No pós-grande crise financeira de 2008, os olhos se voltaram para os economistas e sua incapacidade para fazer projeções que parassem em pé. Políticos, principalmente nos Estados Unidos e na Europa, aproveitaram nossa visível incapacidade para prever o futuro para falar sobre regulações necessárias ou desnecessárias sobre os bancos. Lembro de um pedido que chegou de Washington ao time de economistas em que eu trabalhava na época: projetar o PIB de diversos países latinos para os próximos 20 ou 30 anos. Discutimos que o pedido não fazia sentido. “O futuro a Deus pertence”, comentou um colega.
Em uma ocasião recorrente no mercado, um economista foi entrevistado para falar de sua projeção para a taxa de desemprego daquele mês. Ele havia sido o único a “acertar”. O repórter questionou como ele tinha feito isso, qual era a estratégia. A resposta foi algo na linha de: “Eu também me surpreendi por ter acertado, não estava esperando por essa”.
Andy Haldane, ex-economista-chefe do Banco da Inglaterra, escreveu no Financial Times no último 16 de abril sobre como modelos econômicos são “nove partes arte e uma parte, ciência”. Na coluna, Haldane foca nos custos e benefícios da divulgação das projeções dos bancos centrais. Úteis, pois revelam parte do que os diretores usam como informação na sua tomada de decisão, ajudam o mercado a consolidar uma expectativa coerente com isso – o que amplifica o poder da política monetária em tempos normais.
Mas a divulgação dessas projeções também pode causar rigidez excessiva. Quanto mais anormal o período vivido, mais erradas estariam aquelas projeções e mais essa rigidez pode pesar sobre a credibilidade dos bancos centrais. Isso porque choques podem exigir grandes viradas de condução da política monetária por conta das verdades encobertas do nosso mundo.
Neste mês, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central optou por reduzir a taxa Selic em 0,25 ponto porcentual, para 10,5% ao ano. A decisão revela uma política monetária mais cautelosa, dado que cortes anteriores foram de 0,50 ponto porcentual.
A decisão do Copom não foi unânime: quatro diretores votaram por uma taxa de redução maior, a que estava sendo usada antes, de 0,50 ponto. A incerteza inerente ao futuro torna as duas possibilidades indistinguíveis do ponto de vista técnico. Em outras palavras, é difícil dizer que uma é certa e a outra, errada.
A diferença que resta entre as duas opções é explicitar que membros do Copom discordam marginalmente do prospecto da economia. Será que o Brasil vai se juntar ao mundo no processo de desaceleração da inflação?
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.