O JPMorgan Chase acertou a compra do First Republic Bank, em um acordo liderado pelo governo americano, que havia decretado a falência do banco. O acordo encerra a história do First Republic, que vinha enfrentando problemas graves desde março, com o início da turbulência que se abateu sobre o setor bancário nos Estados Unidos.
A transação, anunciada nas primeiras horas da manhã desta segunda-feira, 1º, depois que os reguladores americanos decretaram a falência do First Republic, aumenta ainda mais o tamanho do já maior banco americano. O First Republic foi a segunda maior falência de um banco na história dos Estados Unidos, e a quarta instituição regional a entrar em colapso desde o início de março - depois do Silicon Valley Bank, Signature Bank e Silvergate Bank.
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“Isso agora está chegando ao fim, e espero que ajude na estabilização”, disse o presidente executivo do JPMorgan, Jamie Dimon, em teleconferência com jornalistas. Bancos regionais que reportaram os resultados do primeiro trimestre nas últimas semanas “realmente apresentaram alguns resultados muito bons”, disse. “O sistema bancário americano é extraordinariamente sólido.”
No entanto, os empréstimos bancários provavelmente sofrerão por um tempo após as quebras, disse o executivo.
No negócio, o banco de Dimon ficou com cerca de US$ 173 bilhões em empréstimos do First Republic, US$ 30 bilhões em títulos e US$ 92 bilhões em depósitos. O JPMorgan e o FDIC, órgão regulador do sistema financeiro dos EUA, concordaram em dividir o ônus das perdas, bem como quaisquer recuperações, nos empréstimos unifamiliares e comerciais da empresa, informou a agência, em um comunicado.
O JPMorgan, com sede em Nova York, foi a instituição que fez a melhor oferta para tirar todo o banco das mãos do FDIC sem grandes perdas para a agência, de acordo com duas pessoas familiarizadas com a decisão. Isso foi mais atraente para a agência do que as propostas concorrentes, que propunham a dissolução do First Republic ou exigiriam arranjos financeiros complexos para financiar seus US$ 100 bilhões em hipotecas, disseram as fontes, que falaram sob condição de anonimato.
As outras propostas teriam custado ao FDIC vários bilhões de dólares a mais de seu fundo de seguro, disse uma das pessoas.
Grande demais para quebrar
A transação torna o JPMorgan ainda maior dentro do mercado americano - um resultado que os funcionários do governo se esforçaram para evitar no passado. “A falência do First Republic Bank mostra como a desregulamentação tornou o problema do ‘grande demais para quebrar’ ainda pior”, disse a senadora Elizabeth Warren, de Massachusetts, em um tuíte. “Um banco mal supervisionado foi comprado por um banco ainda maior. O Congresso precisa fazer grandes reformas para consertar um sistema bancário falido.”
Sherrod Brown, democrata de Ohio, presidente do Comitê Bancário do Senado, culpou o colapso do First Republic pelo seu “comportamento de risco, modelo de negócios único e falhas de gerenciamento”.
“Está claro que precisamos de grades de proteção mais fortes”, disse Brown em um comunicado. “Devemos tornar os grandes bancos mais resistentes a falências para proteger a estabilidade financeira e garantir a concorrência no longo prazo”.
O JPMorgan espera reconhecer um ganho único de US$ 2,6 bilhões vinculado à transação, de acordo com um comunicado. O banco fará um pagamento de US$ 10,6 bilhões ao FDIC e estima que incorrerá em US$ 2 bilhões em custos de reestruturação relacionados nos próximos 18 meses.
Os US$ 92 bilhões em depósitos incluem os US$ 30 bilhões que o JPMorgan e outras grandes instituições americanas aportaram no First Republic, para tentar estabilizar as finanças do banco. O JPMorgan prometeu que esses US$ 30 bilhões seriam reembolsados.
Pelos US$ 173 bilhões em empréstimos e US$ 30 bilhões em títulos incluídos no acordo, o JPMorgan e o FDIC assinaram o acordo de compartilhamento de perdas para cobrir empréstimos hipotecários residenciais unifamiliares e empréstimos comerciais, bem como US$ 50 bilhões em empréstimos de cinco anos com taxa fixa.
O FDIC e o JPMorgan compartilharão tanto as perdas quanto as possíveis recuperações dos empréstimos, com a agência observando que deve “maximizar as recuperações dos ativos, mantendo-os no setor privado”. O FDIC estimou que o custo para o fundo de seguro de depósito será de cerca de US$ 13 bilhões.
“Devemos reconhecer que falências de bancos são inevitáveis em um sistema financeiro dinâmico e inovador”, disse Jonathan McKernan, membro do conselho do FDIC, em comunicado. “Devemos nos planejar para essas falências de bancos, concentrando-nos em fortes requisitos de capital e em uma estrutura de resolução eficaz como nossa melhor esperança para acabar com a cultura de resgate de nosso país, que privatiza os ganhos enquanto socializa as perdas.”
Banco dos ricos
O First Republic é especializado em “private banking”, que atende às pessoas mais ricas, assim como o Silicon Valley Bank, que faliu em março, era focado em empresas de capital de risco. Seu fundador, Jim Herbert, iniciou o First Republic em 1985 com menos de 10 pessoas. Em julho de 2020, o banco disse que estava classificado como o 14º maior dos EUA, com 80 escritórios em sete Estados. Empregava mais de 7,2 mil pessoas no final do ano passado.
Como outros credores regionais, o First Republic, com sede em San Francisco, se viu pressionado quando o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) aumentou as taxas de juros para combater a inflação, o que prejudicou o valor dos títulos e empréstimos que o banco comprou quando as taxas estavam baixas. Enquanto isso, os depositantes fugiram, em parte em busca de melhores retornos e, em seguida, com medo do destino do banco, após se espalharem as preocupações com a saúde da instituição.
O resultado foi um buraco de capital grande o suficiente para impedir que um grande salvador avançasse. Uma nova rodada de preocupação foi desencadeada em abril, com o balanço do primeiro trimestre do banco e notícias de sua tentativa de vender ativos e arquitetar um resgate. O banco disse que cortaria até 25% de sua equipe, reduziria os empréstimos pendentes e restringiria atividades não essenciais.
Onze bancos dos Estados Unidos tentaram manter o First Republic respirando, prometendo US$ 30 bilhões em novos depósitos em 16 de março, com JPMorgan, Bank of America, Citigroup e Wells Fargo lançando US$ 5 bilhões cada. Goldman Sachs, Morgan Stanley e outros bancos ofereceram quantias menores como parte de um plano elaborado em parceria com os reguladores dos EUA. Além disso, o First Republic recorreu ao Federal Home Loan Bank e a uma linha de liquidez do Federal Reserve.
Não foi o suficiente. A ação, que chegou a US$ 170 em março de 2022, caiu para menos de US$ 5 no final de abril.
O banco foi comprado e vendido várias vezes ao longo dos anos, com a Merrill Lynch pagando US$ 1,8 bilhão para adquirir o First Republic em 2007. A propriedade passou para o Bank of America quando comprou a Merrill Lynch em 2009, e mudou novamente em meados de 2010, quando fundos de investimento, como a General Atlantic e a Colony Capital, compraram o First Republic por US$ 1,86 bilhão e o levaram à Bolsa. / BLOOMBERG
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