O Comitê de Política Monetária (Copom) voltou a aumentar, nesta quarta-feira, 19, a taxa básica de juros (Selic) em 1 ponto porcentual, para 14,25% ao ano — o maior patamar desde 2016.
A decisão era esperada pelo mercado financeiro. O aumento de mais 1 ponto porcentual já estava contratado desde o encontro de dezembro, quando o Copom subiu os juros e indicou o ritmo das altas paras as reuniões de janeiro e março.
No comunicado da decisão desta quarta, o Copom indicou que o juro básico deve voltar a subir na próxima reunião, em maio, mas numa magnitude menor.
Os economistas consultados pelo Estadão avaliam que o Banco Central terá de levar a Selic para um patamar de 15% ao ano — ou até mais —, se quiser trazer a inflação para dentro do intervalo da meta, ainda que isso só ocorra no ano que vem.
Leia as análises
A meta de inflação do Brasil é de 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto porcentual para mais ou para menos.
Abaixo, leia a análise de cada economista sobre os próximos passos do Copom.
Silvio Campos Neto: ‘Manutenção de uma política monetária bastante restritiva responde ao quadro inflacionário que permanece adverso’

Sem surpresas, o Copom voltou a elevar a Selic em 1 p.p. (ponto porcentual), para 14,25%, patamar que não era alcançado desde 2016. Com a inflação corrente e suas expectativas ainda distantes da meta, o comunicado sinalizou um novo ajuste na reunião seguinte, em maio, porém em menor magnitude.
A redução do ritmo de aumento dos juros condiz com o estágio avançado do atual ciclo de aperto monetário, bem como com os sinais incipientes de esfriamento do ímpeto da atividade econômica. Ademais, a correção parcial das pressões no câmbio também reduz uma importante fonte de risco, ainda que o comportamento da variável siga incerto.
Nesse sentido, esperamos dois ajustes adicionais da Selic, em 50 bps (0,50 ponto porcentual) em maio e 25 bps (0,25 ponto porcentual) em junho, o que levaria a taxa básica para 15%, nível que seria mantido até o final do ano.
A manutenção de uma política monetária bastante restritiva responde ao quadro inflacionário que permanece adverso e ao contexto de baixa ociosidade na economia, em particular no mercado de trabalho, o que pressiona a inflação de serviços. Ademais, potenciais novos estímulos ao consumo diante de medidas sinalizadas pelo governo, como a ampliação do crédito consignado e a isenção do IR para salários até R$ 5 mil, representam desafios adicionais ao trabalho do Banco Central, fatores que podem dificultar o recuo da inflação e limitar a flexibilização monetária à frente.
Para este ano, projetamos um IPCA de 5,5%, nível ainda acima do limite de tolerância da meta de inflação (4,5%), com uma esperada convergência para este teto em 2026.
Com a esperada desaceleração mais intensa da atividade ao longo deste ano e em 2026, contemplamos redução da Selic no primeiro semestre do próximo ano, para 13%, o que representará a manutenção de uma taxa de juros contracionista, diante da ainda não convergência da inflação à meta. De fato, o alcance de níveis neutros da política monetária dependerá da retomada de medidas fiscais mais restritivas, o que deverá ocorrer apenas a partir de 2027.
É economista e sócio da consultoria Tendências
Marianna Costa: ‘Ciclo de aperto monetário deve se estender pelos próximos meses’

Em março, o Banco Central elevou novamente a taxa básica de juros em 100 bps (1 ponto porcentual), trazendo a Selic para 14,25% e sinalizando que o processo de aperto monetário em curso deve seguir adiante. No entanto, o BC trouxe um novo elemento, sinalizou que o ritmo de alta deve ser menor à frente.
O colegiado segue enfatizando que o ajuste total do atual ciclo de aperto monetário será pautado pelo compromisso com o regime de metas de inflação. O comportamento do balanço de riscos observado pelo colegiado do Banco Central, Copom, será decisivo para balizar as expectativas para a taxa terminal do ciclo de aperto monetário em curso.
Nesse sentido, o balanço de riscos acompanhado pelo colegiado do Banco Central indica que a dinâmica da inflação corrente se mostra pouco benigna, configurando um primeiro trimestre de inflação historicamente alta.
A projeção do Banco Central mostrou um quadro um pouco mais favorável para a projeção de inflação em 12 meses, com a expectativa do colegiado ficando em 3,9%, um pouco abaixo da projeção de janeiro, que estava em 4,0%. Essa redução provavelmente reflete a valorização do real no período e a percepção de que a atividade econômica vai perder ritmo e, portanto, as pressões sobre o processo inflacionário poderão ser menores.
Essa combinação de um cenário de inflação alta, mas com algum viés de desaceleração, é um reflexo das tensões que caracterizam a economia brasileira neste momento. A avaliação do Copom é de que a inflação no curto prazo será resistente, influenciada por diversos fatores, como o comportamento dos preços administrados e a recuperação das pressões nos serviços.
Esse quadro é especialmente relevante, pois é esperado que o IPCA de 2025 permaneça acima do teto da meta perseguida pelo BC. Além disso, a combinação de um mercado de trabalho ainda robusto e uma demanda relativamente aquecida, especialmente no setor de serviços, contribui para a manutenção de pressões inflacionárias.
Portanto, embora as projeções para o quadro inflacionário mostrem uma leve melhoria, a dinâmica atual dos preços reforça a necessidade de vigilância contínua por parte do Banco Central, que deve sustentar a projeção de que o ciclo de aperto monetário ainda se estenda pelos próximos meses.
A curva de juros precifica que a taxa básica, taxa Selic, chegue até 15,00% na reunião de junho, ficando estável no restante do ano de 2025. Olhando de hoje, este é o cenário com maior probabilidade de ocorrência, em que o viés passa a ser de uma taxa Selic terminal menor e não maior, em função da mudança da tendência da inflação prospectiva no horizonte de tempo relevante para a política monetária.
É economista-chefe da Mirae Asset
Laura Moraes: ‘BC deve levar o juros para 15,25% e manter esse patamar até que consiga ver efeitos na atividade e reancoragem das expectativas’

O Copom se reuniu nesta quarta-feira levando a Selic para 14,25% e trouxe sinalizações importantes para o futuro. Com o balanço de riscos assimétrico, projeção para o horizonte relevante em 3,9% e dando pouco peso para a moderação no ritmo dos dados de atividade, o BC indica uma nova alta na próxima reunião de menor magnitude.
Na nossa visão a decisão foi acertada, pois mesmo que o cenário para o Copom tenha ficado um pouco menos adverso com o câmbio e alguns dados mais fracos de atividade, vemos esse alívio com muita cautela.
Parte dessa melhora é fruto do cenário externo, que, na verdade, aumentou em incerteza. Para nós, aumentou a probabilidade de a atividade por lá ser mais fraca, porém com a economia tendo mais inflação. Com aumento de incerteza nos EUA, o quadro continua desafiador para emergentes, em particular por conta de tarifas. Soma-se a isso o quadro interno brasileiro com potencial de muitos ruídos decorrentes de corrida eleitoral e das pressões no fiscal.
Em relação aos dados de atividade, houve sinais de uma desaceleração no ritmo de crescimento, que começaram a aparecer de maneira gradual nos dados de novembro. Os dados mais tempestivos, entretanto, parecem mostrar uma recuperação na atividade em fevereiro e março.
No campo da atividade econômica, os riscos altistas são grandes. Mesmo com uma política monetária restritiva, a queda aguda na popularidade se aproximando do ano eleitoral pressiona o governo a agir e oferecer estímulos, que acabam contrabalanceando o efeito da política monetária. A primeira consequência de uma atividade mais resiliente é uma inflação que custa a ceder.
A piora nas expectativas, por outro lado, deve ser de profunda preocupação para o BC. É verdade que parte relevante da desancoragem das expectativas vem da política fiscal. Nos últimos anos, o governo atacou o BC e a meta de inflação de 3%, por ser muito baixa e inalcançável. A manutenção da meta em 3% pelo CMN não desfez 100% do estrago e até hoje gera confusão.
Por isso, vemos o BC levando o juros para 15,25% e mantendo nesse patamar por tempo suficiente até que consiga ver efeitos na atividade e, muito importante, uma reancoragem das expectativas.
É economista da Neo Investimentos
Arnaldo Lima: ‘Equilíbrio delicado entre combate à inflação e suporte à atividade será determinante para a trajetória da política monetária’

O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu elevar a taxa Selic em 1 ponto percentual, para 14,25% ao ano. A decisão ocorre em um cenário de ajustes nas expectativas macroeconômicas, destacando três fatores que influenciaram a deliberação: apreciação cambial do real frente ao dólar, desaceleração da atividade econômica e reancoragem gradual das expectativas de inflação para 2025.
A valorização do real em relação ao dólar tem efeitos positivos sobre a inflação, reduzindo pressões de custos em produtos importados e atenuando a transmissão de choques externos para os preços domésticos. Esse movimento cambial, aliado à queda nas cotações de commodities, contribui para um alívio inflacionário.
No entanto, o Copom avalia que o cenário externo permanece desafiador, com incertezas relacionadas à política comercial dos Estados Unidos e seu impacto sobre os mercados financeiros globais. A postura dos bancos centrais das principais economias segue focada na convergência da inflação para suas metas, o que exige cautela por parte dos mercados emergentes. Apesar do impacto positivo do câmbio no curto prazo, a volatilidade externa ainda pode representar riscos inflacionários.
A desaceleração da atividade econômica, evidenciada pela retração do PIB no último trimestre e pela perda de dinamismo dos setores industrial, comercial e de serviços, reforça o argumento de que o atual ciclo de aperto monetário já afeta o crescimento.
Embora o IBC-Br tenha surpreendido positivamente, os dados da Pesquisa Industrial Mensal (PIM), Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) e Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) indicam uma economia mais fraca. O Comitê também observa uma moderação no crescimento do mercado de trabalho, embora este ainda apresente sinais de resiliência. Esse quadro exige cautela na calibragem dos juros para evitar um impacto recessivo excessivo.
Outro fator relevante é a reancoragem gradual das expectativas de inflação para 2025, conforme apontado no Boletim Focus. A deterioração das projeções inflacionárias vinha sendo um fator de preocupação para o Banco Central, e o movimento recente de ajuste para baixo sinaliza maior credibilidade da política monetária.
Apesar dessa reancoragem, o Copom enfatiza que as projeções de inflação para 2025 e 2026 continuam acima da meta, situando-se em 5,57% e 4,25%, respectivamente, o que justifica a manutenção de uma postura contracionista. Essa reancoragem, se consolidada, pode permitir uma flexibilização futura da Selic, mesmo diante do atual patamar elevado.
A decisão do Copom ocorre em um contexto de incerteza global, com a política monetária norte-americana ainda indefinida e incertezas sobre o impacto fiscal do aumento da faixa de isenção do imposto de renda após a tramitação do Projeto de Lei no Congresso Nacional.
O Comitê segue acompanhando de perto como os desdobramentos da política fiscal impactam a condução da política monetária e a precificação dos ativos financeiros. No entanto, o comunicado enfatizou o compromisso da autoridade monetária em trazer a inflação para a meta, o que reforça a confiança do mercado na condução da política econômica.
Com a taxa Selic em 14,25%, a taxa de juros real ex-ante atinge um nível superior ao observado durante a crise política de 2015, sinalizando uma postura monetária bastante restritiva.
Paradoxalmente, o tom assertivo do Copom pode favorecer uma redução da taxa de juros real ao ancorar expectativas e reduzir as projeções futuras de inflação e da própria Selic. Diante da continuidade do cenário adverso para a convergência da inflação, da elevada incerteza e das defasagens inerentes ao ciclo de aperto monetário, o Comitê antevê um ajuste de menor magnitude na próxima reunião. Esse equilíbrio delicado entre combate à inflação e suporte à atividade será determinante para a trajetória da política monetária nos próximos meses.
É economista e RI da Polo Capital
Marcela Rocha: ‘Haverá necessidade de novo aumento da taxa de juros na reunião de junho, levando a taxa Selic para pelo menos 15%’

Conforme amplamente esperado e seguindo a estratégia explicitada desde dezembro, o Banco Central aumentou a taxa Selic em 100 bps (1 ponto percentual), para 14,25% ao ano, em sua reunião de março. Se a decisão era vista como certa e sem discussões, as expectativas para o comunicado traziam divergências e debates. Afinal, além de ser a primeira reunião que teria uma sinalização dos próximos passos completamente definida pelo novo presidente da instituição, Gabriel Galípolo, a evolução do cenário desde a reunião de janeiro permitia especulações sobre mudanças na comunicação do Copom.
De maneira acertada, no entanto, o Banco Central optou por manter uma postura dura. Além de continuar afirmando que o balanço de riscos para a inflação apresenta uma assimetria altista, não houve alteração ou suavização dos riscos baixistas em sua avaliação. Por mais que cite sinais incipientes de moderação no crescimento, o cenário base do Copom segue enxergando dinamismo na evolução da atividade econômica. Mais importante, o Banco Central sinalizou que, se confirmando o cenário esperado, antevê um ajuste de menor magnitude na próxima reunião.
O compromisso com uma nova elevação da Selic em maio era imprescindível para não permitir interpretações de que o ciclo de aperto estaria perto do fim. Ainda, apesar de indicar o grau de aperto será em magnitude menor devido à elevada incerteza e defasagens inerentes do ciclo, o fato de o Comitê reforçar que a magnitude total do ciclo de aperto monetário será ditada pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e, principalmente, sua projeção de inflação ficar em 3,9%, nível desconfortavelmente acima do centro da meta, sugerem que haverá necessidade de novo aumento da taxa de juros na reunião de junho, levando a taxa Selic para pelo menos 15%.
Se a decisão e a comunicação na reunião de março foram acertadas, elas, contudo, não são suficientes ainda para diminuir as dúvidas sobre o compromisso do Copom com a meta e garantir recuo das expectativas de inflação. Pelo contrário, em um momento de forte desancoragem das expectativas, inflação corrente pressionada, ambiente global incerto e arrefecimento da atividade não suficiente para fechar o hiato da economia, há questionamentos a respeito do compromisso do Banco Central em fazer o que for necessário para cumprir a meta de inflação em seu horizonte relevante e, principalmente, em quais condições haverá encerramento do fim do ciclo de alta.
Por mais que seja consenso que a dinâmica das projeções de inflação não dependam somente da condução da política monetária, a continuidade da elevação da taxa de juros e o compromisso firme do Copom com o centro da meta são indspensáveis para evitar nova piora das expectativas e para não colocar em xeque a âncora monetária. Em um momento que a política fiscal mostra deterioração, quaisquer sinalizações do Banco Central de leniência com o seu mandato ou oportunismo de usar condições frágeis e questionáveis para justificar o encerramento do ciclo, podem ser custosas e levar a perda de credibildiade e nova rodada de deterioação das estimativas do Focus.
Economista-chefe na Principal Asset Management no Brasil