Brasil ganha com boom de commodities, mas corre risco no lado fiscal, diz Kenneth Rogoff

O professor de economia da Universidade Harvard e ex-economista-chefe do FMI também falou sobre as dúvidas que envolvem a economia americana e as eleições presidenciais

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Foto do author Aline Bronzati
Por João Caminoto e Aline Bronzati (Broadcast)
Atualização:

DAVOS, SUÍÇA - A política de gastos públicos do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode gerar uma situação “insustentável” se não for alterada. Contudo, o País ganha com a elevação dos preços das commodities. A avaliação é de Kenneth Rogoff, professor de economia da Universidade Harvard e ex-economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI).

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“Lula teve muita sorte com crescimento e outras coisas, mas as políticas que ele dizia que ia fazer eram completamente insustentáveis”, disse ele, a jornalistas, durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça.

“Certamente, há muita preocupação sobre o que Lula está fazendo, mas, talvez, isso seja o padrão Lula no qual ele deixa todo mundo chateado, mas, então, governa e na prática não é tão extremo. Mas, claramente, os seus planos fiscais eram insustentáveis”, acrescentou o economista.

Apesar da preocupação com o lado fiscal, Rogoff não demonstra pessimismo com as perspectivas para a economia brasileira em 2024, apesar das projeções de menor crescimento neste ano. O Brasil está indo muito bem com o boom das commodities, observou.

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Kenneth Rogoff, professor de Harvard e ex-economista-chefe do FMI Foto: Cory Hancock/IMF

“Se tivermos uma escalada da guerra no Oriente Médio, haverá um mercado para o Brasil ainda maior, um estrondo, afinal, a rota de navegação do País não passa pelo Mar Vermelho. O Brasil tem se beneficiado com tudo isso, com os preços fortes das commodities”, afirmou. “Certamente, são coisas favoráveis ao Brasil, mas tudo depende do que vai acontecer”, ponderou o economista, referindo-se aos riscos geopolíticos globais.

Quanto à ambição do governo brasileiro de recuperar o grau de investimento, perdido em 2015, Rogoff indicou que é possível, mas reforçou o coro quanto à situação fiscal do Brasil. “Se você estiver olhando a dívida denominada em dólares, haveria chances de grau de investimento, porque o montante é hoje muito menor do que no passado”, afirmou. “Mas obviamente o risco de ter uma inflação alta, e não quero dizer mil por cento, mas de 15%, 20%, claro que há um risco com uma posição fiscal insustentável.”

Ninguém sabe o que vai acontecer nos EUA após as eleições

Sobre a eleição presidencial nos Estados Unidos, ele diz que pode trazer maior imprevisibilidade à economia americana. Isso porque nem o Federal Reserve (Fed, o banco central do país) nem as empresas sabem como será o ano de 2025, segundo ele.

“Ninguém sabe o que vai acontecer nos EUA após as eleições e não creio que daqui um mês saberemos o que vai acontecer com certeza, a menos que haja uma mudança no cenário”, disse Rogoff, ao falar a jornalistas, no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça.

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Os candidatos que estão à frente na corrida pelo comando da Casa Branca, o atual presidente Joe Biden e o seu antecessor Donald Trump, têm políticas muito diferentes e ambas as gestões representam riscos à economia americana. No caso do democrata, o professor de Harvard disse que os EUA podem enfrentar novo repique na inflação e necessidade de aumento de juros à frente.

Já com o candidato republicano, os problemas são “imprevisíveis”. “Trump deve ser mais Trump e isso pode ser muito perigoso. Bem, acho que os democratas exageram um pouco, mas ele (Trump) não está apto para o cargo”, avaliou Rogoff.

Crescimento moderado

A economia dos Estados Unidos, segundo Rogoff, deve ter um desempenho mais moderado neste ano. “Se houver um pouso suave, o Federal Reserve deve reduzir as taxas apenas duas ou três vezes no máximo”, disse. “Se você olhar para as expectativas do mercado, indicam crescimento muito lento. Os Estados Unidos estavam se expandindo acima do previsto e isso tende a abrandar.”

Há meses Rogoff vem alertando que a inflação nos EUA, atualmente acima dos 3% anuais, não deve recuar para os níveis do passado, a 2%, que é a meta do Fed. E, com isso, os juros também devem se manter em níveis elevados, bem acima dos praticados do passado, de taxas zero.

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A situação em outras partes do mundo também não ajuda a construir um cenário positivo, segundo o ex-economista-chefe do FMI. “A China está tendo um ano difícil e a Europa também.” Segundo ele, a Alemanha está “sem direção”. “Todos os meus amigos alemães desejavam viver na Suíça neste momento”, brincou.

Ele ressaltou também os riscos geopolíticos ao redor do globo. “Há uma tremenda volatilidade, porque quem sabe o que vai acontecer no Oriente Médio, na Rússia e na Ucrânia? Estamos numa segunda Guerra Fria, nada tranquila, não parece bom”, concluiu.

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