta tinha como objetivo atingir Bolsonaro, então candidato à reeleição.
Filho de José Alencar, morto em 2011, vice do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nos seus dois primeiros mandatos, Josué sempre foi considerado próximo do petista. O manifesto serviu para marcar o rompimento definitivo entre Josué e Skaf, aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Embora a Fiesp tenha sede em São Paulo, seus posicionamentos têm repercussão nacional. Em 2015, por exemplo, ainda presidida por Skaf, foi uma das principais vozes a favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).
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