Análise | Juros sobem, o governo segue gastando e o País se atola

As expectativas continuam ruins e podem justificar um aperto monetário ainda severo e prolongado do que o sinalizado pelo Copom do Banco Central na ata divulgada nesta terça, 25

PUBLICIDADE

Foto do author Rolf Kuntz
Atualização:

O governo gasta demais, a inflação avança, o Banco Central aumenta os juros, o consumidor se enrola, o Tesouro fica mais endividado, e a história se repete, para mal do País, enquanto a gastança pública se prolonga. Os juros subiram de novo na semana passada, chegaram a 14,25%, e mais um aumento está previsto para a próxima reunião do Copom, o Comitê de Política Monetária do BC. O próximo ajuste poderá ser menor do que o anterior, de 1 ponto porcentual, mas isso dependerá, provavelmente, da perspectiva de inflação.

PUBLICIDADE

As expectativas continuam ruins e podem justificar um aperto monetário ainda severo e prolongado. No mercado, a mediana das projeções aponta inflação de 5,65% neste ano e 4,50% no próximo, segundo o boletim Focus. O governo continua gastando e nenhum sinal de mudança partiu do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Apesar da perspectiva de alguma desaceleração econômica no Brasil e no exterior, o “cenário prospectivo” permanece desafiador, segundo avaliação do Copom.

Na ata da última reunião, publicada nesta terça-feira, 25, os membros do comitê mudaram a referência à desancoragem das expectativas, uma noção frequente nesse tipo de documento. Desta vez, a palavra foi acompanhada de um adjetivo, e o texto passou a indicar uma “desancoragem adicional”, com efeito mais grave, portanto, sobre sobre o “comportamento da inflação futura”.

A desordem das contas federais tem como um dos efeitos inevitáveis a alta de preços Foto: Werther Santana/Estadão

A expressão “desancoragem adicional” aparece em três dos parágrafos mais importantes sobre as perspectivas da evolução dos preços. A terceira referência ocorre quase no final da ata, quando se relacionam justificativas para o prolongamento do aperto monetário.

Publicidade

A lista inclui, além das expectativas e, portanto, das projeções desfavoráveis, dois fatores de peso: “resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho”, sendo necessária, portanto, “uma política monetária mais contracionista”. Esse é o caminho indicado, segundo o comitê, para se obter uma inflação ao “redor da meta”

Como sempre, o documento menciona a importância de se harmonizarem as políticas fiscal e monetária. A referência à política fiscal, isto é, à condução das contas do governo, é o dado crucial.

Numa tradução simples, o governo precisa cuidar mais de suas finanças, isto é, tem de usar seu dinheiro com mais prudência e gastar menos. A ata se refere à maneira como os agentes econômicos percebem “o regime fiscal e a sustentabilidade da dívida”.

Em outras palavras, o mercado percebe o gasto excessivo e o risco de uma dívida pública crescente e talvez impagável. Isso afeta os preços dos ativos, complica as finanças e atrapalha perigosamente o funcionamento da economia.

Publicidade

O recado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva é claro e simples, mas ele insiste em ignorá-lo, apesar dos conselhos do ministro da Fazenda. Insegurança e inflação longe da meta são dois efeitos inevitáveis da desordem das contas federais.

Esses efeitos podem ser inicialmente obscurecidos pela aceleração da economia, mas o fim da história é previsível, bem conhecido e muito ruim – mas pouco preocupantes, aparentemente, para quem confunde governo com gastança e busca de popularidade.

Análise por Rolf Kuntz

Jornalista

Comentários

Os comentários são exclusivos para cadastrados.