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Juros reais sob Campos Neto estão mais baixos do que sob Henrique Meirelles, nos governos Lula 1 e 2

Apesar das fortes críticas do presidente Lula ao Banco Central, juros reais no País estão menores agora do que em seus dois mandatos anteriores

Foto do author Alvaro Gribel
Atualização:

BRASÍLIA – Apesar das fortes críticas direcionadas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, os juros reais (descontada a inflação) no País hoje estão menores do que nos primeiros mandatos do atual governante petista.

Na época, o Banco Central era presidido pelo economista Henrique Meirelles, indicado por Lula, mas o País não havia acumulado reservas internacionais, que reduziram drasticamente o risco de um calote externo por parte do governo brasileiro – e ainda havia dúvidas sobre a política econômica que seria implementada pela gestão petista.

Nesta semana, Lula retomou a artilharia contra o presidente do BC, Roberto Campos Neto. Foto: AFP e Wilton Junior/Estadão

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Pela métrica dos chamados juros reais “ex-ante”, que descontam da Selic futura as expectativas de inflação, a média dos juros reais no governo Lula 1 foi de 19,4%, caindo para 11,8% no segundo mandato de Lula, e agora está em 7,9%.

O gráfico abaixo, compilado pela agência de classificação de risco Austin Rating, mostra, todo o período dos juros reais por essa métrica desde 1999, trimestre a trimestre. Os juros reais eram extremamente elevados no início dos anos 2000, principalmente pela vulnerabilidade externa que o País sempre enfrentou ao longo de todo o século 20 – e que foi motivo de várias crises econômicas. Os juros mais altos atraiam capital especulativo, o que era crucial para conter o déficit em conta-corrente que provocava esse desequilíbrio externo.

Com o aumento das exportações de commodities puxadas pela China - especialmente minério de ferro e soja - e o acúmulo de reservas internacionais - que saltaram do patamar de US$ 37 bi para US$ 370 bilhões - , o Brasil conseguiu se tornar credor externo líquido, o que contribuiu para a redução dos juros.

Além disso, o presidente Lula manteve a política de superávits primários ao longo dos seus dois governos, o que reduziu o endividamento do governo, além de ter dado autonomia na prática para o Banco Central perseguir a meta de inflação. Isso manteve as expectativas ancoradas.

“Os dois presidentes dos Banco Centrais sob Lula tiveram ações diferentes. Meirelles precisou ser mais contracionista do que Roberto Campos Neto, agora”, afirmou Alex Agostini, economista-chefe da Austin.

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No governo Dilma Rousseff, os juros caíram ainda mais, mas de forma artificial, com forte pressão política sobre Alexandre Tombini, então presidente do Banco Central. O resultado, ao contrário do que esperava a equipe econômica, foi aumento da desconfiança, desancoragem das expectativas de inflação e redução do crescimento econômico. Rapidamente os juros voltaram a subir, atingindo um novo pico no governo Temer.

Roberto Campos Neto assumiu a presidência do BC em 2019, no governo de Jair Bolsonaro. Em 2020 e 2021, os juros reais chegaram a ficar negativos, mas por causa da pandemia de coronavírus, como uma forma de estimular o crescimento, em uma política “anticíclica”. Na média, eles foram de 0,6% nos quatro anos de mandato de Bolsonaro.

Para o economista Silvio Campos Neto, da Tendências Consultoria, os dados reforçam a percepção de que as críticas de Lula ao atual presidente do Banco Central estão exageradas, e que o BC vem realizando um trabalho técnico na condução da política monetária. Isso inclui os votos dos quatro diretores já indicados por Lula, que também optaram por manter a Selic em 10,50% ao ano (taxa nominal, sem descontar a inflação) na reunião desta semana.

“As críticas estão totalmente fora de contexto. Se os juros estivessem excessivamente altos, a inflação estaria mais baixa, a atividade estaria afundando, e o câmbio bem mais apreciado”, pontuou.

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