O empresário Josué Gomes da Silva, presidente da Fiesp, pediu afastamento da entidade no dia seguinte à sua empresa, a Coteminas, ter entrado com um pedido de recuperação judicial. A empresa recorreu à Justiça no dia 9 de maio com dívidas de quase R$ 2 bilhões. A informação sobre o afastamento, confirmado pelo Estadão/Broadcast, só se tornou pública nesta quinta-feira, 23.
O pedido de licença de 40 dias ocorreu para que ele pudesse se dedicar à própria empresa, segundo a assessoria de imprensa do empresário.
No começo do mês, a Coteminas informou em fato relevante que a Justiça deferiu, em tutela de urgência, a suspensão das cobranças de dívidas do grupo em função de um pedido de recuperação judicial (RJ) aprovado. O pedido foi motivado por um vencimento antecipado de debêntures cobrado pelo fundo FIP Odernes, que solicitou acesso a ações da Ammo Varejo, controlada do grupo, como garantia pelo não pagamento das dívidas.
Segundo a Coteminas, a empresa vem tendo seus negócios negativamente impactados pela combinação de fatores adversos que acarretaram dificuldades financeiras desde o fim da pandemia. Neste sentido, o pedido de recuperação judicial foi solicitado para garantir a preservação das atividades da companhia e suas subsidiárias “que ficariam sujeitas a dano irreparável”, conforme o fato relevante.
A RJ envolve a Coteminas e suas controladas, Ammo Varejo e Springs Global. O grupo vem nos últimos anos tentando resolver problemas financeiros.
A Ammo, responsável pelas operações de varejo das marcas Mmartan, Artex e Santista, tentou abrir o capital em 2021, mas com o fechamento do mercado, que não se reabriu até hoje, o plano foi engavetado.
Em junho de 2022, a Ammo tentou levantar R$ 300 milhões em uma emissão de debêntures privada. Os papéis eram conversíveis em ações, com prazo de 5 anos, portanto vencendo em 2027.
Desse total, conseguiu colocar R$ 180 milhões, que ficaram com a Odernes Fundo de Investimento em Participações Multiestratégia.
Em março de 2023, a Coteminas não conseguiu cumprir obrigações financeiras (covenants) referentes a estes papéis, conforme explica em notas em seu balanço do primeiro trimestre de 2023, o último divulgado desde então. Nas notas explicativas, a Coteminas ressalta que as obrigações não pagas viraram passivo no balanço da Ammo.
Pelo contrato das debêntures, a quebra dos covenants pode desencadear o vencimento antecipado dos papéis. E foi isso que a Odernes fez agora, após rodadas de conversas com os controladores.
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